Com informação da AgênciaPará:

 

 

Considerado um super alimento por seu conhecido valor nutricional e capacidade antioxidante, além de combater o surgimento de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, o açaí também pode apresentar benefícios como a redução de transtornos gastrointestinais e do colesterol.

É o que aponta um estudo feito por pesquisadores do Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA), laboratório ligado à Universidade Federal do Pará (UFPA) e instalado no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, em Belém.

 

Os pesquisadores isolaram e identificaram, pela primeira vez, espécies de bactérias lácticas endofíticas (que habitam o interior de uma planta) do açaí, com alto potencial probiótico e que podem garantir a segurança alimentar no consumo do açaí azedo.

A pesquisa avaliou a atividade antagônica in vitro de três cepas de bactérias lácticas (Pediococcus pentosaceus B125, Lactiplantibacillus plantarum B135 e Lactiplantibacillus plantarum Z183) contra dois patógenos – organismos capazes de causar doenças – a Salmonella typhimurium e a Escherichia coli.

 

“A atividade antagonista em nosso estudo avaliou a capacidade das bactérias lácticas de inibir o crescimento das bactérias patogênicas no suco de açaí mantidos em temperatura ambiente por um período de até 72h, que é o tempo máximo que o açaí ainda é consumido. Os resultados mostraram que as três bactérias lácticas foram capazes de inibir os dois patógenos. Sendo que para Salmonella, foram ainda mais eficazes”, apontou Suenne Sato, primeira autora do artigo.

 

Além da atividade antimicrobiana, as cepas também apresentaram a capacidade de resistir a situações de estresse que simulam a passagem pelo trato gastrointestinal.

“O trajeto da boca até o cólon, local onde as bactérias probióticas devem colonizar e exercer atividades, apresenta inúmeras condições hostis pelas quais as bactérias precisam resistir e assim chegarem vivas no cólon em quantidade suficiente. A condição ácida do estômago é a primeira situação de grande estresse para os microrganismos, portanto realizamos alguns testes in vitro para verificar a viabilidade das cepas nessa condição e em condição subsequente, como a resistência aos sais biliares”, informou Suenne.

 

“É importante que esses microrganismos sejam seguros para uso e que também exerçam uma ou mais atividades benéficas. Para as bactérias isoladas no nosso estudo, fizemos o teste de desconjugação de sais biliares para identificar se elas apresentavam alguma atividade relacionada. Os resultados apontaram positivo para todas testadas. Isso significa uma possibilidade de contribuírem para a redução de colesterol sanguíneo”, complementou a pesquisadora.

 

O pesquisador Hervé Rogez, coordenador do CVACBA e orientador da tese de doutorado que deu origem ao artigo, destacou a importância da descoberta.

“O cólon e o intestino grosso desempenham um papel muito importante para a saúde humana, é o segundo órgão que melhor deve ser cuidado, depois do coração. Há pelo menos 20 anos, os probióticos já vêm sendo estudados, mas aqui na região ainda temos poucos trabalhos sobre. O fato de ter descoberto mais um benefício no consumo de açaí, fruto tão comum na dieta da região, é muito relevante”, afirmou Hervé.

 

As bactérias isoladas estão armazenadas no banco de bactérias do açaí no CVACBA para aprofundamentos futuros no intuito de descobrir mais funcionalidades e possíveis aplicações. “As cepas podem ser utilizadas não só em alimentos, mas também na agricultura e no setor cosmético, já que os endofíticos possuem um bom histórico de serem potenciais produtores de metabólitos (substância produzida durante o metabolismo) de interesse econômico. Ter microrganismos endofíticos especialmente isolados dos frutos de açaí pode contribuir ainda mais para a valorização desse alimento e possivelmente para trazer benefícios econômicos para toda a cadeia produtiva do açaí e para as regiões produtoras”, finalizou Suenne