Enquanto a atualização do blog não volta em sua nova plataforma gráfica, continuamos aqui, em sistema  slow motion,  vez por outra, postando reprodução de textos.

O abaixo é de autoria do jornalista Napoleão de Almeida (*)

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Sim, é fato que a FERJ é contra a Primeira Liga, competição que começou ontem com clássicos do Brasileirão em formato de torneio de pré-temporada.
Mas um movimento que recebe elogios de torcedores, atletas, imprensa e tem adesão de mais da metade dos principais clubes do Brasil pode ser considerado unânime, algo raro no futebol brasileiro. Até mesmo os paulistas, afastados da iniciativa, sabem que o início da salvação do principal esporte nacional estará em campo no Rio, no Sul e em Minas.
 
Foi fácil escolher um lado nessa queda de braço entre a CBF, empurada pela FERJ, e máquinas de popularidade como Flamengo, Atlético-MG, Cruzeiro, Inter, Grêmio, Atlético-PR, Coritiba e Fluminense. É sabido que cada um tem sua motivação para a Liga.
Criadores intelectuais da competição, os paranaenses rapidamente encontraram apoio nos mineiros, já que ambos vivem a reclamar do déficit dos seusEstaduais. Já os catarinenses, por exemplo, não estão contra o Estadual (e isso não precisa ser um requisito para gostar da Liga).
Cariocas estão, por política, enquanto os Gaúchos não reclamam e até gostam de manter suas tradições, mas entendem a evolução do negócio.
Mas é a CBF, que vem arrebentando os clubes ano a ano, por centrar suas operações milionárias na hoje decepcionante Seleção e ignorar o que deve melhorar no Brasileirão, a responsável por tamanha adesão à Liga. 
Ela tem medo de perder o comando e seus poderosos cartolas, de perder o status quo. Reflexo do que é o Brasil como sociedade, onde ninguém quer largar o osso.
A poderosa Alemanha tem sua federação completamente à parte da Bundesliga, uma das ligas mais bem-sucedidas do Planeta. É assim na Espanha, na Inglaterra.
É assim nos EUA, que, se não têm a tradição do Brasil na bola, têm know-how de sobra para ensinar em organização de eventos. Não dá pra aceitar a sequência dos interesses de meia-dúzia de cartolas denunciados nos mais diversos esquemas, vergonha internacional, no comando da paixão nacional.
 
O torcedor escolheu e acolheu rapidamente a Primeira Liga, o que é possível observar pelos públicos da primeira noite de jogos. A imprensa de pensamento livre, também. E os clubes parecem dar um grande passo rumo à independência. Jogar a competição sem o aval da CBF, sem esperar a oficialização, é um grito que certamente irá contagiar outras praças.
O Nordeste fez escola com seu regional bem sucedido; o Paulistão ainda mantém sua força, é o Estado mais rico da união. Mas em ambos os casos, os clubes destas praças, assim como Goiás, Paysandu e outras potências regionais, vão entender o recado.
 
Os Estaduais não precisam e nem devem acabar. Devem ser uma escada para as maiores divisões nacionais e parar de sacrificar os grandes com campeonatos arrastados.
Devem ser alternativa para praças menores oferecerem entretenimento esportivo, casos de Caxias do Sul, Maringá, Ribeirão Preto, Uberlândia e outras cidades médias do Brasil, que ainda não têm clubes em condições de jogar um campeonato de elite, mas podem oferecer um bom produto ao seu público e manter empregos e produção esportiva, revelando atletas.
A Liga vem com a ideia de deixar aqueles que se estabeleceram como grandes após um século de história num campeonato mais rentável. Uma reestruturação de cima à baixo, que no futuro deverá ter mérito desportivo, e que irá gerar mais renda e um melhor produto para todos.
 
A Copa União, quando surgiu, em 1987, era um clubinho fechado. A Primeira Liga, ainda que tenha traços de clubinho, comporta uma espécie de “acesso”. América-MG e Criciúma garantem o acesso técnico na Primeira Liga, por serem os melhores rankeados nacionais, em detrimento a Paraná Clube, Chapecoense e Joinville.
Esses três não devem esperar muito para entrar na festa: a semente foi plantada e outros devem aderir no futuro, até que naturalmente a competição suplante o Brasileirão. Isso, claro, se os dirigentes corrigirem os erros do atual nacional, como a criminosa divisão de cotas, a promoção do evento, a racionalização do calendário – que hoje compete até com Datas Fifa -, a profissionalização da arbitragem, o controle de acesso ao campo e a segurança dos torcedores, combatendo aproveitadores e delinquentes que atuam debaixo dos olhos da CBF, acomodada pela inércia de seus cartolas.
 
É possível? Saberemos a partir de agora.
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 * Napoleão de Almeida,  é narrador, jornalista e gestor esportivo.