“Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda.”

 

 

Esta frase, extraída do filme O homem que matou o facínora, foi utilizada para caracterizar o Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o gaúcho José Mariano Beltrame.

Devido seu trabalho internacionalmente reconhecido, Beltrame ganhou status de pop star. Quando visita as comunidades pacificadas do Rio é recebido com honras, tem sido convidado a participar de festas de quinze anos, formaturas e outros eventos daquelas localidades.

Essa descrição nos leva a refletir que, quando o trabalho de um servidor público, porque Beltrame é servidor público, é bem feito, a população reconhece e aplaude. Tornando-o referência e blindando-o contra possíveis conchavos políticos.

Também percebemos que atitudes pacificadoras dão muito mais resultados que atitudes violentas. As ações de socialização são contempladas no trabalho de pacificação das favelas do Rio de Janeiro.

O maior investidor dessas ações não é o poder público e sim um empresário: Eike Batista, que deu as mãos para o Secretário de Segurança e investe maciçamente milhões de reais para que o trabalho não pare.

Novamente a honestidade e competência de um servidor público, Beltrame, transforma-se em ações, que consequentemente transformam vidas.

O prestígio deste policial agrega potencialidades, elogios, contaminando toda uma corporação de orgulho e fazendo-os ter vontade de fazer o bem, de serem homens do bem.

Beltrame afirma que ser honesto, sincero e dedicado ao trabalho são valores que aprendeu em casa.
Casado com uma professora (talvez por isso seja tão competente, porque ter uma professora por perto faz toda a diferença) não ostenta pompas.

 

Fiquei algum tempo vasculhando a vida deste servidor público, e me fiz perguntas, depois descobri que muitas outras pessoas também as fizeram: quantos Beltrames existem no Brasil? Onde eles estão? Por que não aparecem para mudar o cenário brasileiro? Ajudar a mudar o cenário dos nossos municípios?

Ruth de Aquino em sua coluna na revista Época desta semana trouxe uma questão à tona: um preso vale mais ao erário que um estudante. O governo, tanto estadual quanto federal, gasta milhões para manter presos homens e mulheres que não concluíram nem o Ensino Fundamental, enquanto escolas públicas padecem com a falta de recursos.

Em nossa cidade de Marabá existem pessoas e empresas que investem, não poucos recursos, na melhoria da Educação. Posso citar orgulhosamente a Unimed Sul do Pará e a Construfox, ambas parceiras da Escola Municipal de Ensino Fundamental São José, há cerca de cinco anos acompanhando nossos alunos, incentivando-os a permanecerem na escola, evitando o mundo obscuro do crime.

Então respondo às perguntas anteriores: sim, existem Beltrames em Marabá, disfarçados de empresários, professores, jornalistas, políticos (isto mesmo: políticos honestos), donas de casa, vendedores, policiais, médicos, dentistas e outros que dia a dia, do seu jeito, procuram transformar nossa realidade.

Acho que devemos deixar aflorar o Beltrame que carregamos (expressão que copio da Ruth de Aquino), sendo rigorosamente honestos, incorruptíveis, justos, preferindo sofrer um dano a contribuir com o avanço da discriminação social e a corrupção. Não vendendo nossas consciências por qualquer favorzinho, preferindo enfrentar uma fila quilométrica a usurpar o direito de quem madrugou para ser atendido em um estabelecimento público.

Porque, em algum momento de nossas vidas, perceberemos que nossas atitudes em prol da justiça foram as responsáveis pela diminuição da criminalidade e pelo aumento do número de crianças frequentando as escolas, que vencerão na vida através dos estudos e não na comercialização de suas consciências.

Texto de Evilângela Lima, Educadora, Diretora da Escola de Ensino Fundamental São José.