Marabá, Curionópolis, Parauapebas, Canaã do Carajás e Ourilândia do Norte são municípios impactados diretamente por projetos grandiosos da mineradora Vale, tanto  nas etapas de implantação quanto na de operação.

Essa última fase, diga-se, a mais complicada.

Um dos problemas mais graves provocado pela intervenção minerária da multinacional,  de cara, é a indução migratória pela expectativa de empregabilidade, alterando o cotidiano das populações.

Quem percorre aqueles  municípios percebe a pressão sobre a estrutura e infraestrutura urbana.

Na semana que antecede comemorações alusivas aos aniversários de fundação daquelas cidades minerárias, o blogueiro fez um mergulho em algumas delas, discutindo com suas populações o tipo de vida que levam nos dias de hoje.

Curionópolis, nos últimos dois anos, vem experimentando efeitos danosos das expectativas de “oportunidades” criadas em seu entorno, fazendo com que muitas pessoas de diversas regiões do país para a cidade fossem em busca de emprego.

Hoje, o que menos existe no município são vagas de trabalho disponibilizadas.

Às margens da PA-275, rodovia que corta a área urbana do município, o canteiro central com suas árvores de copas sombreiras é ponto de convergência para o bate-papo de moradores da cidade.

Em cada esquina, de ambos lados da pista, a salutar conversa do dia é uma das marcas de Curionópolis.

Temas que vão da política local e nacional à pauta principal, entre os conversadores: a falta de oportunidades, geradora do desemprego.

-“A Vale deveria ajudar mais o povo de Curionópolis, arranjando emprego, mas ficam só levando nosso minério, explorando nossas riquezas“, detona Raimundo Chagas Filho, natural de Barra do Corda (MA), em meio a uma acalorada discussão com mais cinco amigos, no bate-papo presenciado pelo blogueiro.

Em mais cinco pontos de conversas de vizinhos em esquinas da cidade, o blog ouviu a mesma toada: o desemprego  em Curionópolis atormentando a vida de famílias.

Dona Joana, Guilhermina e Ester (foto abaixo) desfiam boas risadas, trocando prosas, sentada à calçada.

Alegremente, as três convidam o repórter a “tomar assento”, nas palavras de Guilhermina, enquanto esta sorve um cafezinho quente feito naquele momento.

Indagadas sobre o desempenho gerencial do prefeito municipal, as simpáticas donas de casa respondem na bucha:

– “Ele passou o primeiro ano pagando contas que o Chamonzinho (Wenderson Chamon, ex-prefeito) deixou. Acho que agora ele vai começar a mostrar serviço”, explica dona Joana.

 

“A cidade estava suja, ruas com muito lixo, quando o Adoney assumiu a prefeitura. Veja agora como está a cidade, limpinha….”,  aponta para a extensão da rua, a risonha Guilhermina.

 

“O prefeito está sempre andando na cidade, já esteve duas vezes na escola que minha filha dá aula. Ele está preocupado com o futuro de Curionópolis”, complementa Ester

 

As três amigas concordam numa demanda que sonham ver resolvida ainda este ano: a distribuição gratuita de uniformes escolares para a rede pública municipal de ensino.

“As fardas escolares, queremos muito que o atual prefeito entregue para nossos filhos e netos. Isso é um pedido de muitos anos das mães de crianças aqui de Curionópolis”, emenda Guilhermina.

 

Mais adiante, também à porta da casa de Maria do Livramento –  ela, sua filha Jeovina  Espírito Santo do Livramento, e a neta de cinco anos, Ana Beatriz, acabam de “agasalhar” as cadeiras na calçada, como diz Jeovina, para iniciar a troca de prosas com a vizinha Odete, prestar a chegar.

O blogueiro pergunta se elas podem falar um pouco sobre a cidade, ouvindo de pronto o consentimento de que somos “bem vindos”.

Faladeira, Maria vai logo contando seu sonho de “ver meu outro filho empregado” – um rapaz de 20 anos,  desempregado há dois ano.

O desemprego, de novo, na pauta das demandas da cidade.

Jeovina diz que estava trabalhando na cozinha de uma fazenda próximo a cidade, “mas  fui mandada embora porque a patroa foi embora pra Goiânia”.

E cita uma infinidade de outras amigas e seus esposos, perambulando na tentativa de encontrar “serviço”

Mas o desemprego não tira o bom humor daquela gente hospitaleira.

Há sempre um causo interessante a contar, bem como críticas furiosas à classe política.

De novo, o termômetro é colocado à prova para saber a quantos anda a popularidade do prefeito  do município Adoney Aguiar.

– E o prefeito daqui, está fazendo alguma coisa?, o blogueiro pergunta, de chofre.

– “Ele só não faz mais porque é perseguido“, responde, também  ´na lata´, Jeovina.

E explica a “perseguição”  como sendo do grupo político que faz oposição ao prefeito, e de setores da justiça local.

Maria do Livramento e Jeovina, com a filha no colo.

O que encanta e desafia é o estar por fazer e a paisagem humana do povo de Curionópolis, uma gente humilde, que poderia ser descrita tal qual a canção de Garoto e Vinicius de Moraes, “com casas simples e cadeiras na calçada”.

Em todos os lugares por onde o blog parou para ouvir pessoas, a xícara de cafezinho, “feito na hora”,  foi oferecida.

Para quem conheceu Curionópolis no tempo louco da garimpagem, percorrer hoje a cidade  é sentir-se atraído pela calmaria e o silêncio de suas ruas, apenas cortado por gorjeios de bem-te-vis em mangueiras frondosas espraiadas em quintais.

A cidade está limpa, não se vê lixo exposto nas ruas.

As mudas de flores plantadas em ilhas de pequenos jardins na Pa-275, bem cuidadas.

Num posto de gasolina às margens da PA-275, pessoas tomam cerveja animadamente, na lanchonete anexa, jogando fora conversas centrada no desemprego.

No meio de discussões, a mineradora Vale aparece como polo catalisador de insatisfações.

– “A Vale só emprega gente de fora, as pessoas de Curionópolis não têm vez“, engata um jovem de aproximadamente 25 anos.

Na chamada “Rua do Comércio”, a tarde de sexta-feira, 27,  transcorre modorrenta.

Passa das 15 horas, o movimento de consumidores entrando e saindo de lojas é devagar, quase parando.

Num pequeno supermercado, o blogueiro ouve o dono reclamando da “crise”.

– “Essa crise econômica é por causa da corrupção desses políticos que dirigem o Brasil. Até o presidente da República é investigado porque pegou dinheiro de corrupção, mas nada acontece com ele, enquanto o povo fica aqui sofrendo, pagando contas e obrigações sem poder”, reage, enfezado.

Do mesmo comerciante, o registro de que a situação do comércio de Curionópolis só não é mais grave, “porque a prefeitura paga o salário dos funcionários em dia, bem como os fornecedores. É o dinheiro da prefeitura circulando quem está salvando o comércio”, sustenta o revoltado cidadão, pedindo reservas da sua identidade.

Coincidentemente, nesse dia, 27, a prefeitura efetuava o pagamento do salário de abril dos servidores.

– “Amanhã, as ruas estarão movimentadas, o comercio começará a faturar, graças ao salário dos funcionários públicos que é pago em dia. Se não fosse isso…“, comenta o comerciante, animado.

Uma ligação de celular alcança o chefe de gabinete da prefeitura, Rogério Serelli  Macêdo, que não cria dificuldades para marcar um encontro do repórter com o prefeito Adonei Aguiar (foto ao lado).

“Já passa das 16 horas, mas se você vier aqui à prefeitura, nem que seja à noite, o prefeito lhe recebe”, garante.

Passava das 19 horas quando o blogueiro adentrou o gabinete do prefeito, reunido até aquele horário com secretários.

Algumas perguntas lhe são feitas, pautadas pelas conversas que o blog teve com moradores.

A reivindicação antiga de uniformizar os alunos da rede de Ensino Fundamental, será atendida nos próximos dias.

– “Vamos entregar uniforme escolar para toda a rede pública municipal. Pela primeira vez, todos os alunos da cidade receberão uniforme escolar tradicional e de Educação Física, gratuitamente. Esse é um tipo de investimento justo já que  a rede pública de ensino é ocupada por filhos de famílias pobres. Estamos atendendo a um direito de nossos moradores“.

Adonei Aguiar também fala da falta de perspectiva dos jovens de Curionópolis, abatidos profissionalmente pela falta de emprego no município.

-“Quem tem responsabilidade com o futuro de nossa cidade se preocupa com esse desânimo de nossa juventude relatado por você. Quando o jovem não encontra oportunidades no local onde mora, pra ele só resta duas opções: enveredar pelo caminho da marginalidade ou mudar de cidade, buscando novos ares. Ver nossos jovens deixando o município, é mais desanimador ainda. Qual o futuro de um lugar sem seus filhos ajudando a construí-lo? Essa questão da inexistência de vagas de trabalho assola cada lar de Curionópolis, e a solução para esse problema não surgirá de uma hora pra outra. A prefeitura não tem como empregar todo mundo, isso é impossível. A solução só virá com a aplicação de políticas públicas estimuladoras de investimentos privados que incluam a população“.

Na avaliação do prefeito, a questão do desemprego em Curionópolis só será amenizada com o advento de ações que envolvam o setor privado e o poder público.

-“Nós, como representantes da comunidade, temos de induzir o capital privado a fazer intervenções pontuais no município, investindo em  atividades geradoras de renda. Mas isso demanda tempo para maturar, e dedicação quase que plena para a prefeitura estimular empreendedores. Acho que Curionópolis poderia apostar na  valorização da agroindústria familiar,  incentivando a família rural a sair do anonimato através da organização em associações e cooperativas, viabilizando sua qualificação e agregando valor  na transformação de produtos e no processamento de matérias-primas provenientes do plantio,  promovendo dessa forma maior integração do meio rural com a economia de mercado“, expõe.

 

O prefeito conta que sua maior preocupação, no momento, é conseguir dar um rumo de segurança básica à economia do município, para que a comunidade tenha mais oportunidades e os empregos não dependam apenas da boa vontade da mineradora Vale.

– “Os projetos da Vale, aqui na região, um dia estarão exauridos, já que a exploração de minério não se renova, e depois disso? Até lá, a mineradora deveria ter um olhar mais cuidadoso com nossas questões sociais, ajudar a reduzir as desigualdades, mas isso é conversa demorada, precisa de sensibilização e construção de relação amistosa e confiável”, revela o prefeito.

Durante conversa de quase duas horas, Adonei Aguiar enumerou ideias de programas que poderiam ser induzidos com outros parceiros,   sempre de olho na geração de emprego e renda, e o que vem fazendo para “recuperar o tempo perdido” em seu primeiro ano de governo.

– “Quando assumi, em 2017, a prefeitura de Curionópolis tinha dezenas de restrições em órgãos de cadastro de inadimplentes como o Cadim, Receita Federal, Caixa Econômica, entre alguns. Isso foi um obstáculo muito grande para a gente conseguir viabilizar o curso financeiro-econômico da prefeitura. Somente agora, um ano e quatro meses depois, estamos colocando a casa em ordem. A partir deste momento, já conseguimos tocar algumas obras”, descreve o prefeito.

No mês de comemorações dos 30 anos de Curionópolis ( dia 10 de maio, data de fundação do município), a prefeitura tem um pacote de obras para anunciar, além de já estar trabalhando em outras – como a repaginação da Praça da Juventude, para ser entregue dia 10 de maio (foto acima).

Durante os próximos dois dias, o blog continuará  publicando informações sobre o que planeja a prefeitura,para amenizar a falta de oferta de trabalho, a relação do município com a Vale e o que está sendo executado nas zonas urbana e rural, visando melhorar as condições de vida da comunidade.