Na madrugada,  o poster acordou  sentindo dores terríveis na parte posterior da perna esquerda. Dores fortes de deixá-lo sem sono até o dia amanhecer, e nenhum tipo de medicamento disponível. Ao levantar-se, o susto maior: estava difícil andar, devido dores aprofundadas em cada movimento das pernas. O jeito foi telefonar para o parente mais próximo em busca de orientação.

                Isso pode ser cãibras nas pernas. Toma um comprimido de Farmoxicam, a cada oito horas.

Dia seguinte, ontem, o quadro agravou-se, evoluindo para um estágio de quase não poder andar.

             – Cuidado! Pode ser o início de um processo de trombose. Afinal, você não carregou nenhum peso, não pisou em falso, e  dor aguda na panturrilha não é bom sinal. Em Marabá, tem um excelente angiologista!,  apavora o restante da família.

Passar a noite de terça  esperando a chegada das 10 horas da manhã desta quarta-feira, horário marcado para a consulta no especialista, foi o período mais assustador e preocupante de uma longa vida vivida ao extremo, sem medir limites de liberdade. Até porque liberdade se tem ou não.

            – E se for trombose? Cortarão a perna? A cerveja no final de semana será proibida definitivamente?

Perguntas pessimistas se avolumaram.

Por volta de 8 horas desta quarta, no exato momento em que circulava na cabeça  o risco iminente de passar a levar uma vida  abstenha, o irmão do post, Gilson, telefona – ainda sem saber da novidade:

            Que tal “começarmos” mais cedo hoje? Afinal, amanhã é feriado, temos o jogo do Brasil contra Portugal…  Mandei fazer um sarapatel bem apimentado…

Antes do mano concluir detalhes do encontro corriqueiro de toda semana, o blogger desligou o celular, soando frio com a possibilidade de retornar do angiologista, antes do final da manhã, com alguma notícia fatal. 

Doía, bem fundo, mais do que a doença na parte posterior da perna, a possibilidade de perder a Kaiser sagrada de toda semana.

Dentro do consultório, e apenas de cueca – a pedido do competente médico Antonio Gabriel -, o blogger passou a ser submetido a bateria de exames, em diversas partes do corpo. Nada escapou: pernas, braços, frente, costas, pressão arterial, ultrasonografia, perguntas sobre incidência em parentes de enfermidades tipo diabetes, derrames, ataques cardíacos..

Caladinho, sentado respirando, o poster era a própria morte. Aguardava apenas o momento em que o caprichoso profissional lhe daria a pior das notícias.

Quando ele concluiu os exames e solicitou ao  gente fina aqui,  vestisse a roupa, uma eternidade  estendeu-se para que o poster retornasse à sala ao lado do vestiário, para ouvir a sentença.  

Propositalmente, era preciso prolongar um pouco mais a hora de ouvir a verdade.

O pré-doente é um covarde. Entrega-se com mais facilidade do que alguém terminal. Mas o  diabo era imaginar ficar apenas com uma perna.

            – E aí, doutor? Algo grave?

 Olhando ainda para um papel no qual ele fazia extensa anotação (ao ver ali manuscritos com mais de quinze tópicos, o suor escorria mais ainda), o médico pigarreou, olhando nos olhos:

          Veja bem, a sua pressão arterial é de menino, doze por oito..

   (Mas isso eu já sabia, nenhuma novidade. Sempre tive a pressão estável nesses valores!)

         Sei…

         Como você leva uma vida sedentária, sem fazer qualquer exercício físico, colado o dia inteiro no computador..

  ( Me refestelei por inteiro, esperando a conclusão da frase)

         – … pode-se dizer que dos males, o menor!

         Como assim, doutor?!

         Na verdade, você foi acometido de uma doença, não digo uma doença, mas uma ocorrência denominada “Síndrome da Pedrada”, que vem a ser decorrente de alguma lesão muscular. É descrita como Síndrome da Pedrada devido ao fato da dor assemelhar-se a uma “pedrada” na panturrilha.

Prezadíssimos: nem bem o médico começou a falar em síndrome da pedrada, o blogger não se conteve, caindo em risos incontroláveis. Jamais imaginaria receber uma pedrada  na batata da perna, dormindo. Em verdade, a melhor das pedradas diante do pior que se esperava.

   O tratamento é simples: usar compressas e repousar.

Sentindo-se agora como se estivesse com três pernas, ficou combinado com o mano Gilson, num telefonema feito a pouco, que começaremos às 17 horas.