Acompanhando a sessão da Câmara Municipal de Canaã dos Carajás, à tarde dessa segunda-feira, 26, a correspondente do blog Maria Julinha de Adelaide,  comenta:

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A sessão da Câmara Municipal nessa segunda-feira, 26, teve os ânimos acirrados.

Primeiro, quem se defendeu das acusações deferidas por dois vereadores foi o secretário de obras do município. Na sessão anterior, o mesmo havia sido taxado de incompetente pelo  vereador João Nunes.

O secretário não deixou por menos, ao ter o direito de resposta garantido na sessão de ontem.

Disse que sua secretaria não consegue governar por que é limitado pelo prefeito e muitas vezes não tem como fazer o que lhe é solicitado. Reconheceu ainda trabalhar num órgão que não tem maquinários.

Dirigindo-se a João Nunes, o secretário sustentou:  “se fosse para pedir dispensa da função, que o vereador João Nunes também faça o mesmo,  já que ele  também não faz muita coisa.

Entre reclamações de servidores da saúde que tiveram seus pagamentos pagos pela metade, havia também no plenário  manifestação de  pessoas reivindicando o direito de moradia.

O  líder do movimento dos Sem-Teto emocionou a todos ao fazer apelo para que a Câmara de Vereadores, Prefeitura e o próprio Judiciário de Canaã  apoiassem a causa, solicitando prioridade para a instituição de um projeto de moradia para o município. Apelou ainda para os vereadores não permitirem que os sem-teto, atualmente ocupando uma área litigiosa, fossem despejados, por determinação do juiz Lauro Fontes, cujo prazo termina dia 28 de março,

Numa cena patética, o orador levou muita gente às lágrimas ao se ajoelhar diante da mesa diretora pedindo misericórdia em favor de todos os familiares ameaçados de despejo.

Essa cena  quase ilusória, mas que simboliza com exatidão  a dura realidade da terra prometida pra corrupção, não acabou nas orações do manifestante.

Ainda durante a sessão, o presidente da Câmara, Walter Diniz (PMDB) apresentou dois projetos de Lei, de sua autoria, confeccionados enquanto o mesmo ocupou pelo prazo de duas horas o cargo de prefeito.

Amparado numa brecha no art. 78 da Lei Orgânica do município, onde consta que se o prefeito em exercício se ausentar por um determinado tempo dos limites do município o presidente da Câmara assume a prefeitura, Walter propôs a aprovação da matéria.

Ou seja, enquanto esteve prefeito por duas horas, o presidente da Casa produziu ainda o projeto de Lei 001/2012 que dispõe sobre a revogação da Lei 225/2009, criando o Instituto de Desenvolvimento Urbano-Idurb; e o Projeto de Lei que 02/2012 que dispõe a revogação da Lei 089,  criando o Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto-Saae.

Todos os projetos foram aprovados em unanimidade pelos nove vereadores, sem qualquer discussão.

O que os integrantes da Casa não sabem é que a redação do requerimento está incorreta, podendo um bom advogado derrubar os projetos por falta de clareza, além de ter sido feitos na surdina sem nenhuma participação popular, sem sequer  audiência pública ou consulta à sociedade.

Durante as duas  horas em que ocupou a prefeitura, o presidente da Câmara Walter Diniz,  protocolou também uma proposta de resolução que dispõe sobre o aumento dos salários dos servidores da Câmara Municipal.

O mais intrigante é que Walter, nas duas horas de “reinado”, não tomou uma providência a favor da população de Canaã dos Carajás.

Na questão de falta de moradia, o município possui três áreas públicas invadidas por famílias sem casa própria, e Walter Diniz não se preocupou em usar às duas horas disponíveis na cadeira de prefeito para encaminhar à Câmara projeto de doação de área aos sem-teto. Ele poderia ter agido nesse sentido já que teria o aval de uma boa parcela da população.

Preferiu atuar a seu favor e a favor de seus pares, extinguindo duas autarquias.

Da tribuna, várias críticas foram direcionadas ao atual prefeito, que se encontra no cargo pouco mais de mês.

Só que em três anos, o prefeito cassado  Anuar Alves jamais foi criticado pela Câmara.

Da tribuna, quase todos os parlamentares falaram, menos a vereadora Tatiane Gaspar, citada neste blog por mim como a  vergonha da classe feminina. A voz da moça foi ouvida apenas quando a mesma  assumiu a presidência da sessão, por alguns minutos.

Outra figura folclórica da Câmara, o vereador Omilton criticou a operação tapa buracos da prefeitura, dizendo que ao passar com sua camionete Triton pelos buracos “tem que tirar as pedras colocadas para sustentação do solo pela empresa executante da obra, que está sendo realizada sem licitação”.

Corre a boca pequena na cidade que o contrato da obra de tapa buracos foi assinado com um pré-candidato, a portas fechadas, em reunião no gabinete, sem licitação, ou seja da mesma forma que o ex-gestor fazia.

Na sessão, ainda foi eleita uma comissão para providenciar a cassação do prefeito em exercício Itamar Francisco. A acusação foi tramada pela própria câmara, alegando que o prefeito atual, enquanto ainda era vice, ausentou-se do município, recebendo salário de vice.

O intrigante é que por muito mais a Câmara nunca cassou  Anuar.

Em Canaã é assim:  palco de desmandos, roubalheiras.

Itamar Francisco, agora prefeito, é  como trocar seis por meia dúzia.

A esperança no novo gestor depositada pela população, foi pelo ralo.

E o esgoto vai subir, se Walter Diniz assumir.

O secretário de Gestão e Planejamento de Canaã dos Carajás, Jurandir Ferreira, que se encontrava foragido acusado de estupro, exonerado na sexta, já foi readmitido no cargo.

O retorno dele à secretaria ocorreu nessa segunda-feira.

Enquanto a classe política dilapida o município, a sociedade, passiva – como sempre! (Maria Julinha de Adelaide)