Discurso do deputado federal Romário,  um dos maiores ex-artilheiros do futebol brasileiro, denunciando deputado picaretas e dedo-duro da ditadura militar, José Maria Marin, presidente da CBF:

Pegando pesado contra parlamentares desonestos e dirigentes de futebol mais picaretas ainda, Romário credencia-se, com sua postura séria  na carreira parlamentar, a criar seu espaço capaz de marcar muitos gols, asism como marcu quando jogava na seleção.

Pena que, como desde Pilatos, criou-se s a jurisprudência da desonestidade absolvendo Barrabás, os bandidos de gravata continuem sendo todos absolvidos ad eternum.

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Senhor Presidente
Prezados Colegas Deputados

Depois de algum tempo, volto a esta tribuna para denunciar um fato que, no meu entender, é de extrema gravidade.

Na noite da última terça-feira (9), o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Senhor José Maria Marin, foi recepcionado aqui em Brasília por mais ou menos 25 parlamentares.

Não estranho esse fato. Afinal, é comum e próprio da democracia o encontro entre deputados e senadores com autoridades de órgãos privados.

O problema, é que a reunião-jantar tratou, também, de um tema que está em discussão nesta Casa ainda de forma preliminar, mas envolve um duro golpe nas finanças públicas do nosso país.

Refiro-me à proposta em elaboração pelo Ministério do Esporte para anistiar uma dívida em torno de R$ 3 bilhões dos clubes de futebol.

Essa dívida, para quem não acompanha o assunto, é para com o INSS, Imposto de Renda e Fundo de Garantia. Ao longo dos últimos 20 anos, os clubes de futebol não repassaram ao fisco os valores devidos. A dívida cresceu e se tornou gigantesca pelo acúmulo de juros, principalmente.

Agora, por iniciativa do Ministério do Esporte, está em elaboração uma medida provisória para anistiar os clubes devedores.

Este assunto, foi discutido há mais ou menos dois meses na Comissão de Turismo e Desporto, da qual sou presidente.
Naquela ocasião, vários deputados que acompanham o assunto participaram da reunião com o diretor de Futebol do Ministério do Esporte, Antônio José Carvalho do Nascimento Filho, o Toninho.

E nunca mais, o assunto voltou a ser tratado nesta Comissão de Turismo e Desporto, o foro legítimo para tal.
No entanto, meus colegas trocaram o nosso ambiente de trabalho para se reunir fora da Câmara dos Deputados, na calada da noite com um cartola que representa a desmoralização da gestão esportiva, o Senhor Marin.

Lembro que Marin é um dirigente que teve íntima ligação com a ditadura militar brasileira. Roubou medalha, terreno público, além da acusação de roubo de energia do vizinho, mas, hoje, é recebido com pompas por deputados que, por respeito à ética, declino citar seus nomes, por enquanto.

Porém, tal reunião contou com a presença de pessoas estranhas ao corpo parlamentar, como o lobista da CBF, Vandenbergue Machado e outros, que opinam sobre tema que não lhes compete.

Em sua investida em Brasília, nesta quarta-feira o Senhor Marin também visitou o presidente desta Casa, o excelentíssimo senhor deputado Henrique Eduardo Alves.

E entregou ao representante maior do Legislativo brasileiro convite para que seja o chefe da delegação num amistoso da Seleção, em setembro próximo, nos Estados Unidos.

O que significa essa ação oportunista de José Maria Marin ao Parlamento Brasileiro, com convites e reuniões?

É uma ousada tentativa para silenciar a Câmara dos Deputados com a troca de favores e benefícios?

Ou Marin já está apresentando a fatura da CBF por ter concedido centenas de ingressos a parlamentares, durante os jogos da Seleção Brasileira na Copa das Confederações?

Precisamos repudiar esse comportamento, pois ele sugere nos intimidar diante do poder do futebol. Já basta o que fazia o presidente anterior, Sr. Ricardo Teixeira.

Não podemos silenciar nem nos dobrar quando um personagem que não honrou os princípios democráticos na história do Brasil, nem uma das maiores entidades esportivas do mundo, agora se aproxima do Legislativo para ter benefícios ilegais, imorais e altamente suspeitos.

Não fosse por isso, é preciso considerar que a proposta dos clubes, com apoio da CBF e do Ministério do Esporte para perdoar a dívida de mais de R$ 3 Bilhões é discutida fora do âmbito devido.

E, pior, essa proposta de anistia do fisco acabará premiando o caloteiro de ontem, onerando significativa e moralmente o cofre público e o contribuinte em geral. Muitos deles aproveitaram o calote para enriquecer ilicitamente, é claro que não me refiro a todos, nem as atuais gestões.

Sabemos que a presidente Dilma Rousseff prepara um rigoroso corte no Orçamento da República para tentar fazer frente à crise econômica que nos ronda.

E é num momento assim e diante do rigor que o governo quer impor às contas públicas que os cartolas querem ser anistiados do calote que impuseram ao fisco?

É difícil entender que essa proposta tenha o apoio do Ministério do Esporte!

É difícil entender que essa proposta volte a ser discutida de forma escondida e sem levar em conta o recado das ruas, das recentes manifestações que clamaram contra os abusos do Poder.

É mais difícil entender que órgão do próprio governo, o Ministério do Esporte, e representantes populares, os senhores deputados, abracem essa causa da anistia aos clubes de futebol no momento em que o Palácio do Planalto pede rigor nos gastos públicos e agilidade na arrecadação dos impostos para enfrentar a ameaça inflacionária e evitar que a crise econômica se agrave, com desastrosa repercussão na rotina da população em geral.

Será que este Parlamento já esqueceu que há poucos dias fomos surpreendidos por passeatas de jovens implorando por um País mais digno, mais honesto e com os poderes da República menos corruptos?

E é essa resposta que damos a essa juventude, recebendo e abraçando um cartola altamente suspeito de atos de corrupção, de gestão suspeita frente à CBF? E, pior, um cartola que nos remete à lembrança de uma ditadura que ainda lutamos para esquecer!!!

É neste sentido que apelo aos Colegas Parlamentares para que repudiem essa ação ousada e suspeita de José Maria Marin sobre o Congresso Nacional.

Mais: que repudiem a proposta que possivelmente virá do Executivo para anistiar caloteiros que não honraram o recolhimento de impostos de seus clubes e, agora, querem tratamento privilegiado, diferente daqueles que a lei impõe aos brasileiros em geral.
É neste panorama que volto a apelar ao Senhor Presidente da Câmara dos Deputados para que aprove e instale, o quanto antes, a CPI da CBF, da qual sou o autor do pedido.

Às justificativas que apresentei por ocasião do protocolo de pedido da CPI, acrescento agora fatos novos que não podem ser ignorados. Ao contrário, esta Casa tem obrigação política e institucional para investigar as denúncias que relacionei, pois elas envolvem, também, uma querida instituição intimamente vinculada à cultura esportiva, a nossa Seleção Brasileira.