Depois de extensas pesquisas que se iniciaram há mais de 35 anos, a Tecnored Desenvolvimento Tecnológico S.A., empresa da Vale em parceria com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Logos Tecnocom, deu início à operação da primeira planta-demonstração de produção de ferro-gusa, em Pindamonhangaba (SP), que não usa os métodos tradicionais adotados nos alto-fornos siderúrgicos. O ferro-gusa é elemento fundamental para a produção de aço. A inovação permite aumento de produtividade, redução de emissões de CO2 e particulados, flexibilidade de matéria-prima e um corte de custo que pode chegar a 30% na produção siderúrgica.

A tecnologia, chamada de Tecnored, poderá ajudar a aumentar a vida útil das minas da Vale e reduzir o impacto ambiental, uma vez que possibilita produzir gusa a partir de minérios com diferentes teores e qualidades, e até mesmo com os ultrafinos de ferro, hoje estocados em barragens de rejeito. “Ao usar os finos de minério de ferro, conseguimos reduzir a necessidade de abrir novas áreas destinadas a barragens, que precisam de licenciamento ambiental para serem criadas”, explica Pedro Gutemberg, diretor global de Marketing de Materiais Básicos da Vale.

Gutemberg afirma que, embora os resultados sejam animadores, o Tecnored está ainda em seu primeiro estágio de maturação. Os próximos passos, agora, são garantir a estabilidade operacional e buscar a viabilidade econômica. “Este start-up nos deu ânimo para seguir em frente em nossas pesquisas, pois os testes provaram que a tecnologia é tecnicamente viável”, diz.

O segredo da nova tecnologia está no uso de briquetes a frio (espécies travesseiros de 50 milímetros), formado por um aglomerado composto por partículas finas de minério de ferro e um produto redutor, como diversos tipos de carvão. O redutor retira o oxigênio do minério de ferro, que, quando aquecido no forno, transforma-se em gusa. Para fornecer energia ao processo, é possível usar combustíveis de baixo custo, como o carvão ou mesmo biomassa – como madeira de reflorestamento, bagaço de cana, etc.

Por usar briquetes a frio, a nova tecnologia, chamada de Tecnored, dispensa o uso de coqueria e sinterização, processos indispensáveis em uma siderúrgica, o que impacta fortemente no custo de construção da planta industrial. Isto porque tanto a coqueria, local onde é preparado o carvão para uso no alto forno, quanto a sinterização, processo térmico que aglomera os finos de minério, exigem grande investimento e também maior área para instalação.

Sem coqueria e sinterização, é possível reduzir o consumo de energia e, assim, as emissões de particulados e gás carbônico, além de aumentar a produtividade de todo o processo. Isto porque a redução dos óxidos de ferro com Tecnored é realizada em apenas 30 minutos, enquanto nos altos fornos a coque, por exemplo, pode chegar a 8 horas de duração.

Segundo as previsões dos técnicos da empresa, uma planta industrial com Tecnored pode emitir 85% particulados a menos se comparada à de uma siderúrgica comum. Outra redução drástica é a de óxido de nitrogênio (NO), que pode chegar a 95%. Embora não seja um gás do efeito estufa, o NO afeta indiretamente no aquecimento global ao reduzir o poder de fotossíntese das plantas, além de ser prejudicial às vias respiratórias. Já a redução das emissões de CO2 chega a 5%.

Outra inovação está no tamanho e versatilidade do forno. Enquanto na siderúrgica tradicional, o alto-forno tem altura entre 20 a 30 metros, o de uma planta Tecnored tem, no máximo, cinco metros de altura. “Além de um reator compacto, outra vantagem é que o forno é composto por módulos, o que permite aumentar sua escala de produção de acordo com o objetivo desejado”, explica Gutemberg,

Tecnologia Nacional
Segundo o diretor da Vale, a inovação representa uma grande oportunidade de produção de gusa a preços mais competitivos, que poderá atrair mais parceiros internacionais para os projetos siderúrgicos que a empresa vem desenvolvendo no Brasil. “É preciso ressaltar ainda que essa é uma tecnologia genuinamente brasileira, desenvolvida com o apoio total da Vale”, afirma.

A Vale detém 43,04% das ações da Tecnored; o BNDESPar, braço de participações do banco, 31,79%; e a Logos Tecnocom, que reúne os pesquisadores que desenvolveram a tecnologia, tem 25,17%. Já foram depositados sete patentes relacionadas à nova tecnologia, com alcance em 35 países.

A planta-demonstração tem capacidade de produção de 75 mil toneladas por ano. O start-up ocorreu no último dia 12 de setembro. Desde que entrou na sociedade, em 2009, a Vale já investiu cerca de R$ 130 milhões, dos cerca de R$ 250 milhões já aplicados no desenvolvimento do projeto. O compromisso da empresa é construir uma planta industrial com capacidade de 300 mil toneladas por ano – o equivalente a 10% da capacidade nominal de um alto-forno siderúrgico tradicional.

 

Com informação da Ascom