Com a pergunta na cabeça (O que o Natal significa de verdade?) e muitas respostas prontas, resolvi partir para o óbvio: a opinião das crianças. Assim, solicitei às professoras da Escola São José que conversassem sobre o Natal com elas e depois desenhassem, escrevessem, enfim, expressassem de alguma forma como percebem o Natal.

Vitória desenhou (acima) a escola com uma enorme árvore de Natal. A escola e o Natal estão entrelaçados para ela. Motivo: os alunos do PETI, com a professora Eliana, confeccionaram uma enorme árvore de material reciclável, ficou linda!

O pequeno Davi deixou que suas mãozinhas expressassem sua fragilidade de criança (abaixo).

Amo mãos!

Elas concretizam o abstrato, nossos sentimentos: amor (cafuné na cabeça), tristeza (mãos em oração), medo (apertadas uma nas outras). Com as mãos trabalhamos todos os dias, com as mãos escrevo este texto…

Mateus relembrou o Natal do ano passado e sonhou com o deste ano, 2011, pediu empregos, tendo em vista vivenciar o desemprego em sua família.

O que me chamou atenção foi a falta de presentes de Natal. Nenhuma criança pediu ou desenhou presentes (brinquedos), um pensamento maduro?

Mateus sonha em ganhar um prêmio em dinheiro para ficar junto dos parentes que “fazem falta”, seu coraçãozinho anda ferido de saudades!
Sentimento maduro, ideias maduras, atitudes maduras…

Nossas crianças não querem mais ganhar apenas carrinhos, bonecas, bolas, bicicletas etc; querem um algo a mais, algo que talvez o Papai Noel (desaparecido dos relatos) não possa realizar.

Se eu acredito em Papai Noel? Claro, afinal quem, se não o Papai Noel, teria me presenteado durante anos na noite de Natal? O que eu pediria ao Papai Noel? Mesmo adulta, pediria a fantasia de volta ao mundo da infância. Pediria o coraçãozinho acelerado na noite do dia 24 de dezembro, ansioso com a expectativa de acordar no dia 25 com um presente debaixo da cama.

Mandaria uma carta para o bom velhinho com um apelo: que toda criança seja criança, sem as preocupações dos adultos, sem as angustias tão adultas.

As situações sociais que nossas crianças presenciam diariamente se refletem na ausência de fantasias de Natal. A falta de alimento, a enfermidade crônica de um parente, as vestes sempre doadas, a tristeza de um pai desempregado, falam muito mais forte que qualquer sonho natalino.

Compreendo que para restaurar a fantasia do Natal em nossas crianças, da Vila São José e tantas outras comunidades sofridas, será preciso uma mudança na sociedade.

Será preciso fazer valer o direito de cada cidadão a uma moradia digna, a um emprego capaz de propiciar o sustento necessário, ao atendimento médico gratuito e de qualidade, a uma educação empreendedora…

Não pretendo finalizar o artigo com essa triste constatação. Afinal é Natal…

Quero propor um desafio para todos os pais, mães, avós, tios, padrinhos, madrinhas, enfim, qualquer pessoa que estiver incumbida da tarefa de presentear uma criança neste Natal: criem um encanto natalino na entrega do presente.

Se escondam, façam mistérios, guardem segredos…

Fiquem orgulhosos de terem contribuído com uma fantasia de criança, valorizem mais o brilho de alegria nos olhos de um pequeno, por acreditarem que foram visitados por Papai Noel, que o seu próprio orgulho de ter gasto dinheiro na compra do presente.

Sonho em ver todas as crianças da Vila São José sendo visitadas por Papai Noel, perceberem-se crianças com infância e não crianças adultas.

Gostaria de ter o poder de colocá-las em uma redoma, protegendo-as das mazelas sociais, resguardando seus sentimentos, imaginando, ao lado delas, muitos outros natais encantadores, espirituosos, coloridos, saborosos…

 

Obs.: Meu muito obrigada às professoras que viajaram comigo nesse artigo de Natal: Edileuza, Vanessa e Noeme.

Também ao nosso querido artista Uendas, que me salvou das complicações da tecnologia: scanear, formatar etc.

 

Texto de Evilângela Lima, Educadora, Diretora da Escola de Ensino Fundamental São José.