Henrique Batista e Silva, membro do Conselho Federal de Medicina, presta sua última homenagem ao cirurgião plástico marabaense Antonio Pinheiro,  que morreu semana passada, em Brasília.

O texto leva o título  “Última homenagem ao amigo”.

 

ÚLTIMA HOMENAGEM AO AMIGO

 

Antônio Gonçalves Pinheiro, chamado por nós, seus companheiros do Conselho Federal de Medicina, Pinheirinho, diminutivo fraterno e carinhoso, sua figura ainda está viva em nossas retinas, tão recente foi sua silenciosa partida matutina.

De todas suas maneiras de ser, posso claramente destacar duas dimensões, somente duas, suficientes no meu parco entendimento para alcançar seu caminhar.

Um racionalista desvelado nas suas percucientes reflexões, cuidadoso nas suas análises, enaltecidas nas suas observações cartesianas, desveladas nos pareceres e resoluções conselhares. Agudo observador, escorreito na elaboração do texto, clarividente nas ponderações. Neste desenrolar revelava os compassos das regras da técnica, as vias e trajetos do texto bem elaborado. Encarnava o método na construção do texto legal. Incisivo, sem ser cortante, deixava transparecer seu desacordo do que achava que deveria ser retificado. Olhar no ponto e na vírgula. Era regrado, regrador, regador das hostes nem sempre pacíficas do movimento médico, marcador das estimas dos esculápios, demarcador das fronteiras da profissão médica. Este lado da sua personalidade se revelava atento quando sentado no plenário.

Sua outra dimensão surgia quando caminhando, entre nós, deixava cair bilhetes espirituosos. Esta parte lúdica era para mim cativante ao deixar fluir seu espírito diletante, solto, musical e brincalhão. Assim, expressava sua parte emotiva, lado artístico, apreciador da boa música. Eclético, gostava de ouvir e de nos fazer ouvir vozes e cantos de Duke Ellington, Billie Holiday, Leila Pinheiro, entre muitos outros.

Lembro quando me mostrava as músicas gravadas pelo seu dileto filho.

Duas dimensões que se completavam no ofício e nas artes do cirurgião plástico. No primeiro instante, acurado, o estudo das desfigurações e os desacertos do ser, na outra ponta, a busca pela beleza do corpo humano que deveria ter, a busca pela beleza das palavras rimadas e das linhas melódicas do texto musical.

Outros meus colegas que o conheceram de perto, terão outras maneiras certamente mais completas, eu contento-me em vê-lo como uma personalidade tracejada entre a santa inquietude e a serenidade que edifica.

Dois traços de um homem de caráter íntegro, cujos passos em vida, buscaram incansavelmente o correto e o belo.

Ao passar das últimas horas, nas vestes do cântico de Gabriel Garcia Marques quando “conseguiu o raro paraíso de já não ser nem querer voltar a ser”, já se vislumbram das águas dos rios de Marabá os albores da Terra Firme do Merecido Descanso.

 

Henrique Batista e Silva

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Atualização às 20:36 (25/10/11)

 

Arlete Herênio de Moraes, marabaense residente em Brasília contemporânea do médico Antonio Pinheiro, recentemente falecido, presta também homenagem ao saudoso cirurgião plástico:

 

Conheci o Antônio desde muito pequena. Éramos vizinhos em Marabá. Desde cedo foi possível ver que sua essência infante era dominada pela ética, pela seriedade de suas ações e a solidariedade que destinava a todos os seus parentes e amigos. Jamais esquecerei a aflição que enfrentei aos 8 anos de idade, para decorar minha nova bicicleta para as comemorações do dia 7 de setembro. E eis que surgiu o Antonio que, como uma mágica, enfeitou minha bicicleta com papel crepom verde e amarelo e a deixou linda e fez com que eu resgatasse meu orgulho e a alta estima de poder desfilar na Parada de 7 de Setempro sem qualquer constrangimento e me sentindo confiante. Me lembro também que ele muitas vezes deu carona a mim e a muitos e muitas outras colegas até a beira do rio Itacaiúnas para pegarmos a canoa do Seu Domingos que nos atravessava até o colégio Santa Terezinha. A última vez que vi o Antonio foi caminhando no parque de Brasília, às 06h00 da manhã, acompanhado de alguns colegas médicos. Na ida da caminhada nos cumprimentamos rapidamente para não interrompermos o ritmo e a respiração da caminhada. No retorno do circuito, paramos e conversamos como dois verdadeiros irmãos e trocamos informaçoes sobre nossas respectivas famílias e nos desejamos boa sorte de coração! Eu nunca iria imaginar que aquele poderia ser nosso último encontro. Entretanto, guardo comigo essas lembranças que configuraram uma verdadeira reiteração da amizade e respeito que sempre nutrimos um pelo o outro, embora sem mantermos contatos há tantos anos. Isso fez com que eu reforçasse a minha tese e crença de que a verdadeira amizade nasce na infância e é eterna. Nutro este mesmo sentimento de amizade pela Gina, a Claudina, Da. Maria, Seu Zé, Cláudio, Athos e Plinio. Rezo por todos vocês, inclusive pelo Osorinho que se foi tão cedo, deixando tantas saudades. Envio a todos vocês meu abraço carinhoso e fraterno!

Arlete