Novamente a Justiça tenta calar a blogosfera.

Outra vez, no Pará.

A vítima agora é o blog A Perereca da Vizinha, assinado pela jornalista Ana Célia Pinheiro.

A Justiça paraense está conseguindo superar-se, envergonhando nosso Estado com o que há de mais deprimente nas relações de sociedades civilizadas: cassar o direito à informação e ao contraditório.

Começou quando  Juvencio Arruda, em seu memorável Quinta Emenda, foi proibido de citar em seus posts o nome do pedófilo Luiz Seffer,  deputado estadual à época -, e que viveu alguns anos  abusando sexualmente de uma garota de 11 anos.

Juva, preservando a elegância de seus textos, registrou a censura dessa forma:

 

13.4.09

Juíza Ordena Retirada de Posts

Cumprindo liminar deferida pela juíza da 3ª Vara Cível da capital, dra. Teresinha Moura, em ação movida por Elias Sefer e outros, o blog informa aos seus leitores que retirou dos arquivos alguns posts referentes ao caso Sefer.
O poster vai levar a papelada aos seus advogados.
Até mais tarde.

Postado por Juvencio de Arruda às 15:22

 

Em detrimento da informação responsável que caracterizava o trabalho de Juvencio, a  Justiça, com aquele ato, preservou o criminoso, o então deputado estadual bandido  que,  poucos meses à frente,  seria condenado a 21 anos de prisão pelo crime cometido contra a inocência de uma garota ainda na fase da puberdade.

Depois a moda pegou.

A  juíza Betânia de Figueiredo Pessoa Batista, da 20ª Zona Eleitoral de Santarém, proibiu o  jornalista Jeso Carneiro de comparar em seu blog a administração do ex-prefeito da cidade, Lira Maia (DEM), à atual prefeita Maria do Carmo (PT).

O autoritarismo da Justiça paraense chegou também ao blog da Franssinete Florenzano, quando a Coligação que elegeu Simão Jatene governador obteve liminar, determinando que a jornalista apagasse post   do blog dela no qual havia comentário de sondagem de pesquisa interna do PT.

Invadiram também o blog do Barata, mais precisamente a juíza da 2ª Vara do Juizado Especial Civil, proibindo-o de mencionar o nome de Lena Conceição Ribeiro, pessoa da extrema ligação  do secretário de Educação do Estado, Nilson Pinto.

O jornalista Lúcio Flávio Pinto, em seu Jornal Pessoal, também foi censurado pelo juiz da 4ª Vara Federal de Belém, Antônio Carlo Almeida Campelo,  proibido  de divulgar informações relativas a processo no qual dois dos proprietários das Organizações Rômulo Maiorana (ORM), Rômulo Júnior e Ronaldo Maiorana, são denunciados pelo Ministério Público Federal por fraudes contra a Sudam.

Agora é a vez da Ana Célia.

A ignorância e os altíssimos interesses em jogo, no entanto, impedem a corriola  de compreender algo  verdadeiramente fantástico, embora o direito à informação venha sendo com certa freqüência  bombardeado pelos juízes de plantão no Estado do Pará: ninguém, ninguém mesmo, cala a blogosfera.

Se um juiz, ou juíza,  apresenta-se de prontidão para cercear a liberdade de expressão no blog mais próximo, o barato já está na Rede, ninguém o mais segura.

Feito a canção do Paulo César Pinheiro: – “você rasga um verso, eu escrevo outro; você me prende vivo, eu escapo morto…”

O compartilhamento das notícias da blogosfera se multiplica, como espermatozóides, aos milhões, seguindo sempre em direção ao ponto onde a luz disponibiliza ar para respiração definitiva da vida.

Obrigada por  decisão  de uma juíza   (dragraçadamente o sexo feminino é quem mais se disponibiliza ao ignóbil trabalho de  sufocar a informação: maioria das decisões nesse sentido, pelo menos no Pará, traz  a assinatura de uma juíza!),  Ana Célia tirou do blog  o post  que trata do aluguel, pelo Governo do Estado, de uma  casa do desembargador e conselheiro do CNJ, Milton Nobre.

Matéria real, consubstanciada com fotos e documentos.

Pois bem, de nada adianta esse esforço ignominioso de nossos soberanos togados para tentar impedir Ana, ou qualquer outro blog, divulgar o que já foi divulgado.

A coisa  está na Rede, meninos!

Na Rede!!!

E assim ficará,   com links e mais links,    juntando-se infinitamente,  numa  deliciosa viagem de informação sem amarras.

O poster se posiciona duramente contra este ato de censura, por entendê-lo  procedimento o que há de mais execrável num país que respira liberdade e tem, no bojo de sua Constituição,   salvaguardas democráticas .

Quando  membros do Judiciário agem de forma truculenta, na base do “faz quem pode”, decididamente, há  litigância de má fé, intolerância e, pior dos mundos, censura judicial.

——————-

Atualização às 20:18

Up-, to-date, Ana Célia já postou sua resposta à  Danielle Cássia Silveira, juíza substituta da 1a Vara do Juizado Especial Cível, autora da truculenta cencura ao blog Perereca da Vizinha.

Alguns parágrafos do torpedo da jornalista:

(…) A senhora abusa do seu poder, douta magistrada. A senhora abusa da confiança que lhe foi depositada pela sociedade paraense.
E tenha certeza de uma coisa: vou levar ao conhecimento do CNJ, do órgão de controle da Magistratura, o seu comportamento.
E não só o seu comportamento, não: vou levar ao CNJ a IMORALIDADE, a PROMISCUIDADE, que a senhora, apesar de paga com o dinheiro dos cidadãos, tenta evitar que a sociedade tome conhecimento.
Vou ao Supremo, douta magistrada, se preciso for, para defender a Constituição que eu amo e que a senhora, vergonhosamente, pisoteia.”
Sugiro aos visitantes que deem uma esticadinha até o blog da Ana Célia Pinheiro.
Primeiro, para ler o texto impecável da jornalista. Depois, claro, solidarizar-se com ela, deixando comentário de repúdio ao ato de atrocidade praticado pela juíza.