Mulheres, também somos Psiquê

 

(*) – Lívia Rodrigues Mesquita

 

 

“O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios. O heroísmo enobrece e o martírio purifica” (Victor Hugo)

 

 

Penetrar o universo feminino é descortinar os incontáveis registros de beleza, ciúmes, paixão, entrega, conquistas e puro amor, ao longo de tempos imemoráveis.

Não somos tão só o que pensamos, somos, principalmente, o que sentimos; não agimos à espera de aprovação ou aplausos. Atuamos pela tomada das rédeas da nossa própria existência para que não tenhamos nosso valor subjugado, nem projetado em outra figura que não seja nós mesmas. Falar do ser mulher é distanciar a verdade da conceituação das palavras e personifica-la através de suas experiências individuais e sociais.

Contos míticos, embora sejam inverídicos, retratam a condição humana da mulher de forma indelével, trazendo conteúdos que os mantêm vivos. Seja fantasia, seja fruto da imaginação ou resultado de experiências, ainda assim, é real e verdadeiro.

A mitologia grega denota a jovem Psiquê como vítima desse mosaico de sentimentos, pois, por mergulhar em uma juventude com beleza ofuscante e incalculável, é condenada à morte pela deusa Afrodite, que não hesitou seu sentimento de inveja. Falo aqui de uma lenda de milhares de séculos,  quando, não devendo ser diferente do século que vivemos, o amor busca vencer a tudo.

Eros, embora filho de Afrodite, é o deus do amor, e, não mais resistente aos encantos daquela que deveria desposar a morte apenas por ser bela, apaixonou-se, reservando para Psiquê, a vida e o amor ao seu lado. Porém, o destino dessa jovem ingênua já lhe havia traçado dias de martírios ao lado de um companheiro imaturo e incompreensivo e sempre sob a influência ríspida de sua mãe. Então, Psiquê se atira numa intensa e evolutiva busca de resgate pessoal e autoconfiança.

Sim, o choque dessas duas personalidades intrínsecas é inevitável: um verdadeiro duelo diário. Todas temos um pouco de Afrodite, quando não nivelamos nosso ciúme, nem hesitamos nossa vaidade, ou quando surpreendemos todo o nosso meio com nosso jeito irresistível e quase imperante, bem como, quando cedemos à tirania por considerar implacável que nos contrarie.

Também somos Psiquê, ora identificadas pelo ingênuo medo do desconhecido, pela suavidade e pelos devaneios que nunca se dissiparão, ora pela jornada na busca da verdadeira imortalidade, digna apenas dos mortais e não mais das deusas mitológicas, que acontece quando somos obrigadas a amadurecer e a reconhecer a legítima importância da dignidade pessoal e do amadurecimento para a vida, momento o qual, não mais autorizamos os outros a determinar o quanto valemos.

Muitas de nós insistem em transferir a parte que lhes falta para a figura de seu companheiro, partilhando inconscientemente de relações afetivas e sociais reguladas pela hegemonia masculina. Contudo, por sorte, a evolução é previsível e gradativa, e, com a mesma naturalidade que o dia faz dissipar a noite, é certo de que cada mulher encontra o melhor momento para exaltar o valor do autoconhecimento, e, através dele nasce o desejo de integração em ser inteira, sem projetações. E aqui, lança-se a mulher na busca da tão suspirada felicidade, quando, na verdade, encontrar habilidade em identificar como e onde agem suas imperfeições, e, a quem podem presentear suas emoções será o verdadeiro guia para apontar ou conduzir o caminho para a auto realização pessoal.

 

(*) – Lívia Rodrigues Mesquita, é bacharél em Direito