Raimundo 2O deputado estadual João Chamon (PMDB) tomou uma atitude de digno representantes dos marabaenses.

Em plenário, o parlamentar apresentou Decreto Legislativo para a concessão do título honorífico de “Honra ao Mérito Post-Morten” a Raymundo Rosa.

Justa homenagem a uma personalidade que se preocupava com a exclusão social, combateu a ditadura e, por estes motivos, foi perseguido pelas forças do regime militar.

Declaradamente comunista, Raymundo Rosa jamais vergou as costas como forma de desistência.

Combateu o bom  combate até o fim de sua vida, em 1990.

Raimundo Rosa é pai da vereadora Júlia Rosa e do empresário Carlos Rosa.

Eu  o conheci de dentro de sua casa, ao lado de sua querida esposa, “mãezinha” Afif, como carinhosamente a chamava, convivendo com Carlos, Júlia, Zezé, Rui e demais familiares

Raimundo Rosa estava à frente de seu tempo.

Anos-luz adiantando.

Era praticamente a única voz tupiniquim que combatia de forma explícita a truculência dos coronéis da província e dos generais de Planalto.

Nunca esqueço de uma conversa que tive com ele, em Belém, à porta da casa de meus avós, na Generalíssimo Deodoro, quando ele me flagrou lendo O Capital, de Karl Marx.

Rosa foi fazer uma visita ao meu avô Tufy, que se encontrava doente.

Ao sair, ele sentou-se ao meu lado, num  sofá de balanço que ficava na entrada da garagem de casa.

Ficou olhando para a capa do livro aberto, e depois começou indagações.

Nunca esqueço de uma frase dele:

É a primeira vez que vejo um marabaense lendo Marx. Ainda bem que você não é mais aquele “boyzinho” que conheci farreando com o Carlos (filho dele). Leia quantas vezes puder esse livro e leia muito outros que tem preocupações com os mais pobres. Defenda uma ideologia e se posicione sempre ao lado dos mais fracos. A indiferença é confortável, mas paga-se um preço muito alto por ela.

Não tenho dúvidas: hoje,  eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude (como na canção de Belchior), foi Raimundo Rosa, com essas simples palavras.

A frase “a indiferença é confortável, mas paga-se um preço muito alto por ela”, dita por ele nem sei qual ano, ainda segue firme em minha cabeça.

E no coração.

O blog agradece, comovido, a iniciativa de Chamon.

A seguir,  release da assessoria do parlamentar narrando o discurso dele na AL.

 

 

RaimundoOs erros cometidos durante a ditadura militar estão sendo corrigidos em várias esferas do poder público em todo o Brasil. Em marabá, no início do mês de maio, a Câmara Municipal realizou uma cerimônia para devolução de forma simbólica de alguns mandatos, entre eles o do ex-vereador Raymundo Cardoso Rosa, eleito em 1963 e deposto do cargo pelos generais da ditadura militar em 13 de junho de 1964. Nesta terça-feira, 12, o deputado estadual João Chamon, apresentou na Assembleia Legislativa do Estado do Pará, um Decreto Legislativo para a concessão do título honorífico de “Honra ao Mérito Post-Morten” a Raymundo Rosa, como forma de reconhecendo os relevantes serviços prestados em vida ao Estado do Pará.

Raymundo Rosa era jornalista, poeta e escritor. Natural do Maranhão, chegou em Marabá em 1964, casou-se e teve cinco filhos. Rosa foi perseguido por comungar de ideias inovadoras para melhoria do País. “Ele foi humilhado, perseguido, preso, privado da presença de seus familiares e, depois, perdeu o mandato parlamentar que havia sido dado pelo povo” lembrou o deputado João Chamon sobrinho de Raymundo. Como jornalista e escritor, Rosa era muito próximo de Benedicto Monteiro, que na época era deputado estadual paraense. Com o movimento militar de 31 de março de 1964, ambos começaram a ser perseguidos pelo Regime e acabaram presos na mesma semana.

Após à cassação de seu mandato por dez anos, Raymundo Rosa nunca mais voltou à política. Faleceu em 6 de abril de 1990, um dia depois de promulgada a Lei Orgânica do município de Marabá. De acordo com registros jornalísticos da época, como os dados do Jornal O Liberal e da Folha do Norte, de abril 1964, cerca de 300 pessoas foram presas no Pará por comungar das ideais do Partido Comunista Brasileiro, o PC do B.

Outro registro importante, datado de 19 de abril de 1964, o Jornal Folha do Norte publicou um texto com o seguinte título: “Vereadores de Marabá são comunistas fichados no DOPS”. Da lista, constavam Augusto Bastos Morbach, Walter Sampaio, Raul Amorim, Honório Pereira de Moraes, João Sá e Souza, Alcides Gomes, Luiz Gonzaga de Freitas e o próprio Raymundo Rosa.

O Jornal O Liberal na mesmo período, ainda estampou na primeira página a manchete: “Agitador Comunista preso em Marabá: outros sendo procurados”. No texto, outras palavras duras classificaram o vereador Raymundo, “contra o qual e suas atividades, existem certidões comprovadoras que atestam sua criminosa ligação com líderes comunistas”.

Entre as obras de Raymundo Rosa, destaca-se o poema “Poentes de Fogo”, que foi lido por João Chamon, na planária da Alepa. Em seguida Chamon fez questão de destacar “Não resta a menor dúvida acerca dos relevantes serviços prestados em vida por Raymundo Rosa. Sua trajetória pessoal é motivo de orgulho a toda população marabaense, servindo de modelo de honra e luta pelo progresso social de todas as gerações” finalizou o parlamentar. O projeto ainda será apreciado em plenário pelos demais deputados estaduais, antes de ser aprovado.

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Nota do blog:  o grifo no texto é do poster, para vocês atentarem à forma como o jornal O Liberal, no frescor de atacar opositores ao regime militar, se referia a Raymundo Rosa.

Amanhã, voltarei a abordar essa questão.

Fotos de arquivo ilustram dois momentos da vida de Raymundo Rosa.