Não sou especialista em assuntos do Vaticano, mas está soando muito estranha essa justificativa de Joseph Alois Ratzinger para renunciar ao papado.
Enquanto Bento XVI, Ratzinger demonstra, em suas aparições públicas, vitalidade e plena capacidade de comando de seus gestos e atos.
Aos 85 anos, o Papa deixará de ser Papa expondo estranha explicação para consumar seu ato.
O mínimo se pode suspeitar de briga interna no coração da Igreja Católica.
Muita gente não se dá conta, mas o Vaticano – embora pequeno em extensão territorial – é o Estado mais poderoso do planeta, porque nenhum outro tem tantos súditos, de coração e mente, no globo terrestre. E, embora a mensagem para os fiéis seja de paz e amor, intramuros a disputa pelo poder nada tem a ver com a oração e engendra projetos diabólicos.
Aliás, nem dá para dizer que isso é novidade.
Ano passado (lembram?), a imprensa mundial fez uma rápida referência à existência de mais uma crise no Vaticano.
Na Itália, um jornal de grande circulação (não lembro o nome) divulgou um documento que seria a prova de um complô em pleno andamento para assassinar o papa Bento XVI.
Os arquitetos da trama seriam cardeais insatisfeitos com a excessiva dedicação do pontífice às questões doutrinárias, e um dos motivos do descontentamento seria o fato de Bento XVI não cuidar dos assuntos políticos, preferindo deixá-los a cargo do secretário de Estado da Igreja Católica.
Por causa disso, divulgavam os jornais da Itália, muitos cardeais queriam um novo papa na Santa Sé.
E, pelo jeito, não estavam para brincadeira.
Deram até o prazo de um ano, data limite para o Papa renunciar ao cargo, caso contrário seria morto.
Neste fevereiro, faz exatamente um ano da denúncia da trama.
Se aquela história foi verdadeira, só o tempo dirá, mas o súbito anúncio de Joseph Ratzinger, alegando idade avançada para tocar seu rebanho, não bate.
Imprensa especializada em Vaticano, na Itália, chegou a insinuar movimentos frenéticos do Arcebispo de Milão, Angelo Scola.
Ele é quem deveria entrar em cena em substituição a Ratzinger, no Pontifício.
O Vaticano, em fevereiro de 2012, se pronunciou, definindo aquela notícia como “absurda e louca demais para merecer crédito”. Mas não descartou a existência do documento.
O fato, em fevereiro de 2012, configurou a preocupação de alguém, dentro do Vaticano, em querer que o clima de brigas pelo poder dentro da Cúria chegasse ao conhecimento público – como que a pedir “ajuda” contra a suposta trama.
Observando o tempo da denúncia da trama, chegamos, agora em fevereiro, a 12 meses do período estipulado pelo denunciante da suposta tentativa de assassinato do Papa.
Claro, a Igreja Católica jamais admitirá essa versão como verdadeira, mas os estudiosos em Vaticano, não muito distante, elucidarão essa estranha renúncia.
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Atualização às 12:01
A matéria que transcrevo a seguir foi publicada ano passado na Espanha, depois da prisão do mordomo do Papa Bento XVI, acusado de roubar documentos para alimentar supostos opositores do Chefe da Igreja Católica.
Traduzida para o português por Luiz Roberto Mendes Gonçalves, texto serve como parâmetro para os leitores do blog medirem a extensão – e gravidade -, da luta intestina que se trava dentro do Vaticano.
Acabei de descobri-la em pesquisas que estou fazendo sobre o Vaticano.
É uma sustentação ao post por mim publicado acima, e foi escrita pelos jornalistas Pablo Ordaz e Lola Galán, do jornal Do El País
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A detenção do mordomo do papa deixou a descoberto uma guerra de poder no Vaticano. O cardeal Bertone enviou para o exílio alguns de seus colaboradores mais queridos. Bento 16 tenta obter uma trégua, mas a luta é encarniçada.
Nesta história cheia de traição, métodos obscuros, soldados do Altíssimo que lutam pelo poder com armas do demônio, um mordomo ladrão, um papa doente e um banco que usa o nome de Deus em vão, talvez o único homem bom seja o padre George.
George Gänswein é alemão, tem 57 anos, 1,80 metros de altura, corpo atlético, cabelos louros, olhos claros. Há nove anos é o secretário pessoal de Joseph Ratzinger, e há alguns meses seu único antídoto contra o ar envenenado do Vaticano. Um dia não muito distante, chegou ao seu número de fax – ao qual poucas pessoas têm acesso – uma carta comprometedora dirigida ao papa.
Depois que Bento 16 a lesse, monsenhor Gänswein decidiu guardá-la em seu pequeno escritório situado dentro do apartamento papal. Não convinha que aquela missiva saísse dançando por um Vaticano transformado em campo de batalha. Por isso, quando o padre George a viu publicada em um livro, com dezenas de documentos secretos, soube imediatamente que o traidor, o corvo, a toupeira, tinha de ser alguém muito próximo. Alguém da família.
Assim são chamados intramuros. A família pontifícia. A família do papa. Os habitantes do Apartamento – assim, com A maiúsculo, é como escrevem no Vaticano – no qual Joseph Ratzinger, mais caseiro que seu antecessor, o muito viajante Karol Wojtyla, passa a maior parte do dia. Além do padre George e do outro secretário, o sacerdote maltês Alfred Xuereb, “a família do papa” é composta por quatro laicas consagradas – Carmela, Loredana, Cristina e Rosella -, uma freira que o ajuda nos trabalhos de estudo e escrita, sóror Birgit Wansing, e um assistente de câmara, Paolo Gabriele, seu fiel Paoletto, o primeiro que há seis anos lhe dá bom-dia, o ajuda a vestir-se e a celebrar a missa, o acompanha em todas as audiências públicas e privadas, lhe serve o café da manhã, o vinho nas refeições e a infusão da tarde, o acompanha em seus passeios pelo jardim do terraço e, ao cair da noite, o ajuda a despir-se e ir para a cama.
“Boa noite, santidade.”
A noite de 22 de maio foi a última em que Paolo Gabriele, 46, casado e com três filhos e dupla cidadania – italiana e vaticana -, acompanhou o papa. No dia seguinte, a Gendarmeria do Vaticano se apresentou em sua casa na Via de Porta Angelica, sobre o muro que separa os dois Estados, e o deteve. O segredo foi mantido por dois dias. No dia 25, no entanto, a notícia vazou: detido o mordomo do papa por revelar e divulgar documentos secretos. Os jornalistas buscam imagens do corvo, ou traidor. Não é difícil encontrá-las. Basta olhar as fotos do papamóvel. Junto do motorista, sempre com ar sério, aparece Paolo Gabriele. Atrás, de pé, distribuindo bênçãos, o papa, e no último assento, sorridente, o padre George Gänswein.
Se não fosse por seu físico – a revista “Vanity Fair” chegou a chamá-lo de monsenhor George Clooney -, o teólogo alemão seria um perfeito desconhecido. Até alguns meses atrás, George Gänswein executava exclusivamente seu papel de discreto ajudante de Joseph Ratzinger, sua sombra desde 1996, quando o então cardeal prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a antiga Inquisição, o chamou para o seu lado. No entanto, de um tempo para cá, padre George não teve remédio senão desempenhar um papel mais delicado: o de passagem secreta para ver o papa.
Aos 85 anos, Bento 16 vive isolado em seu Apartamento, encurralado pelas lutas entre os cardeais que tentam ganhar poder antes da celebração do próximo conclave. Ratzinger é um homem idoso e doente, mas é, sobretudo, um homem só. Seu velho amigo e teórico braço-direito, Tarcisio Bertone, o secretário de Estado do Vaticano, foi se afastando dele e ao mesmo tempo se transformou no inimigo a vencer pelos demais cardeais italianos.
É acusado de ambição desmedida, de relações perigosas com os poderes fortes da Itália, inclusive de se deixar influir por “ambientes maçônicos”. O papa, que nos últimos tempos observou com tristeza como o cardeal Bertone demitiu ou enviou para o exílio alguns de seus colaboradores mais queridos, sempre responde com a mesma frase a quem o aconselha a mudar de secretário de Estado; “Já sou um papa velho…”
Tenta obter uma trégua, mas o resultado é o contrário. A luta é cada vez mais encarniçada. Bertone se radicaliza e seus inimigos também não descansam. Sentado junto ao fax do Apartamento, o padre George continua recebendo cartas terríveis dirigidas a Bento 16.
Joseph Ratzinger não se parece em nada com Karol Wojtyla. É verdade que uma grande amizade os unia e que João Paulo 2º se apoiou no cardeal alemão até sua morte. O polonês era luminoso, cordial, incansável. Passava o dia apertando mãos, sorrindo, percorrendo o mundo. Em tal medida que, ainda hoje, quando se passeia pelo centro de Roma, dá a impressão de que o papa continua sendo o polonês, porque seus postais são os mais presentes, os que mais vendem.
Não era difícil, portanto, falar com João Paulo 2º, fazer-lhe chegar uma mensagem. Bento 16, por sua vez, não se apaixona pelas relações humanas. É tímido, embora cordial, sisudo, paciente, amante da leitura, mais pendente dos assuntos do céu que dos da terra. De fato, só alguns cardeais escolhidos – Ruini, Scola, Bagnasco – conseguiram demonstrar pessoalmente a ele sua opinião desfavorável sobre Bertone. Ocorreu há um ano, durante um almoço no Palácio de Castel Gandolfo, a residência de verão do papa. Os demais têm de se conformar com utilizar um canal: o fax do padre George Gänswein…
Um canal que, desde o último verão, deixa de ser seguro. O primeiro golpe chega com a divulgação, através de um programa de televisão, de uma carta do arcebispo Carlo Maria Viganò, atual núncio nos EUA, na qual conta ao papa diversos casos de corrupção dentro do Vaticano e lhe pede para não ser removido de seu cargo de secretário-geral do Governatório – o departamento encarregado de licitações e fornecimentos. Viganò, porém, é enviado para longe de Roma pelo secretário de Estado, Tarcisio Bertone. Diversas fontes afirmam que o papa chegou a chorar com essa decisão, mas não se atreveu a contradizer Bertone.
O segundo vazamento revela um suposto complô para matar o pontífice. Trata-se de uma carta muito recente enviada a Bento 16 pelo cardeal colombiano Darío Castrillón Hoyos, na qual lhe conta que o cardeal italiano Paolo Romeo, arcebispo de Palermo (Sicília), acaba de realizar uma viagem à China durante a qual teria comentado: “O papa morrerá em 12 meses”. Mas não só isso. Segundo a carta do bispo colombiano, escrita em alemão e sob o selo de “estritamente confidencial”, o arcebispo de Palermo despachou à vontade no país asiático, contando supostos segredos do Vaticano, como que o papa e seu número 2, Bertone, têm vontade de se matar reciprocamente e que Bento 16 está deixando tudo bem amarrado para que seu sucessor à frente da Igreja seja o atual arcebispo de Milão, o cardeal Angelo Scola.
Aqueles vazamentos de documentos, embora ainda a conta-gotas, causam comoção no Vaticano. Seu porta-voz, o padre Federico Lombardi, chega a admitir que a Igreja está sofrendo seu “Vaticanleaks” particular. O jornal “L’Osservatore Romano” publica um editorial em que descreve a situação de Bento 16: um pastor cercado por lobos.
Enquanto isso, Paolo Gabriele continua chegando todos os dias às 6 da manhã ao Apartamento para acordar o papa. É um privilegiado. Todos os funcionários do Vaticano o são. Não ganham um grande salário, mas fazem parte do plantel de uma empresa com 20 séculos de antiguidade, que dificilmente irá à falência, com prestígio social na cidade de Roma e uma série de vantagens – moradia dentro dos 40 hectares do Vaticano, gasolina muito barata – que na maioria dos casos são herdadas por seus filhos. A tempestade que nestes dias – o final de 2011 – açoita a Igreja passará. Como sempre, pelos séculos dos séculos.
Há uma anedota muito representativa. Há alguns anos, um jornalista espanhol perguntou a um cardeal sobre um conflito no seio da Igreja. O purpurado, muito sério, iniciou assim sua resposta: “Já tivemos esse problema no século 13…”.
A resposta, embora com outras palavras, continua sendo a mesma, inclusive a mais comum durante os dias posteriores à detenção de Paoletto: “Já tivemos problemas parecidos, inclusive maiores, e sempre seguimos em frente. Talvez o que mude agora é a velocidade e a magnitude na difusão da notícia. Isso, e não sua gravidade, é o que amplia o problema”. O problema, uma guerra de poder, puramente italiana. Tanto os sobrenomes que ilustram essa história de intrigas e golpes baixos como as armas escolhidas para o duelo têm denominação de origem. “Um típico jogo italiano”, o qualificam alguns meios de informação. Além disso, há uma razão de peso para que seja assim.
A cadeira de Pedro continua sendo ocupada por um estrangeiro desde 1978. A um papa polonês (João Paulo 2º, de 1978 a 2005) sucedeu um papa alemão (Bento 16, de então até hoje) e, se os cardeais italianos com menos de 80 anos – os que podem participar do conclave – não estiverem atentos poderão perder uma oportunidade de ouro. Atualmente, os cardeais eleitores são 122. Italianos, 30 (menos de um quarto), 11 americanos e seis alemães. Se quando Ratzinger morrer ou se demitir não o suceder um italiano, na próxima vez será mais difícil.
Antes inclusive do escândalo, já era patente o peso excessivo da Igreja italiana no Vaticano. Praticamente todos os cargos de responsabilidade relacionados às finanças estão em mãos italianas, apesar de os maiores contribuintes serem americanos e alemães. Da mesma forma, embora os EUA, a Ásia e a África sejam mais o presente que o futuro da Igreja Católica, no último consistório, realizado em 18 de fevereiro passado, não foi nomeado nenhum cardeal africano, e só um latino-americano.
Há alguns dias, um alto representante do Vaticano manifestou sua contrariedade: “Na América Latina já estão 47% dos católicos do mundo. Ali as igrejas estão cheias e na Europa vazias, mas o Vaticano continua demorando muito para nomear cardeais que não sejam europeus…”. Miloslav Vlk, cardeal de Praga e porta-voz da Igreja Internacional, o diz sem rodeios: “Talvez tenhamos perdido o impulso que nos deram Paulo 6º e João Paulo 2º e depois recolhido por Bento 16: uma Igreja que se abre para o mundo, um colégio cardinalício e uma Cúria mais internacionais, e portanto mais capazes de escutar as vozes e captar a energia que chegam também de longe”.
A detenção do mordomo ocorre algumas horas depois de outro fato muito grave. A demissão fulminante de Ettore Gotti Tedeschi, presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), conhecido como Banco Vaticano. A primeira explicação fala em “irregularidades em sua gestão”, mas depois o tom vai aumentando até chegar quase ao linchamento. A primeira explicação oficial critica o economista de 67 anos por “não ter desenvolvido funções de primeira importância para seu cargo”.
A verdade é que o Banco Vaticano está sendo submetido desde setembro passado a uma investigação judicial por suposta violação das normas contra a lavagem de capitais. Além de Gotti Tedeschi – presidente também do Santander Consumer Bank, a filial italiana do Banco Santander -, a promotoria investiga o diretor-geral do IOR, Paolo Cipriani. O diretor mostra-se enfurecido em suas declarações à imprensa: “Prefiro não falar. Se o fizesse, só diria palavras feias. Debato-me entre a ânsia de explicar a verdade e não querer turvar o Santo Padre com tais explicações”.
Tedeschi é dos poucos que guarda fidelidade ao papa. De fato, foi o próprio Joseph Ratzinger quem o recomendou a Bertone. Eram mais que velhos amigos. O economista, membro do Opus Dei, havia colaborado com o papa na encíclica “Caritas in veritate”. Agora, a colaboração que lhe pedia era mais terrena, e, portanto, mais difícil: resgatar das mãos do demônio as contas de Deus. Limpar o Banco Vaticano. Bertone e Tedeschi se chocam. Parece que há tempo não se falam. O economista amigo do papa ameaça se demitir. O secretário de Estado se adianta e o demite. Mas não se contenta com isso. Em plena guerra de vazamentos, aparece um documento no qual se ataca o já ex-presidente…
O assunto fica em segundo lugar. Toda a atenção agora está concentrada na sorte de Paolo Gabriele. A primeira pergunta é: por que fez isso? A segunda: para quem? Roma é tomada por um bando de corvos anônimos que se dizem companheiros de Paoletto, uma espécie de cruzada contra os assuntos turvos do Vaticano. “Paoletto não está só”, afirmam, “somos muitos, inclusive muito acima. Queremos defender o papa, denunciar a corrupção, fazer limpeza no Vaticano.”
As vozes anônimas confirmam o que já se sabia – o Vaticano é há meses um campo de batalha entre diferentes facções que lutam pelo poder -, mas suas teóricas intenções são difíceis de acreditar. Tão incríveis quanto alguns detalhes da operação: à frente estaria uma mulher e a tropa seria formada por uma plêiade de vingadores, de cardeais a mordomos, incluindo um pirata informático. Seu principal objetivo: proteger o papa de Tarcisio Bertone.
Depois de vários dias em silêncio, o papa fala. Mas não diz nada. Remonta 20 séculos atrás para lembrar que Jesus também foi traído. Acusa os meios de comunicação de ampliar o problema e confirma em seus cargos todos os seus colaboradores – incluindo Tarcisio Bertone Os muros do Vaticano se fecham ainda mais. O mistério, sempre presente nas histórias religiosas e laicas de Roma, envolve tudo. Paoletto já falou? Disse se roubou a correspondência do papa por sua conta ou por encomenda? Talvez seja o padre George, sentado junto a seu fax, o único que sabe a verdade, talvez o único que cumpra sua função de proteger o papa. Ou talvez não. Se em alguma coisa concordam crentes e descrentes de um lado e outro do Tibre é em que, como é habitual nos assuntos referentes ao Vaticano, jamais se saberá a verdade. Nunca se conhecerá o verdadeiro chefe de Paolo Gabriele, a identidade do corvo vestido de púrpura.
A Igreja Católica, que precisa da fé para continuar existindo, continua sentindo-se cômoda na obscuridade. “Já tivemos esse problema no século 13…” Em sua primeira encíclica – “Deus caritas est” (2005) -, Bento 16 citava uma frase de santo Agostinho que hoje soa profética: “Sem justiça, o que são os reinos senão um grande bando de ladrões?”
Intrigas e as lutas de poder provocaram escândalos durante séculos
Corvos no Vaticano? Maledicência e contas pendentes resolvidas nos meios de comunicação? “Peccata minuta” diante do histórico de escândalos do Estado pontifício, um território de apenas meio quilômetro quadrado onde as lutas de poder e a ambição sem limites criaram um microclima insano durante séculos. Não é preciso retroagir aos tempos dos Borgia (transformados, com fama de envenenadores, em bodes-expiatórios de toda a depravação do Renascimento italiano) para encontrar episódios sombrios desse suposto centro da espiritualidade cristã.
Em 28 de setembro de 1978, morria aos 65 anos João Paulo 1º, o italiano Albino Luciani, 33 dias depois de ser eleito papa. Oficialmente morreu de infarto, mas o cadáver de um pontífice nunca é submetido a autópsia. As teorias conspiratórias dispararam até alcançar o bispo Paul Marcinkus, então responsável pelo Instituto de Obras da Religião, o Banco Vaticano. João Paulo 1º havia se negado a ocultar o escândalo que sobrevoava as finanças vaticanas?
Os dados que se conhecem tornam pouco plausível essa hipótese, mas a verdade é que Marcinkus, um robusto prelado americano de origem lituana que havia se convertido na sombra de Paulo 6º, tinha motivos para lamentar a morte deste. Sua relação com Michele Sindona, um banqueiro ligado à Máfia, gerou suspeitas sobre a manipulação de dinheiro ilícito procedente dos EUA.
O escândalo explodiu em 1982, com a falência fraudulenta do Banco Ambrosiano, uma instituição católica da qual o Banco Vaticano era o principal acionista. A Santa Sé aceitou pagar milhões de dólares em indenizações a entidades estrangeiras afetadas pelo colapso do Ambrosiano. Roberto Calvi, presidente do banco, e Sindona optaram, supostamente, por suicidar-se. Marcinkus encontrou, entretanto, a proteção de João Paulo 2º, sucessor do papa Luciani, que o manteve no cargo até 1989. Um ano antes de se consumar a falência do Ambrosiano, o papa polonês sofreu um atentado gravíssimo, que as sucessivas investigações judiciais e o posterior julgamento não conseguiram esclarecer totalmente.
Outro tanto se pode dizer do assassinato, pelas mãos de guardas suíços, do comandante dessa histórica tropa papal, Alois Estermann, no mesmo dia em que foi confirmado em seu cargo, em maio de 1998. O Vaticano manejou melhor esse assunto explosivo, mas tampouco conseguiu evitar a gigantesca boataria em torno dele.
Foram os anos em que João Paulo 2º viajava pelo mundo e recebia no Vaticano, como um amigo pessoal, o padre Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, uma comunidade de religiosos com enorme desenvolvimento e consideração no México e em outros países. Maciel era um personagem influente nos palácios vaticanos e um dos mais queridos colaboradores do papa. Com grande discrição, trazia o dinheiro para as arcas sempre exaustas da Igreja e enchia com multidões as cerimônias religiosas presididas por Wojtyla. Mas a conduta do mexicano estava na boca de todo mundo. Numerosas denúncias de ex-legionários o descreviam como um sujeito cínico e amoral e um pedófilo consumado.
João Paulo 2º resistiu até sua morte, na primavera de 2005, a que se tomassem medidas contra Maciel, que um ano antes abandonou seu cargo à frente dos Legionários e morreu em 2008 com 89 anos, sem ser molestado por ninguém.
Joseph Ratzinger, que sucedeu Wojtyla à frente da Igreja com a promessa de acabar com a corrupção interna, arquivou a investigação sobre Maciel. Mas com a morte do fundador ficou claro seu histórico sexual de um depravado sem atenuantes.
Cleiton Borges
18 de fevereiro de 2013 - 23:59Até onde eu sei meu caro claudenor Jesus quando esteve por aqui nao pregou placa de igreja ,como vc diz que que a igreja católica foi deixada por ele.E no texto que vc diz tu és pedro e sobre essa pedra edificarei a minha igreja,ele não diz ser esta igreja a catolica.E se o Papa é realmente o sucessor de Pedro,pq ele nao se casa,porque na Biblia pedro foi casado.como vc me explica isso.
Luis Sergio Anders Cavalcante
14 de fevereiro de 2013 - 11:54Sim, sou dizimista, e isto não impede que se critique o que há de equívoco na Igreja. Vamos, exemplificar aquí mesmo em Marabá. O padre César(angolano) realiza bingos etc… e até fez um bloco para o carnaval da igreja, arrecadando dinheiro com venda de abadás. Isso é um negocio como outro qualquer. Não estou questionando o destino final do arrecadado. Ele(Pe. César) faz um bom trabalho, é moderno – até tido – por alguns, como “muito liberal”. Falar/afirmar que a Igreja é rica amigo, é fato. Só não enxerga quem não quer ver. Em 14.02.13, Marabá-PA
Reginaldo Negreiros, altere a forma como escrevestes teu comentário. O blog não publica texto redigido todo em letra maiúscula. Isso é feio, parceiro. Fica parecendo que estás gritando.
Claudenor Peixoto
14 de fevereiro de 2013 - 00:12Não adianta CÍCERO MACEDO, aqui está mais uma prova de que não se vale só conhecer de Deus, é preciso experimentá-LO na sua vida. Se fosse assim considerar a intelectualidade de um pobre filho de um carpinteiro, ele não teria voz e nem vez. É necessário muito mais do que a ciência no tocante das palavras, no que se expressa de conhecimento sobre este ou aquele assunto sobre a história da Igreja, é necessário o “Homem ter tido a experiencia do amor, assim como o antigo Saulo, que após ter esse encontro mudou de lado, mudou a forma de pensar, de perseguidor se tornou perseguido. A ciência é incapaz de traduzir tudo que São Paulo viveu, mas para àqueles que leram, ouviram e EXPERIMENTARAM, sem dúvida entenderam a “Loucura do Evangelho que pode ser transformada em amor. Não se pode discutir pontos de vista com quem ainda não teve esse encontro com o Senhor e sua casa. Falar que a igreja é rica e pede dinheiro é fácil, Mas gostaria de perguntar ao amigo que afirma ser Católico -você é ao menos dizimista amigo? Pra terminar, um recado aos que acham que entende de financias: Pego o dinheiro que você gannha e coloca ele debaixo do seu cochão por vários anos e quando você tiver bastante você junta e vai ao comércio e veja se o seu valor é o mesmo
#Corrija o sábio e o tornará mais sábio. Corrija o tolo e veja a ignorância se voltar contra você…
Jorge Antony F. Siqueira
13 de fevereiro de 2013 - 13:05Entendí a colocação do Cícero Macedo. E quanto ao “Banco Vaticano” ? A Igreja tem em sua historia uma espécie de nódoa, que é o envolvimento nada recomendavel e pouquíssimo divulgado, com os “Cappi de Cappi” da Mafia italiana. Acho que tanto Claudenor quanto Cícero, explicaram, mas as justificativas padecem de inconsistencia. Sou católico, e procuro me corrigir com certa frequencia, porém, não sou “beato”(aquele de estar dia-a-dia na igreja). Não acho que o Luis Sergio esteja a “procurar” defeitos na Igreja. É a realidade. Tanto o é, que os entendidos no assunto, já falam em um próximo papa bem mais novo cronológicamente, bem como mais moderno(atual). A Igreja, como Jesus a pensou e passou aos seus representantes diretos, definitivamente, não coaduna com conceitos tipo “Patrimonio da Humanidade” etc… É a atual demanda da Igreja Católica Apostólica Romana, sob pena, de não o fazendo, estagnar/estacionar no tempo. É o que penso. 13.02.13, Mba.-PA.
Luis Sergio Anders Cavalcante
13 de fevereiro de 2013 - 02:06Ora, continuo achando que há sim, contradição entre a igreja muito rica em dinheiro((com banco próprio e catedrais ornamentadas em ouro), afora outras benesses, tambem, e as campanhas visando doações para os mais necessitados. Há que se discernir e separar devidamente, a igreja cultural e histórica, da igreja capitalista. Ou será que todo o Vaticano(Estado) com seus milhares de súditos(Papa, Bispos etc…), sobreviveriam e manteriam a atual estrutura, hoje, por exemplo – já que se prega a humildade, pobreza(não de espírito) – com um salario mínimo brasileiro ? Quanto às evangélicas atuais, é de domínio público a escancarada e flagrante exploração comercial dos fiéis, que fazem doações em dinheiro em nome de benefícios fictícios,
, gerando uma enorme manipulação de massas. Donde se deduz o quão pouco evoluímos espiritualmente. Em 13.02.13, Marabá-PA.
CICERO MACEDO
12 de fevereiro de 2013 - 23:06Errata.
Onde se lê: a desinformação – no comentário anterior;
Leia-se: há desinformação.
CICERO MACEDO
12 de fevereiro de 2013 - 23:00Quanto ao que foi falado em relação à riqueza da Igreja, assevero que a desinformação de alguns comentadores sobre a referida riqueza.
Como o Claudenor afirmou a maior riqueza da Igreja é sua história, história essa pautada na Bíblia, da qual ela é legítima intérprete.
“Em 1870, na guerra de unificação da Itália, a Igreja perdeu seu território pontifício de 40 mil quilômetros quadrados; ficando apenas com o pequeno espaço de hoje: 0,44 km², em 1929, pelo Tratado do Latrão. Os objetos contidos no Museu do Vaticano foram doados aos Santos Padres por cristãos e pertencem ao patrimônio da humanidade. De acordo com esse tratado [de Latrão], a Igreja não pode vender ou doar qualquer bem que esteja no Museu Vaticano. Não há motivo, portanto, para se falar, maldosamente, da ‘riqueza do Vaticano’.”
VOUT
12 de fevereiro de 2013 - 21:26O papa Hatzinger qndo de sua eleição em 2005, já foi alvo de especulação mundial,devido ao fator idade,quem acompanhou lembra,hoje,aos 85 anos,portador de marca passo cardíaco, lógico que o conjunto idade;saúde e as necessidades que a condição de Papa,lhe exigem, desembocam no ato de coragem e bom senso da anunciada renúncia, o resto: TUDO BOBAGEM !!!
Claudenor Peixoto
12 de fevereiro de 2013 - 20:13A igreja CATÓLICA está acima de qualquer instituição existêncial sobre este planeta porque foi deixada por Deus:
Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;
E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
(Mateus 16,18-19) Quem tiver dúvida dessas palavras veja a sucessão Papal e chegará a Bento XVI.
Claudenor Peixoto
12 de fevereiro de 2013 - 20:08A violência da fé que falo é dessa retratado nos textos bíblicos: O Reino dos céus é arrebatado pelos fortes, destemidos, violentos. São Mateus nos diz: “A partir dos dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e violentos procuram arrebatá-lo” (Mt 11,12).
Quanto ao questionamento sobre a riquesa da igreja, caro amigo, se trata de uma riquesa da história e cultura, não é o ouro os objetos de maior riqueza da igreja e sim sua riqueza histórica, seus costumes de tradição e doutrina, já são 2013 anos de existências, padre quando morre não leva e nem deixa herança. São riquesas culturais, ao contrário de religiões nos dias contaporâneos fazem de tudo pra estorquir fiéis, como venda de tijolinhos, lenços suados de missionários e parte de benções que são oferecidos nesses dias para pessoas desesperadas por tantos problemas.
João Dias
12 de fevereiro de 2013 - 11:07EU LI, VALE APENA LER DE NOVO
Igreja: Carisma e Poder
Nesta obra, Leonardo Boff tenta explicar os princípios da teologia da liberação na própria Igreja, procurando mostrar que a libertação não vale apenas para a sociedade mas também para a Igreja em suas relações internas. Assim, é papel da Igreja pregar a libertação na sociedade e se comprometer com os oprimidos para que eles se organizem e busquem a sua libertação. “Igreja: Carisma e Poder” sustenta a tese de que a estrutura atual da Igreja católica romana pode e deve mudar, posição que acarretou severa crítica do Vaticano.
Igreja: Carisma e Poder – Leonardo Bof
ReginaCéliaLacerdaSoares
12 de fevereiro de 2013 - 09:04Acho que é por aí mesmo. O Luis Sergio bem colocou e ponderou acertadamente. O Sr. Hatzinger é teólogo iminente e bem preparado. Faltou a implementação do acordado no Concílio do Vaticano 2. A Igreja possui banco, e riquíssimo. Há contradição entre “uma Igreja rica” e que vem a público em países de maioria católica, pedir “doações” para os mais necessitados. Se a Igreja é rica, que ela mesma divida “sua riqueza” com os menos aquinhoados Concordo que algumas posições tem que ser revistas. No momento, a Igreja fica órfã. 12.02.13, Mba-PA.
Jorge Antony F. Siqueira
12 de fevereiro de 2013 - 07:26Caro Hiroshi, na esteira da renuncia de Hatzinger, gostaria de questionar o Sr. Claudenor Peixoto, segundo o mesmo, é católico praticante, quando afirma ” O homem precisa se adequar á igreja e não a igreja se adequar ao homem. A radicalidade do Evangelho não é para todos, sòmente para os que são violentos na fé”. Seria interessante detalhar essa tal “violencia da fé “. Ademais, o Sr. Claudenor, tambem deveria opinar, como bom entendedor da fé que norteia a igreja, discorrer sobre uma de suas contradições : A opulencia, riqueza(sim, de dinheiro) do Estado do Vaticano com suas Catedrais tendo imagens/cúpulas/naves revestidas em ouro. Ao que sei/aprendí, Jesus pregava tambem, o “não apego” a riquezas materiais, luxo etc… 12.02.13, Mba.-PA.
Claudenor Peixoto
11 de fevereiro de 2013 - 21:54Parabéns pelo texto, sou Católico praticante da minha fé e vejo neste momento uma disputar se procedentes dentro da igreja, é lamentável dizer mais o “Diabo” tem os seus até dentro da Igreja de Cristo. O jogo é de interesses: Poder, Dinheiro e um relaxamento das Leis que seguem a Tradição, Doutrina e Palavra. O momento agora pra nós fiéis é de penitenciar-nos em favor de nossa Igreja, cujo nascimento se dera nas palavras de Jesus ” Tu és Pedro, e sobre está pedra edificarei minha Igreja ”, (Mt 16, 17-20). Devemos observar que há uma conspiração contra nosso Bento XVI, de morte, perseguição e atentado a santa sé. Foi uma surpresa pra nós Católicos e para o mundo sia renúncia. Há boatos de correntes Maçonicas e da Teologia da Libertação que dizem que o influenciaram nesse momento de renúncia. Vamos orar e rezar por nosso povo. Em outro questionamento, acho que ele tomou as decisões cabíveis. Casamento Gay a anti-conceptivos a igreja não vai aceitar de forma nenhuma. O homem precisa se adequar a igreja e não a igreja se adequar ao homem. A radicalidade do Evangelho não é pra todos, somente para os que são violentos na fé.
Luis Sergio Anders Cavalcante
11 de fevereiro de 2013 - 17:10Hiro, a Igreja católica romana(Vaticano) à algumas décadas padece desse tipo de mal. Proliferam alguns “tipos de corrente” internas tipo “conservadores/modernistas/moderados” A igreja e os que a fazem, procuram não deixar transparecer a “crise”. Existem alguns “papáveis” (aptos a ser papa) que, a exemplo de Ratzinger adotam uma das linhas de pensamento e ações citadas, que terminam por contrariar outra das tendencias. Em meu modesto sentir, algumas posições oficiais da igreja em relação, por exemplo, ao aborto, padres/bispos pedófilos, teriam que ser enfrentadas abertamente, ou, no mínimo, revistas e/ou atualizadas. Não estou dizendo que a igreja tenha que mudar radicalmente. São alguns conceitos arcaicos que perduram e que reclamam mudanças. Acho ser uma das principais causas para a crise posta. Em 11.02.13, Marabá-PA.