Só pra refrescar a memória dos que não páram na História.

O texto é de Raphael Freire, da Assessoria de Comunicação da UFPA:





15 de Agosto de 1823, o Pará adere à Independência do Brasil. Em reunião em Belém, o governo local decide unir-se ao Brasil independente. A mudança ficou conhecida como “Adesão do Pará”, proclamada por D. Romualdo Coelho. O fato que determinou a história recente do Estado é o foco da pesquisa intitulada “Viva a Liberté!”: cultura, política popular, revolução e sentimento patriótico na independência do Grão-Pará, 1790-1824, do professor Adilson Brito do Campus de Cametá.

De acordo com o historiador, as pesquisas sobre o século XIX estavam muito concentradas na Cabanagem e os trabalhos mais representativos sobre a independência no extremo norte apontavam para o conceito de “adesão” que sugeria uma espécie de acordo ou pacto abstrato e relativamente pacífico que os historiadores clássicos enfatizavam. “É, no mínimo, simplista e ingênuo considerar o processo pacífico, vindo de fora e fruto de um tácito acordo entre as elites, como formulado no conceito de ‘adesão’, que é a expressão oficial relacionada à independência”, afirma Adilson.

A pesquisa realizada pelo historiador mostra, ainda, que a população se opunha contra as decisões do Estado e lutavam para garantir suas concepções de liberdade e cidadania. O estudo também constata que índios, mestiços e negros tinham conhecimento sobre os debates travados pelas autoridades e participaram ativamente de tal processo político. Essa participação efetiva de populares da época provocou um aumento expressivo, por parte do Estado, da violência sobre as camadas pobres, tendo maior controle sobre os escravos, realizando mais recrutamentos violentos e reforçando a vigilância das ruas, becos e portos da cidade, entre outras medidas amplamente impopulares.

Segundo o autor da pesquisa, as lutas emancipacionistas no Pará foram tão ou até mais violentas do que em outras partes, como na Bahia e em Pernambuco, onde as camadas de cor também se manifestaram de forma violenta pela mudança das relações sociais, quando o rompimento com Lisboa se tornara certo. “A independência não resolveu as questões internas de desigualdade social e racial, persistindo, assim, como um tipo de poder centralizado e elitista, herdado do antigo regime colonial”, conclui Adilson.