Um agradável texto da colaboradora Cláudia Borges exalta o talento da educadora Lara Borges (foto ao lado), que não tem nenhum parentesco com aquela, valorizando o trabalho que ela desenvolve em salas de aula, nas esquinas, no palco, na praça e, até, nos jardins.

Cavucando aqui e ali, Cláudia vai tirando do isolamento pessoas talentosas que muitos serviços prestam à Educação e ao desenvolvimento cognitivo de nossas crianças.

No Dia do Circo, 27 de Março, a homenagem a Lara, dedicada profissional que usa muitos temas circenses como pauta de suas ações educativas.

Cláudia Borges explica:

– “No circo tudo é alegria, imaginação, tudo se transforma em espetáculo: incentivar a criança cantar, dançar, movimentar o corpo seguindo ritmo musical, é um dos eixos muito importante a desenvolvimento infantil,  integra aos aspectos sociais, afetivos, estéticos e cognitivos. A música e as brincadeiras circenses mantém uma forte ligação com o brincar. A Lara faz isso muito bem, razão pela qual não podemos nunca deixar de homenageá-la”, diz.

A seguir, o texto de Cláudia:

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Há mulheres na vida real que são grandes genitoras de gerações de ideias, processos, genealogias, criaturas, períodos da sua própria arte…

Clarissa Pinkola Estés

 

 

Era uma vez, uma menina dona de uma infância colorida, criada na rua 5 de abril da Velha Marabá. Vamos adentrar as memórias de uma genitora de gerações de ideias. Era uma menina de muitos amigos imaginários e ouvintes de muitas histórias. De tantas brincadeiras vividas naquela rua, cheia das aventuras dos encantados que habitavam a natureza exuberante do bairro.

E nas asas da sua imaginação pairavam matinta, boiúna, porca de bobes… Eram histórias vividas, ouvidas e contadas no seio familiar, nas andanças feitas pelas ruas, do olhar e ouvidos atentos para os sussurros, barulho de pegadas, assovios misteriosos, à boca da noite.

Entoando uma vida simples, a menina que é fruto do amor entre um castanheiro, homem da terra, grande contador de histórias, e uma mulher forte, que para oferecer oportunidade de estudo para os filhos, ficou na cidade, fazendo diversas atividades como por exemplo ser lavadeira, para geração de renda e sustento da família.

Nossa mulher da vida real, como uma grande castanheira cresceu e cresceu muito. Uma árvore frondosa que cativou um pertencimento na comunidade. Suas folhas apresentam um verde que chama atenção. Lara Borges, essa mulher multifacetada, dona de uma linguagem mágica e sugestiva, que se assemelha a poética das histórias contadas em torno de uma fogueira.  Sua voz doce e tranquila, provoca o despertar da paixão pela arte, pela vida e por uma cidade, a bela Marabá.

Suas atividades culturais realizadas em Marabá dão asas para liberdade de uma comunidade. Tudo começou com um sonho de ser uma artista de circo. Nutria a admiração pelo personagem, de nariz vermelho, que desperta risadas de lugares enrijecidos pela vida, o palhaço. Na juventude, trabalhando em lojas no centro da Velha Marabá, ficava encantada com alguns palhaços que passavam por ali. Um dia, pensou e disse: “Um dia vou ser uma palhaça”. O sonho ficou adormecido, cravado no seu coração.

Após alguns anos, morando no bairro Liberdade, sentiu a necessidade de ter uma biblioteca, para que as crianças realizassem as pesquisas escolares. E foi assim, de um chamado avassalador, que nasceu uma biblioteca comunitária, aos poucos reuniu alguns exemplares de livros na sala da sua casa. E no piscar de olhos, aquela sala estava tomada por crianças e livros. E a comunidade envolvida pela causa da leitura trazia livros e mais livros.

Aquele espaço comunitário era um lugar de encontro com os livros, com o outro e consigo mesmo. Lara comentou, que um dia em uma oficina de pintura realizada naquela sala, uma criança pediu para batizar a biblioteca. Ela ficou intrigada e pensativa qual nome seria dado para aquele sonho. Então, pesquisou a biografia de várias personalidades da literatura, consultou a opinião parceiros da biblioteca e mergulhou na sua história de vida.

Mas, foi e em uma conversa com sua mãe, que descobriu outra grande mulher da sua vida, era a mais sábia de todas, a vó Hozana Lopes de Abreu. Ela fez a diferença, na luta contra o analfabetismo na zona rural. Com papel de embrulho do pão, que se torna folha de caderno e do pedaço de carvão, brotava um lápis para escrever o nome e as coisas do mundo.

Assim, a biblioteca comunitária foi batizada com nome da vó Hozana Lopes de Abreu. O espaço foi nomeado e a idealizadora Lara Borges encontrou um capítulo da sua história, a vida e luta de leitura da sua avó materna. A biblioteca viva, um espaço acolhedor com muitos livros e a manifestação artística de uma comunidade. Anos de luta e resistência, projetos de leitura, teatro, dança, doação e empréstimos de livros.

Sabe aquele sonho adormecido do circo que estava tão latente na pele da Lara Borges? Então, as atividades da biblioteca foram ganhando corpo, voz e adeptos. As crianças e os jovens entusiasmados com as ações desenvolvidas nesse ambiente, começam apresentar arte, cultura e os talentos para Marabá. E com sorriso no rosto e a esperança no olhar aquela encantadora mulher conquistou a comunidade, os parceiros e um espaço no mercado.

 

Após quase treze anos entre o sonho e a materialização da biblioteca, entre muitas conquistas, nasceu a personagem tão desejada por Lara Borges: a palhaça Chiclete.   E com isso, através de algumas apresentações em espetáculos da Chiclete e os meninos com mágico nariz vermelho, realizados em diversos eventos, surgiu “A turma do Sorriso”.

 

E como hoje é o Dia do Circo (27 de março). Esta data serve para homenagear este tipo de entretenimento que encanta crianças e adultos de todas as idades. A turma do Sorriso é a alegria que vibra da esperança de uma comunidade que grita por LIBERDADE e expressão de arte.

 

Pescador, pescador vem quebrar meu encanto… Nasce a performance da Boiúna na pele da Lara Borges. Conforme a contadora de história “Eu sou a boiúna. Quando estou vivendo essa lenda. Eu entro naquele mundo.”  Seu hino poético dar corpo, voz, gestos, expressão facial e um olhar que nos transportam para o universo das histórias contadas de boca em boca, das suas vivências das ruas de Marabá e de histórias que saltam as páginas dos livros.

A artista da palavra apresenta seu processo criativo:

 

– “Eu ensaiei o texto da boiúna contando a história no banho, mas a vontade era passar o texto dentro da água.  Se eu soubesse nadar… A sensação que naquela hora, em contato com água, nascia a performance da boiúna…  Quando vou vestindo a roupa que imita a pele de cobra, a maquiagem, os gestos e o olhar, tudo é da boiúna”.

Lara é integrante do grupo Historiar-te, movimento de contadores de história.

Ela é uma agente cultural que se destaca no mundo da mediação de leitura e contações de histórias.

De tantos projetos realizados da Biblioteca comunitária Hozana Lopes de Abreu podemos destacar “Doutores Sorridente” belíssimo trabalho encenado nos hospitais do município,  Grupos de Dança e Teatro, “Turma do Sorriso”, dentre outros.

Em outras palavras, Lara Borges é uma mulher multifacetada, contadora de história, escritora, artista plástica, mãe, vó, esposa e amiga de uma comunidade.

Talvez sua maior faceta seja o Amor, a sua intensidade em viver a arte e difundir boas ideias.

 

Cláudia Borges   – Professora de Literatura por desafio, contadora de história por amor, graduada em Letras pelos sonhos, pós-graduada em Língua Portuguesa por dedicação e Mestranda em Letras por curiosidade.