Os esqueletos de Aécio Neves
* Ricardo Melo
Ninguém é obrigado a ser candidato a presidente. Mas quem abraça a causa deve saber que sua vida está sujeita a ser esquadrinhada — Mirian Cordeiro que o diga. O tucano Aécio Neves, agora candidato oficial do PSDB, parece incomodado nesta missão.
Ainda pré-candidato, Aécio começou mal. Decidiu fugir de perguntas incômodas, atacar as críticas como obra de um submundo e acionar a Justiça para tentar limpar uma biografia no mínimo controvertida. Nada a favor dos facínoras que inventam mentiras em redes sociais para desqualificar adversários. Mas daí a ignorar questionamentos vai uma distância enorme.
A repórter Malu Delgado, da revista “piauí”, prestou um belo serviço ao escrever um perfil do tucano. Lá estão prós e contras, alinhados com sobriedade e rigor jornalístico. Cada um que chegue às suas conclusões. Por enquanto, elas soam desfavoráveis ao candidato.
Deixe-se de lado qualquer falso moralismo. É direito do eleitor sabatinar quem se propõe a dirigir o país. A fronteira entre o público e o privado se esmaece, sem que isso signifique a condenação a priori de qualquer um.
Vídeos na internet mostram práticas nada republicanas, como gostam de falar, por parte do então governador de Minas Gerais. Entre outras façanhas em bares e blitze, montou uma tropa de choque midiática para sufocar críticas.
Tanto fez que a guilhotina tucana decapitou sem piedade inúmeros jornalistas em Minas Gerais. Os testemunhos estão à disposição, basta querer ver e ouvir.
Sombras permanecem. A questão das drogas é uma delas, e cabe ao candidato refutá-las ou não; ao eleitor, mensurar a sinceridade dos depoimentos e até que ponto o tema interfere na avaliação do postulante. Aécio tem se embaralhado frequentemente no assunto. Adotou como refúgio a acusação de que tudo não passa de calúnias. Ao vivo, acusou jornalistas reconhecidamente sérios de dar vazão a rumores eletrônicos. Convenceu? Algo a conferir.
Na reportagem citada, destaca-se um mistério. Uma verba de R$ 4,3 bilhões, supostamente destinada à saúde, sumiu dos registros oficiais do Estado. Apesar de contabilizada na propaganda, a quantia inexiste nos livros de quem teria investido o dinheiro.
O caso foi a arquivo sem ter o mérito da questão examinado. A promotora autora da denúncia insiste na ação de improbidade. Na falta de esclarecimentos dos acusados, aguarda-se o veredicto da Justiça.
Esqueletos à parte, na convenção de sábado (14) Aécio teve a chance de ao menos apresentar um programa que justificasse a candidatura. Perda de tempo. O evento faria corar a banda de música da finada UDN. Discursos mirabolantes se esforçaram para preencher o vazio de alternativas.
Ouviram-se insistentemente anátemas contra a corrupção. Ninguém se referiu, contudo, às peripécias do mensalão mineiro e às manobras, também nada republicanas, do correligionário Eduardo Azeredo para escapar de uma condenação.
O distinto público continua sem saber se o salário mínimo vai mudar, se a aposentadoria fica como está, se haverá um tarifaço e quais medidas um governo tucano propõe para melhorar o bem-estar do povo. Ministérios serão cortados, esbraveja o senador. Mas quais? A reeleição, comprada a peso de ouro pelo seu partido na gestão FHC, vai mesmo acabar? A respeito disso tudo, o que ressoa é o eco das tais “medidas impopulares”.
Em lugar de propostas, metáforas mal construídas que começam com brisa, crescem para ventania e acabam em tsunami. Talvez porque Minas não tenha acesso ao mar.
Se quiser seguir em frente, Aécio Neves está muito a dever. Saiu da zona de conforto mineira, em que a imprensa é garroteada impiedosamente para abafar desmandos de gestão. O jogo mudou, e o neto de Tancredo deve providenciar urgentemente garrafas para vender.
Não adianta apostar apenas no erro do adversário. Amante de relógios caros, muitos deles capazes de quitar com seu valor dezenas e dezenas de prestações de aspirantes a uma casa própria, o tucano já deveria ter aprendido que quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
(*) Ricardo Melo, colunista da Folha
casemiro
23 de junho de 2014 - 16:03Hiroshi, volto a repetir novamente, para que a minha indignação seja de conhecimento geral. E volto a repetir que mesmo aqueles que têm nível superior engenheiros, médicos, administradores, advogados, contadores, etc etc, contribuem para que o nível do debate no Brasil seja tão baixo, mostrando que mesmo com estudo ainda permanecemos como analfabetos políticos. E muitas pessoas ainda têm coragem de criticar um beneficiário do bolsa família, por vender seu voto, quando nós mesmos que tivemos acesso a educação não sabemos também votar. Faça um teste você mesmo. Pergunte para um amigo que tenha curso superior, o que ele acha do financiamento público de campanha, como ele vê o desafio da evolução do poder de compra do salário mínimo, ou o que ele acha da política de privatização da VALE e TELEBRAS com recursos subsidiados do BNDES no governo tucano em comparação com a política de privatização por meio de concessões do governo Petista? Vamos fazer as perguntas que realmente importam e vamos observar as respostas? Tá feito o desafio.
Marco Aurélio Tavares
23 de junho de 2014 - 13:12Aécio Neves é mais um daqueles tucanos hipócritas que tem aos montes no Brasil. Se dizem éticos, donos da moral pública, pessoas de bem, mas jogam todas as maracutaias pra baixo do tapete. Estão aí, o mensalão tucano, com o pai do mensalão à frente, Eduardo Azeredo, o trensalão tucano, envolvendo os governos de Mario Covas, Alckmin e José Serra, e tantas outras que são desconhecidas do grande público porque os tucanos são blindados pela imprensa do sul e sudeste e em consequência do resto do país, que noticia o que as agências dos grandes jornais transmitem. O próprio Aécio, que foi pego dirigindo com habilitação vencida e se negou a fazer o teste do bafômetro. E agora se nega a debater sobre o uso de cocaína. Um debate, aliás, colocado na mesa pelo seu próprio colega tucano, José Serra.
caramuru
22 de junho de 2014 - 19:07Ninguém chuta cachorro morto. Pelo andar da carruagem, mesmo com a máquina na mão, PETRALHAS vão ter muito problema com esse mineiro. E tava previsto ,não foi falta de aviso.