Bastava cair chuva de volume um pouco mais intenso para a avó materna do poster sair à procura de alguma lata vazia, no quintal de nossa casa. Era infalível: ela sempre largava suas prendas domésticas para buscar a vasilha.

Com cerca de oito anos de idade, via aquele gesto como algo enigmático, misteriosamente intrigante.

Bastava cair chuva de volume um pouco mais intenso, o poster também largava todo tipo de brincadeira que eventualmente o ocupava para ir até a cozinha constatar se vovó “Tunica” havia descido a escada que ligava a casa ao quintal, em busca do vasilhame -, que ela colocava-o sempre numa posição a aparar a água descendo de uma bica sobre o telhado da casa.

Logo em seguida, o barulho da chuva misturava-se ao som gostoso de água caindo em bacia.

Num dia de chuva qualquer, ao acompanhar um daqueles rituais que ela sempre fazia, molhando vestimentas e cabelos escuros de mestiça descendente de índia, o blogger perguntou-lhe a razão daquilo:

Chuva sem barulho de chuva não é chuva, meu filho -, respondeu, misteriosa.

Na noite se terça-feira, chovia forte em Marabá. Vindo do quintal de casa, o poster ouviu o som de águas caindo numa vasilha. Ouviu e viu, nitidamente, numa rebuscada de memória, a imagem de vovó procurando a sua lata preferida.

Ela tinha razão:

Chuva sem barulho de chuva não é chuva.