Vila Palmares, município de Moju. São 15h40, dessa terça-feira, 23.

O sol ainda arde amenizado pelo vento forte soprando sentido Tailândia.

De longe dá para ver, no céu, o tempo escurecendo sobre os arredores de Moju. Nesse  horário, é corriqueiro a chuva desmanchar-se naquela região, talvez para regar as plantações de coco e palmas. Ou os açaizeiros ainda restante, que servem de alimento para a maioria da população.

O poster pára numa baiúca para tomar cafezinho.

Apenas o dono do negócio e um rapaz de mais ou menos 17 anos povoam a casinha de madeira coberta com zinco.

O dono do quiosque aparenta 50 anos, e tem cara de sono. E de pouca conversa.

O rapazola, sentado numa cadeira fornida com coro de jacaré,  toma cachaça pura. Vestido de calça jeans, camisa azul de meia e uma sandália havaiana, o olhar dele se perde na extensão da PA-150. Ao levantar  os braços levando  o copo à boca, aparece em sua cintura o cabo de um revólver. Não dá para identificar o calibre.

Mas, para o blogger, todo revólver é de calibre grosso. Todos vomitam balas.

Nosso caubói pede mais uma dose de 51.

Desconfiado, e temeroso da imagem um tanto quanto agressiva, termino de tomar uma  coca-cola (não havia cafezinho), pedindo a conta.

 

                   Padim,  tu ta indo pra onde nesse embalo?, pergunta, o caninha.

 

                     Aqui para o km 65 (trevo que dá acesso a Tomé-Açu, 15 km adiante).  É a resposta,  para evitar negar alguma carona rumo a Belém ou Moju.

 

                Pois to indo pra lá, mérmão. Pode dar carona?

O caubói estava armando, a experiência garantia ao blogger.

Ao olhar para o dono da baiúca, recebendo o troco do refrigente, ele faz um discreto sinal negativo com a cabeça, com olhar preocupado. Imaginava a próxima resposta a dar para o rapaz alcoolizado,  tudo numa questão de segundos.

É aí que aparece um rapaz numa moto, buzinando de longe.

               C…, onde tu andava firula?, grita da moto ainda em aproximação.

 

               Aqui esperando. E já ta passando da hora. A parada não espera; a parada não espera.

 Diz o caubói dirigindo-se ao parceiro,sem pagar a conta. Monta na garupa, olha para o poster:

                Ainda vamos nos ver por aí….

Os dois arrancam rumo a Talilândia.

O dono da baiúca, suando forte, balbucia:

 

                 Esse aí é o “Rato”, assaltante conhecido aqui. Já deve estar indo fazer algum roubo. Eu estava preocupado do senhor dar carona a ele, não ia ser coisa boa.

O poster agradece,  entra no carro, e zarpa. Olhando pelo retrovisor, rumo a Belém.