Somente  esta semana, retornando à base, o poster tomou conhecimento, lendo jornais locais, de que o Ministério Público teria descoberto a origem do mau cheiro  que vem incomodando a população de Marabá, principalmente no período noturno

Segundo apuração de técnicos do MP, a insuportável fedentina a causar desconforto na população há vários anos é gerada a partir de um  matadouro desativado, localizado às margens da rodovia Transamazônica, próximo ao Km 10, sentido São João do Araguaia.

Consta matérias de jornais que o MP chegou a essa conclusão ao deparar-se com uma graxaria que funcionava no local, e que foi desativado em abril.

Como se fora algo extraordinário, assim como a invenção da lâmpada, a “boa nova” do Ministério Público – pelo menos para este poster – vem é colocar mais trevas à uma questão que até agora não foi desvendada, por absoluta falta de vontade política e determinação das autoridades marabaenses – e aqui envolva-se, além do MP, os órgãos ambientais afins – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Secretaria Estadual de Meio Ambiente.

Conversa pra boi dormir!

Não existe nenhuma comprovação técnico que possa garantir que a graxaria “descoberta”  no  Frigorífico JA, de propriedade do empresário José Antonio, seja realmente causador da fedentina.

O anúncio de que seria ali a origem de todo o mal advém da  constatação de mau cheiro  registrado no local, por ocasião da blitz realizada pelo MP.

Esqueceram de dizer, por desconhecimento técnico ou simples erro de avaliação, que a fedentina circulante provém de um composto químico chamado   sulfeto de sódio, que quando exposto a umidade do ar, e ao dióxido de carbono nele contido, seus  hidratos emitem sulfeto de hidrogênio,  “um gás muito tóxico e com cheiro que se assemelha ao de ovos podres” – conforme explica Sandro Quigliotti, engenheiro químico de Pernambuco, consultado pelo blog.

Dois dos principais usos dos sulfetos são no curtimento de couros e na fabricação de  papel, revela o engenheiro.

Em Marabá, o  curtume e a graxaria existentes funcionam no frigorífico JBS.

Não há registro de outras unidades de graxaria e curtume.

O anúncio da  graxaria do frigorífico JA não se sustenta, tecnicamente, como causadora do mau cheiro, considerando a sua desativação desde o dia 22 de abril de 2014.

São mais de 60 dias de lá até hoje.

O curtume do JBS é o que poderia ser chamado de “penicão” da cidade.

O mau cheiro é provocado pelo  gás sulfídrico, produto tóxico  despejado na atmosfera pelo curtume, com cheiro semelhante ao de ovo podre – como explica Quigliotti.

A grande verdade é que as autoridades de Marabá ainda não acabaram com o mau cheiro que tanto irrita a população, devido o tamanho da encrenca que representa o poderio econômico do JBS.

Quem teve determinação e vontade política para enfrentá-lo, acabou de vez com problema semelhante ao de Marabá.

Quando ainda se chamava Bertin, o curtume do frigorífico foi fechado em Redenção, depois de muita pressão da sociedade.

Curtumes em Icoaraci, no Pará, e em Goiânia, também ganharam o mesmo fim, no rastro de intensas campanhas populares contra o mau cheiro que eles produziam naquelas cidades.

Em Marabá,  o problema arrasta-se.

Pior: arrata-se ganhando ingredientes de  pura pirotecnia, como o que acabaram de criar, ao desviar para a Rodovia Transamazônica a suposta origem da fedentina.

A fedentina descoberta na graxaria desativada do frigorífico JA,  é localizada.

Ali não se utiliza nenhum composto químico com capacidade de propagação geográfica acentuada.

O mau cheiro da graxaria “descoberta” fica nos arredores do matadouro.

O odor desagradável  que cobre a cidade vem de compostos químicos, garante Sandro.

“O mais fácil para vocês de Marabá, se realmente querem acabar com a fedentina comum aos curtumes que não investem o que deveriam em novas tecnologias, seria as autoridades contratarem um engenheiro químico industria, para a emissão de um laudo técnico. A Universidade Federal do Pará tem professores qualificados nessa área. De nada adianta, a troca de tiros entre órgãos públicos, sem que se chegue a uma denominador”, sugere o engenheiro.

As duas fotos abaixo mostram a estação de tratamento de resíduos de couro do JBS. Foram feitas pelo próprio poster, ao sobrevoar a área.

Friboi 2

O mau cheiro que vem desse parque industrial pode ser sentido, no início da noite, na estação ferroviária, localizada nas imediações do frigorífico. E sua propagação ganha a cidade, tão logo o gás sulfídrico  recebe pressão de ar frio, durante a noite.

A própria localização do JBS, num dos pontos mais altos de Marabá,facilita a propagação da fedentina, pela ação de ventos.

Friboi

 

Nota do blog:  O blog tomou conhecimento de que uma equipe da Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente) encontra-se na cidade, desde a manhã de terça-feira, 24, fiscalizando os frigoríficos.

Como já é recorrente, sempre que uma força tarefa do órgão fiscalizador  desembarca na cidade para a realização de blitz, o  mau cheiro que exala do JBS, como num  gesto de mágica, desaparece.

Hoje, como exemplo, quem chegou  bem cedo ao frigorífico, não sentiu nenhuma anormalidade no ar.

Providencialmente, na certa alertados por alguém do próprio órgão fiscalizador, o poderoso JBS joga em suas lagoas e nos equipamentos de processamento, produtos que inibem o mau cheiro dos compostos químicos.

A população, nas próximas horas não sentirá a fedentina cobrindo a cidade.

Mas tão logo os fiscais do estado  deixaram Marabá, o insuportável odor voltará à vida cotidiana da cidade.

Como são de elevados valores monetários os produtos utilizados para inibição da fedentina, o JBS prefere deixar a população sofrendo os efeitos danosos do gás sulfídrico.

Mais vale a redução de custos do que a preservação da saúde pública.