No sábado e domingo, finalmente, assisti intensamente aos jogos do Campeonato Brasileiro. Confesso ter perdido a paixão que sempre tive pelo futebol graças aos treinadores caolhos e a muitos pernas de pau soltos por aí.

Tenho saudades de Zico, Adílio, Andrade, Julio César, Dinamite, Reinaldo, Tostão, Rivelino, Gerson, Afonsinho ( “Prezado amigo Afonsinho/ eu continuo aqui mesmo/ aperfeiçoando o imperfeito/ dando um tempo, dando um jeito/, desprezando a perfeição..”), Paulo César Caju e tantos outros.

Na geração seguinte, o melhor foi Romário. Ele verdadeiramente foi O Cara. Na Copa de 94, uma seleção medíocre ganhou o caneco com esquema tático totalmente centrado nele. Copa trazida sem o brilho de equipe, mas com o brilho de Romário. Sempre recebendo duas ou três bolas por jogo e decidindo ali na pequena área. Até o último minuto ele foi evitado pela comissão técnica. Isso, no entanto, serviu, de todo modo, para mostrar que a oposição entre arte e força é um problema no futebol brasileiro, como Telê Santana sempre soube.

Zagallo e Felipão disputam irritantemente com o craque; querem diminuir o craque, colocá-lo em lugar subalterno. Parreira é um jogador de pôquer que tirou uma mão cheia de azes e reis, mas que, no fundo do fundo, e diante do espelho mais íntimo, como disse bem o Tostão, preferiria ser o técnico da Inglaterra, uma equipe mais mediana e aplicada. Um pouco chegado a escola de Telê temos apenas o Luxemburgo.

A poesia é instantânea. Assim como na literatura, dizia Allan Poe, não existe poema longo: o poema longo é feito de prosa poética com momentos de genuína poesia. O jogo de futebol também é assim: sem o arroz com feijão do jogo, sem jogar prosa, ninguém ganha coisa nenhuma. É preciso a prosa, a boa prosa, para que a poesia apareça.

Voltei a ver os jogos do CB sábado e domingo, mas não me empolguei. Lampejo de um ou outro jogador mediano é muito pouco. Eu quero o delírio da embaixada nos ombros como fez dia desses Alexandre Pato correndo com a bola em alta velocidade, o drible sem-vergonha do Robinho que os treinadores açougueiros preferem travar.

O futebol ficou tedioso, transformou-se em espetáculo mercantilizado.

Posso estar sendo cruel demais em meu posicionamento. Mas eu prefiro o luxo da bola de efeito do que o chute nos culhões -, como gosta de recomendar este recurso aos jogadores de meu querido Flamengo, o atual açougueiro Joel Santana.