Em uma de suas canções, Bob Dylan escreveu, traduzindo mais ou menos para o português: “Se não perdemos tempo nascendo, perderemos tempo morrendo”.
Não sou fã deste cantor. Para falar a verdade, até este exato momento não saberia mencionar o nome de uma única música dele.
Porém assisti a um filme, “Se enlouquecer não se apaixone”, no qual por diversas vezes a frase acima é registrada, que mostra a vida de um adolescente de 16 anos que se interna em um hospital psiquiátrico por acreditar ter sérios problemas. Lá dentro conhece figuras interessantes com reais disfunções mentais, e encontra o amor, uma jovem que havia tentado suicídio.
É neste momento que a trama fica interessante.
O jovem de nome Craig (estranho, não é?), começa a refletir sobre sua vida enquanto acrescenta encanto e valores às vidas que estão ali, mutiladas por problemas gravíssimos, sentindo-se incapazes de organizar seus próprios pensamentos.
No final ficamos com a sensação de que, em algum momento da nossa existência, bem precisaríamos passar um tempo em tratamento, se não por estarmos loucos, mas talvez para concluirmos que possuímos uma vida muito boa e precisamos apenas nos aceitar com todos os defeitos e limitações.
Vivemos uma intensa correria diária, sem tempo para refletir sobre o que realmente importa.
Aceitamos novos desafios simplesmente por não querer deixar passar nenhuma oportunidade; nos sobrecarregamos, nos cobramos em demasia, não admitimos fracassos.
Existe a ansiedade em ver um negócio sendo concretizado ( ALPA?), o medo de ser esquecido por alguém importante para nós (por que não me liga?); a reunião de negócios que foi um desastre ( como saber agradar o cliente?), o tempo para ir na escola do filho ( o que aquele menino aprontou?).
Passamos muito tempo morrendo, diria Bob Dylan.
Enfim, são tantas situações que se apressam em interromper qualquer pensamento ordeiro, que facilmente vivemos um verdadeiro caos interior.
Não fazemos uma pausa para um cafezinho com nossa alma – para ouvir nosso interior, retomar nossos princípios, sermos originais, por sermos nós mesmos.
Recentemente, participei de uma festa e no meio da agitação ouvi uma vozinha que me alertou: ok, você está aqui, muito bom, aproveite, só não esqueça quem você é.
Passei o resto da noite lembrando quem eu era, para não me deixar influenciar pelo momento.
O mais curioso foi que me diverti legal, sem ter que abdicar das coisas que acredito.
Então que tal dá uma parada, pedir licença e sair com você, sozinho, um momento com seu interior, um break para se encontrar? Para nascer…
P.S.: Se você possui músicas do Bob Dylan, por favor, me envie. Quero me tornar fã dele.
Texto: Evilangela Lima, Educadora, Diretora da Escola de Ensino Fundamental São José.
Sula
6 de março de 2012 - 17:17Querida Evilângela por acaso encontrei uma indicação de seus textos no Blog do Hiroshi e fiquei maravilhada. Mais ainda fiquei lembrando daquela menininha irmã da minha colega Elisangela (Colégio Santa Terezinha, lembra?) e fiquei muito feliz com sua evolução. Seus textos são muito interessantes e profundos. Deixo a você meu abraços fraterno.
Maria
5 de novembro de 2011 - 12:33Poder e saber ficar sozinho, covenhamos não é privelégio de muitos, até porque se deparar com a propria companhia significa muitas vezes relembrar coisas que nos desagradam, inclusive em nós mesmos, portanto é melhor esquecer de tudo, esquecer de nós mesmos! Já dizia Martha Medeiros, parafraseando Eduardo Galeano, parece que vivemos em tempos de amnésia obrigatória, mas não precisa ser assim, é preciso mesmo relembrar quem somos, nossos reais princípios e aquilo em que acreditamos e sabemos ser necessário para nos fazermos seres humanos melhores e consequentemente melhorar a sociedade e o mundo em que vivemos, podemos ser como aquele passarinho que levava água pra apagar o fogo na floresta.