Artigo de Heide Castro, Secretária Adjunta de Educação de Marabá:
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Estado de Carajás e o mito da ilusão
(*) Heide Castro
Dias atrás conversava eu com um colega. Sempre mantemos diálogos produtivos sobre diversos assuntos, diálogos esparsos e confortantes daqueles que se pudéssemos nos tirariam todo o tempo do mundo. Companhia agradável. O ultimo, desencadeou essa impressão.
O seu sotaque denuncia a origem belenense, é de fala mansa, cantante, com chiado, o meu é como uma colha de retalhos, construído da miscigenação de culturas que caracteriza uma região de fronteira como Marabá. Não só algumas diferenças culturais nos afastam, também a diferença de ideias, o que propiciou o enfrentamento salutar.
Vem de uma família importantíssima meu amigo, seus antepassados fizeram história. Um tio participou da comissão que elaborou a nossa constituição de 1988. Sobrenome pesado e de alta patente, dessas que deixam rastros eternos na história, no caso, do Pará e Brasil.
Com esse rastro na participação política de mudança que consolidou o estado democrático de direito no nosso país na década de 80, inspira respeito suas palavras, mas também dilacera o conservadorismo cego que não se cala diante do descontentamento.
Contradições da história, se outrora um parente seu colaborara para o processo democrático, hoje a vontade do povo não foi convertida em realidade por essa democracia.
Sem rodeios: o assunto era a emancipação do Estado de Carajás.
Jamais havíamos entrado nesse mérito, na primeira vez, não haveria de ter empate, levando em consideração as nossas naturalidades. Como a maioria do povo do Parazinho, meu amigo declarou ser contrário à emancipação de novos estados, no Pará.
Argumentou, mas não convenceu.
O seu maior argumento era a de que a “ilusão do Carajás foi vendida para a população do sul e sudeste do Pará”, e que seria uma “loucura” a emancipação, levando em conta o investimento financeiro que seria desprendido para sustentar o novo estado.
Como todo ato de mudança, e porque não dizer revolucionário, há a provocação de custos.
Uns pagam com a própria vida, outros sofrem retaliações, perseguições, a massa continua a pagar alto pelos desmazelos.
Diante de tanto prejuízo, o capital é o que menos importa, já que se trata de qualidade de vida negada. Liberdade que poderia ser propiciada com o desenvolvimento.
Retruco aqui o seu posicionamento, a começar pelo conceito de ilusão. Entendi que ele o utilizou para desmerecer, de forma pejorativa, o nosso movimento.
Recorro à literatura.
Há tantos significados inspiradores para a palavra ilusão. É repetidamente entoada pelos poetas. A literatura nos ensina o quão é encantador o dom de iludir. Iludir é uma arte. É o ganha pão do artista, iludir. Fingir a dor, exagerar a dor, a lá Pessoa.
Acontece que toda pessoa que tem alma de artista sabe muito bem que as palavras saltam do dicionário, correm, fluem, dançam. E nesse balé que dançamos atualmente sob o comando de alguns maestros, a música já não entoa mais.
Para a população de Marabá não é difícil sentir a dor, vivemo-la diariamente.
De tão imersa nesse sofrimento a população viveu por muito tempo sem refleti-la. Hoje percebemos que o pão há muito tempo deixou de sustentar e o circo não diverte mais.
A dor está nas mazelas mal administradas, na ausência de investimentos em serviços básicos em todas as esferas.
Assim como não é difícil uma música romântica tocar o coração de uma alma apaixonada, também não é difícil fazer uma população carente enxergar suas necessidades. E viver, seguindo o conselho de Lispector, ultrapassa qualquer entendimento.
Hoje mais do que nunca quero viver para ver na minha geração a venda de ilusão de Carajás alcançar mais mercadores e se concretizar.
E eu continuarei a ser vendedora de ilusões.
(*) – Secretária Adjunta de Educação de Marabá, formada em Letras.
Vilma Pinheiro
21 de abril de 2013 - 16:11Heide, parabéns! Seu texto claro e também reflexivo, com um adorável recurso a literatura, me fascina e me põe a pensar, o que é possível ou que nós, por motivos diversos, achamos que é impossível. Impossível é deixar de sonhar, de se iludir, de desejar. E se essa emancipação é para alguns algo utópico, ilusório, que seja. Para os que acreditam e lutam por ela, tudo é possível. Como já dizia Samuel Johnson, “Os grandes feitos são conseguidos não pela força, mas pela perseverança.”, e perseverança não falta aos que acreditam e buscam por essa emancipação. Sonhar é preciso, é remédio, alimento da alma. Sonhar já é de certa forma, um caminho andado. Ilusão é pensar que não vai rolar.
AGUINAIR
17 de abril de 2013 - 11:29Parabéns amiga pelo texto…. Participamos desse sonho e acreditamos que se tornará realidade!
CICERO MACEDO
16 de abril de 2013 - 18:26Ilusão, utopia, talvez foi como qualificaram a luta de Lula nas duas primeiras campanhas para chegar à Presidência do país.
Vejo que a nossa ilusão, assim como foi a de Lula, é justa e possível.
Portanto, continuemos iludidos e iludindo, pois um Pará grande forte, só o teremos de fato se tivermos um Pará que dê a luz a novos filhos (os novos estados), somente assim o povo dessa região estará num estado, que mesmo divido geograficamente, será forte e grande, grande não apenas no tamanho, mas na qualidade de vida dos seus filhos…
Alan Santana
16 de abril de 2013 - 14:19O grande problema é, que só temos até agora, vendedores de ilusão, aproveitadores de uma população carente, criadores de engodo. Chegará um dia, onde alguém venderá a realidade, aí sim, esses que se aproveitam só para se elegerem ficarão no esquecimento. Então, nascerá o novo Estado de Carajás!
Jorge Antony F. Siqueira
16 de abril de 2013 - 06:50“Sonhar não custa nada, e o meu sonho é tão real”, já dizia o refrão de um lindo samba. O Estado de Carajás é factível e desejado. Não só um, mas milhares não querem essa realização. Venceremos. É questão de tempo. Aos que dizem ser impossível devemos, simplesmente, desconsiderar sua opinião. Nosso destino está traçado, é irreversível. 16.04.13, Mba.-PA.
Michael Souza
15 de abril de 2013 - 15:32Chefa, as pessoas do nordeste do estado ( nao parazinho ) “pois nosso estado é muito rico e lindo para ser colocado um termo perjorativo desse”, nao tem conhecimento dos problemas que vivemos aqui por isso acabam emitindo opinioes ignorntes ainda fomentadas pela ideia de separaçao. Mas na minha opinião nao e dividindo o estado que nos iremos resolver nossos problemas, acreditoq ue o problema é administrativo temos que colocar no governo do estado alguem que represente o sul e sudeste do pará com açoes concretas não com promessas ilusorias. TEMOS FORÇA E SÓ QUERER