Mais ou menos um ano atrás, Mauricio Azedo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), com amargura indisfarçável, disse que ”o grande inimigo da imprensa hoje é o Poder Judiciário”. Ele estava certo, ao constatarmos o pipocar de intervençoes de juízes e tribunais nas redaçoes dos jornais e, pior dos mundo, na ruminante tentativa de amordaçar até mesmo a blogosfera -, como ocorreu esta semana com a censura imposta ao Quinta Emenda.

Como uma ferramenta de filtragem chinesa, a intervenção de uma juíza proibindo o Quinta Emenda de se manifestar a respeito do Caso Sefer, um deputado que ( a cada dia fica comprovado) abusou sexualmente vários anos de uma menina, a partir dos 9 anos de idade dela, levanta suspeitas de que a medida tenha tido objetivo único de silenciar todos os outros blogs seguidores dos responsáveis por crimes de pedofilia. Tática discricionária de formação de uma grande muralha na Web.

Inaceitável, sob plano da manifestação livre e democrática da imprensa, essa querela do TJE com os jornais de Belém. A coluna não entra no mérito da decisão que a originou, até porque não há nada capaz de justificar, no seio das sociedades democráticas, qualquer gesto de censura ou amordaçamento da imprensa. No embalo que segue, dia mais, dia menos, aparece na redação de jornal um juiz dizendo que vai editá-lo. O precedente, estimulado por coleguinhas, é aterrador, preocupante, capaz de trazer à lume antigas figuras, ainda vivas e remoendo inconformadas no porão de algumas instituições, para defender a prisão de quem se insurge contra os news ditadores.

Custaram vidas e muito sofrimento, ao longo de duas décadas, o restabelecimento das vantagens saudáveis que a democracia oferece com sua imprensa livre. Silenciar diante de determinações despóticas, é abrir a guarda para o passado cair no esquecimento. Fica claro, mais uma vez, que a questão maior, nesse caso, é da interferência do Poder Judiciário, traduzindo o velho desejo de a tudo controlar, como se vivêssemos ainda nos festivos tempos dos generais-presidentes.

Vergonhosa, também, a participação de algumas entidades ditas democráticas patrocinando ações de tamanho atraso. Debitar à qualidade das imagens publicadas nos jornais temor por “agressão à dignidade humana” é, no mínimo, considerar o leitor um agente insensível, sem direito a escolher o que deve ou não comprar pra ver nas páginas dos jornais. Quem deve mediar esse processo é o próprio leitor. Ninguém mais. Só com o avanço de transformações sociais esse processo ganhará novos contornos, independente deste ou aquele juiz considerar o que é certo ou errado. Na verdade, há um toque de nonsense no meio dessa intervenção violenta.