Fez-se o desejo do médico Antonio Pinheiro: as cinzas resultantes da cremação do seu corpo acabaram de ser lançadas sobre as águas dos rios Itacaiúnas e Tocantins.
Solenidade causou muita emoção a familiares, amigos e populares que acompanharam, em embarcações, o espalhamento das cinzas, feita por filhos e esposa.
Antonio Pinheiro descansa, navegando, sobre as águas dos rios que o cobriram de felicidade durante a infância e adolescência.
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Atualização às 17:00
Um texto do Ademir Braz publicado no Quaradouro exprime a plenitude do sentimento de marabaenses que conviveram com Antonio Pinheiro.
O blog faz uso da expressão sincera de Ademir como pano de fundo para as fotografias ilustrativas de dois momentos carregados de emoção, esta manhã em Marabá.
O primeiro, na igreja do padroeiro da cidade, São Félix de Valois, por ocasião da celebração de ato religioso.
O segundo, na confluência dos rios Tocantins e Itacaiúnas, quando as cinzas do saudoso médico foram lançadas.
Que bom, Pirralho, que você veio!…
Antônio Pinheiro é amigo de longa data. Ele e sua família. Plinhão foi, até, meu paraninfo na solenidade de conclusão do ginasial, no Santa Terezinha, onde estudamos entre 1961/1964. Dizem que eram tempos ruins: as crianças obrigadas a andar quase um quilômetro sobre um aterro de argila que no verão soltava uma puaca que envernizava até os dentes e, no inverno, parecia uma corda bamba de lama sobre o qual o equilíbrio precário era uma aventura. E ainda havia um rio a atravessar em canoinhas de cores alegres, e mais quase um quilômetro de ladeira pelas vielas do Amapá, e mais uma grota, um mata-burro e a subida íngreme do morro sobre o qual assentava a escola que tanto amávamos. Para nós, tanta alegria matinal era sempre uma festa.
Éramos uma turma unida – cerca de 35, desde o primeiro ano, mais tarde apenas com algumas substituições – e a gente o chamava de Pirralho. Pirralho era ruim de bola como ninguém! Mas era a mascote da turma e entrava no gramado com os demais, até porque vê-lo em campo era fonte de gostosas gargalhadas. Lembro de uma vez que ele, chamado pelo técnico no segundo tempo, adentrou o tapete de capim ralo, atravessou a passos vagarosos metade do campo, e sem dizer uma única palavra deu um chute na bunda de um rapaz da outra equipe. Com a mesma tranqüilidade saiu do outro lado. Nem esperou o juiz lhe mostrar o cartão vermelho. Foi tudo tão inesperado que havia gente rolando no chão, de tanto rir.
A partir de 1965, nos dispersamos. O grau mais elevado de ensino em Marabá era o ginasial. Daí em diante, estudos só nas capitais de um país vizinho chamado Brasil. No Brasil, nós, que fomos, nos desgarramos. Muitos dos que ficaram, como muitos dos que foram, acabaram morrendo: Pedro Mendes, Antônio Coutinho, Ari Pires, Devaldino, Félix da Rosena. Dos demais, que sei eu?
Nesta quinta-feira eu fui, depois de tantos anos, à igrejinha de São Félix, o padroeiro, onde rezávamos em latim e cantávamos em grego no coral suspenso, ao som do órgão medieval. A igreja estava cheia de marabaenses sobrados do dilúvio. Juntas, nossas idades somadas ultrapassariam a casa do milhar. Um padre estrangeiro entoava com vogais ora abertas ora fechadas um cantochão estranho, mas ainda pude ouvir, ao fundo, o som de cravo tirado por João Sariema dos teclados daquele órgão que os arcanjos devem ter levado para algum lugar.
Não acompanhei o cortejo ao encontro das águas, onde seria derramada a salsugem de cloretos e sais que restaram da cremação de Pirralho. Eu estava no meu limite, ali sob o paletó que vesti para recebê-lo com o rigor devido ao reencontro das pessoas amadas.
Estava certo, entretanto, que os amigos idos o aguardavam na margem à ilharga da canoinha colorida e enfeitada de Maracujá, o passador, para ajudá-lo na travessia, encaminhá-lo por entre as ruas tortuosas do povoado e fazê-lo subir a ladeira entre árvores frondosas até à mansão da paz infinita assentada no alto da colina.
Daniela
27 de fevereiro de 2012 - 20:48Hiroshi, fiquei muito emocionada ao ler os depoimentos sobre meu primo,Antônio Pinheiro.Realmente foi um grande profissional,uma excelente pessoa e chefe de família.Fiquei feliz em ver a sua foto.Eu te vi tão pequeno!Sou filha do Alfredo Chuquia.Aqui em Anápolis,Goiás, tem muitos marabaenses.
Um grande abraço.Recomendações a sua família.
Carmem Yacyra Chuquia dos Santos
Carmen, emoção tê-la no blog. Não me recordo de você, mas me sinto muito dignificado com seu depoimento. O AP foi essa figura maravilhosa relatada aqui. Volte sempre.
anonimo
16 de outubro de 2011 - 17:15Antonio Jaques Milhomem,
(Descansarei!)
Espero que não me chamem de Moisés, contudo, o que ainda muito alegra, é saber que nossa história, seja dos anos 40 ou 60 e sua continuidade, é uma verdadeira história de vida, coleguismo e fraternidade.
Até parece que éramos, somos e continuamos irmãos, de mesma idade e sentimentos.
Sem problemas e, com o mesmo vigor do passado, lamentamos a perda de um irmão. O nosso sempre e inesquecível Dr. Antônio Pinheiro.
Cordiais saudações.
Dr. antônio Vive! em nossos corações.
Antonio Jacques Milhomem
15 de outubro de 2011 - 17:05Hiroshi, Antonio Pinheiro,como eu o tratava, era um garotinho,eu já adulto, junto também a outros do mesmo “tope” dele, tais como Neuton Miranda, Antonio Pereira, Antonio Coutinho, Nelson Rossi e nosso querido “Pagão”(José Ademir),antes das 7 da manhã, de segunda a sexta, fazíamos aquela rotineira caminhada até a beira do Itacaiúnas,cruzávamos de canoinha, para chegar a revista feita pela Irmã Teodora, supervisora e fiscal da boa disciplina.Ai daquele encontrado sem currião (como falava a temida Teodora) ou mesmo sem meias.Ai o pau cantava só de reclamação.Chegou afinal o dia 29/11/1964.Festejamos a conclusão do Ginásio, afinal merecíamos.Houve a debandada geral, todo mundo sumiu, aquí e acolá, algum parente era visto e se perguntava pelos insepáraveis colegas.Pouco ou quase nada se sabia de cada um.Confesso que não me recordo de ainda ter visto desde aquele tempo, nosso inesquecível Antonio Pinheiro.Sempre que via seu irmão Athos,eu, Antonio Jacques, seu eis colega, do Santa Terezinha, dele queria ter boas notícias.Sei que ele nos deu bom exemplo e hoje sua ausência muita falta nos faz.
Antônimo
14 de outubro de 2011 - 13:36Itacaiunas, meu chão.
(uma simples homangem para um homem simples)
Claro dia, de ruas vazias
de barcos lotados, nas águas do rio,
não é alegria…
são rostos sombrios tomados de dor
rezando Ave-Maria.
Parece que todos
solidários comigo, se unem em torno das águas,
Na falta da minha companhia,
hesitam em voltar para casa
recordando um passado que foi de muitas alegrias.
Athos Pinheiro Filho
14 de outubro de 2011 - 10:53Na segunda feira dia (10/11), acordei em belém e ainda não conseguia acreditar que meu tio teria falecido, no dia anterior estavamos todos almoçando na casa de minha vó, todos perguntavam pelo meu tio, esperavamos ele para almoço, deu 13 hrs, 14 hrs, e nada, então almoçamos com familiares ali presente, logo em seguida fui em um supermercado da cidade fazer umas compras, fiquei de voltar umas 16:00 hrs pra assistir um jogo de futebol com meu primo (Joca), quando me deparo com aquele clima de tristeza, minhas tias chorando..não queria pensar no pior, foi quando uma prima chegou ate mim me falando da morte do Tio Antonio, simplismente voltei para o apartamento, onde estavam meus pais, não acreditava que isso teria acontecido, sofri muito, ainda sinto saudades do tio Antonio, adorava suas conversas com meu pai na sala da casa da vovó sobre medicina, esporte, ficava horas ali ouvindo sentado na escada, pensando comigo ainda tenho muito o que apreender com esses dois! Lembro também da nossa viagem para os Estados Unidos, como ainda tinha 16 anos na época, ficava com ele em todos os lugares que iriamos passear com medo de me perder. Perdemos um TIOZÃO, tio aonde o senhor estiver descanse em paz, que sua obra aqui na terra foi feita…
Um grande abraço tio..
Athos e Osorinho: eu tive o prazer de conhecer seu tio e pai, conviver bom tempo de nossa juventude, ao lado do Osório, irmão que perdemos quando nem completara 23 anos. Ultimamente, nossos contatos eram mais virtuais, pela Internet, aqui no blog ou através de emeios. Tenho o último dele enviado a 9 de setembro onde ele relembra nosssas noitadas de violâo e belas safadezas, pelas ruas livres de Marabá, citando “Samba da Benção”, do Vinicius, que eu tanto gostava de tocar para a galera. Lamento muito não termos nos reencontrado em tempo mais recente para a consumação de um sarau, ao lado dos antigos amigos. Fica a saudade de um grande parceiro, e a certeza de que ele foi tudo isso que seus amigos e familiares declamam, cheios de sinceridade. meu abraço carinhoso.
Osório Pinheiro
14 de outubro de 2011 - 10:14Hiroshi, sou o Osório Pinheiro, filho mais velho do Antônio. Ontem foi um dia especial e emocionante p nossa família. Realizar o ultimo desejo do meu pai trouxe um pouco de conforto aos nossos corações que choram de saudade. Estamos recebendo cartas e telegramas ate de médicos de outros países que se comoveram com a partida dele. Pessoas que o admiravam e respeitavam pela qualidade do seu trabalho. Mas mesmo sendo um homem do mundo nada era maior que amor que tinha por Marabá. Nas nossas conversas ele sempre se recordava de passagens da sua infância. Sempre tinha alguma coisa envolvendo os irmãos, os pais e os amigos. Em Sao Paulo, aonde eu moro, me recordo de chegar em casa e encontrar com ele sentado, computador aberto e lendo seu blog. Era uma forma de estar perto dessa cidade. Hoje ele repousa aí. Tenho absoluta certeza de que esta em paz e na companhia dos meus avos e tios que já foram chamados pelo criador. Hiroshi, por fim, quero registrar o quanto amamos nossos tios ( Plinio, Cláudio, Zé, Athos, Claudina e Maria) eles são o sangue vivo do meu pai amado. Olhar e abraçar cada um deles é como se fosse beijar meu pai. Por isso, peço que nunca se afastem e esqueçam de nós. Precisamos muito deles. Tb quero agradecer meu tio Evaldo e minha tia Gloria ( uma irmã p minha mãe) pelo carinho e amor de sempre. Bis em todos os corações.
Claudio Pinheiro Filho
14 de outubro de 2011 - 09:33Um Momento único, regado ao extremismo emocional. Ontem, deitando-me para tentar entre tantos dias dormir, não consegui sem antes rememorar alguns bons momentos vividos ao lado do meu amado tio.
Lembro-me das férias em sua casa de Salinas, dos fins de semana na Assembleia Paraense e dos papos sobre música.
Mas, por fim, gostaria de agradecer a Deus por ter me dado à oportunidade de conhecê-lo.
Vá meu tio, para seu lugar de eterno de descanso.
Para quem não conheceu Antônio Gonçalves Pinheiro, homem íntegro, deu uma reputação singular e uma ética insolúvel. O único da família intocável, imaculado. Fez de sua vida uma obra e de sua história uma lenda. Poucos conseguirão tal feito.
Toninho, Osório e Ricardo, primos tão queridos, orgulhem-se, seu pai, aquele mesmo que uns chamam de Pinheirinho, Pirralho e para mim apenas tio Antônio, fez a diferença.
Vai Antônio Pinheiro… Eternamente.
Marcos
13 de outubro de 2011 - 19:52Fico muito comovido as ler estas vastas palavras embebidas de saudade e raiz marabaense. Como um filho de Marabá sinto cada palavra proferida como sendo minhas também. Respeito muito as famílias tradicionais de Marabá, fico triste por vê-las pouco a pouco sendo substituídas por outras que pouco contribuem a esta terra honrada e rica. Que o exemplo desta família, especialmente através deste ato solene, sirva de exemplo para construirmos uma Marabá mais forte, fraterna e com raízes familiar e religiosas que diga a todos os Marabaenses (tradicionais e recém chegados) que devemos construir um lugar melhor para depositarmos nossas cinzas, um lugar melhor para ver frutificar nossas árvores e filhos. Esse é meu desejo… Minhas sinceras comoções a familiares e amigos.
Diego Chaves Pinheiro
13 de outubro de 2011 - 16:35A partir de hoje o rio Itacaiunas para mim recebe outro significado, um significado e uma ocasião que irei perpetuar entre os filhos e netos que um dia terei, do rio que foi fonte de grandes historias desse municipio juntamente ao grande rio Tocantins, e mais ainda, pois foi nas suas aguas que um homem desejou que suas cinzas fossem lançadas para fazer parte dessa vasta imensidão, um médico cirurgião plastico…, conceituado nacionalmente e mundialmente, por sua etica profissional, e seu compromisso com a saude, como deveriam fazer todos os médicos. Um homem que tenho o mesmo orgulho, assim como todos os demais sobrinhos que conviveram ao seu lado mais do que eu, de ter o seu sobrenome (PINHEIRO) .
Tio Antonio Gonçalves Pinheiro… Saudades, que suas cinzas lançadas no rio, lembrem aos filhos dessa terra, o quanto ela foi e sempre será importante …
ANONIMO
13 de outubro de 2011 - 15:43Hiroshi,estive na igreja prestando a última homenagem ao gde Antonio Pinheiro,revi amigos que à muito não via,derramei algumas lágrimas incontidas e o velho coração descompassou algumas vezes,que deus o guarde e conforte seus familiares. Te informo que um dos filhos do Antonio,por duas vezes citou o teu nome ,à tua procura,e comentou:” meu pai falava muito nele”.Um abraço.
Anônimo 15:43, agradeço a comunicação. Infelizmente não estou em Marabá e, por esse motivo, perdi a oportunidade de prestar minha homenagem a um dos melhores amigos que tive. Antonio e seu irmão Osorinho, que faleceu aos 23 anos, em 1975, compuseram o eixo de relacionamentoi de minha vida adolescente e, até os 20 anos, companhias inseparáveis. Abraço carinhosamente os maravilhosos filhos que Pinheiro criou, ao lado de Gina, agora dando sequência à vida que segue, tendo o pai como exemplo honroso.
Silvia Cunha Lobato
13 de outubro de 2011 - 14:00Ao Antônio meu eterno agradecimento e orações para que DEUS lhe conceda um descanso pleno de felicidade. À Gina, ao Osório, Ricardo e Toninho e demais familiares, que a ferida causada pela perda do Ente Querido,cicatrize o mais rápido possível restando apenas as boas lembranças que os farão sorrir.