No final da tarde desta segunda-feira, 26, o blogueiro entrevistou o Reitor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Francisco Ribeiro da Costa.  Diversos assuntos foram abordados na conversa, inclusive,  a confirmação de que ele decidiu apresentar seu nome à avaliação da comunidade acadêmica, na disputa pela escolha dos futuros dirigentes da Universidade.

“Sim, sou pré-candidato”, disse.

Alguns assuntos que não eram do conhecimento público vieram à tona, como a revelação de que as candidaturas de Francisco Ribeiro e de Fábio Araújo, registradas na eleição e 2020, foram consequência de uma estratégia elaborada pelo ex-Reitor Maurílio Monteiro.

Ciente de que dificilmente o ex-presidente Jair Bolsonaro o nomearia  para continuar no cargo, caso fosse o mais votado da lista tríplice, Maurílio convidou os dois colegas a participarem do processo como coadjuvantes, na certeza de que o então reitor obteria votação histórica, o que poderia sensibilizar o governo federal na hora de fazer a nomeação.

Só que tudo transcorreu ao contrário.

Bolsonaro, em suas conhecidas atitudes estúpidas, decidiu nomear o menos votado, no caso o atual reitor Francisco Ribeiro.

Dirigindo a Academia num dos períodos mais difíceis da história das Universidades brasileiras., enfrentando Covid e a perseguição de um presidente da República que odeia o aprofundamento do conhecimento da população, o atual reitor conseguiu superar obstáculos, inclusive, na área orçamentária, garantindo o funcionamento da Unifesspa em delicado momento que ameaçava o trivial do dia a dia.

Agora, pré-candidato diante da eleição que escolherá os futuros dirigentes da universidade, Francisco Ribeiro vem sofrendo pesados ataques dos defensores da pré-candidatura de Maurílio Monteiro com a argumentação, espalhada por seus adversários,  de que ele “não tem representatividade” para pleitear a recandidatura.

Na entrevista, Ribeiro deixa claro que vai oferecer seu nome à avaliação do mundo acadêmico  sobre o trabalho que está realizando na Unifesspa.

“Só quem tem autoridade para dizer se tenho ou não representatividade para representar a Unifesspa, é a nossa comunidade. Ela quem dirá se devo concluir ou não as metas estabelecidas para a consolidação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará como um polo de ensino respeitado e que está apresentando resultados na formação do conhecimento do povo paraense”, diz Francisco Ribeiro.

 

Leiam a entrevista a seguir:

 

 

Professor Francisco, quando foi que sua vida cruzou com a Unifesspa?

Passei no concurso em 2006, na então UFPA, campus de Marabá , que se transformou na base do que é a Unifesspa.

 

O que lhe motivou a concorrer à Reitoria da Unifesspa em 2020?

Essa é uma história que poucos conhecem, importante contar, principalmente, com a proximidade das eleições. As três chapas que concorreram em 2020 tinham como único objetivo eleger o Maurílio Monteiro como reitor, que temia não ser nomeado pelo governo Bolsonaro.

 

Então o senhor não foi concorrente do reitor à época, mas sim um aliado numa armação para driblar o Governo Bolsonaro?

Exatamente. Eu e o professor Fábio Araújo montamos nossa chapa e plataforma de proposta no gabinete do ex-reitor (Maurílio Monteiro).  Fiz isso por entender que era o certo a fazer, por fidelidade e por ser totalmente contra o governo Bolsonaro.

 

Como foi a surpresa de saber que o plano não deu certo?

Naquele dia, enquanto realizava trabalho de campo no Rio Vermelho, em Eldorado dos Carajás, coletando sedimentos e imagens de drone para um projeto com o ITV, recebi cerca de 100 ligações de uma mesma pessoa. Intrigado, entrei em contato e descobri que essa pessoa já estava ciente da minha nomeação e tentava tirar proveito da situação, minha interpretação depois de avaliar os fatos.

Interrompi imediatamente minhas atividades de campo e fui ao gabinete do ex-reitor para relatar o ocorrido. No momento em que estávamos conversando, a pessoa em questão ligou novamente, oferecendo uma proposta que envolvia apoio de um grupo político em troca da minha aceitação como Reitor, com a condição de que ele se tornasse vice-reitor e indicasse uma pró-reitoria, além de ter três assessorias. Recusei veementemente essa oferta, recusando-me a “vender minha alma ao diabo” em troca do cargo.

Após essa situação inesperada, retornei para casa, onde fui surpreendido por uma ligação urgente do gabinete, solicitando meu retorno imediato. Ao chegar, deparei-me com dezenas de mensagens contendo o print do Diário Oficial da União com minha nomeação. A notícia pegou a todos de surpresa, inclusive a mim e ao ex-reitor, que ficou visivelmente perplexo.

 

Conversando com protagonistas da eleição de 2020, tomei conhecimento que o senhor chegou a pensar em não assumir o cargo, depois de tomar conhecimento da sua nomeação.  Tem cunho de verdade essa versão?

Sim! Ainda no gabinete (da Reitoria)  experimentei uma crise hipertensiva e precisei tomar medicamentos para controlar a pressão. Expressei ao ex-reitor (Maurílio Monteiro) minhas dúvidas e receios em assumir o cargo, mas ele me assegurou que renunciar não era uma opção viável, visto que teríamos de imediato com minha renúncia um interventor. Após algum tempo, minha pressão voltou ao normal, e acertamos uma reunião com as principais lideranças da Unifesspa para discutir o futuro institucional da universidade no dia seguinte.

Nessa reunião, recebi o apoio unânime das lideranças presentes para assumir o mandato e evitar uma possível intervenção. No mesmo dia, recebi uma ligação do então ministro da Educação Milton Ribeiro, informando oficialmente sobre minha nomeação e exigindo que eu tomasse posse imediatamente, visto que o mandato do reitor anterior havia expirado. Após assinar digitalmente os documentos necessários, dei início ao processo de transição com o ex-reitor.

 

O então Maurílio Monteiro  apoiou sua decisão em assumir a gestão?

Sim, incondicionalmente. Durante todo esse processo, lembro-me das palavras do ex-reitor Maurílio, que ressoam em minha mente até hoje: “Ser reitor é muito difícil. A partir de agora, se errar foi tu;  e se acertar,  foi tu”. Disse também outra frase que nunca esqueci:  “Lembre-se que o inimigo não está aqui dentro está lá fora”.

Com essas palavras em mente e o apoio das lideranças da universidade, assumi o desafio com determinação, ciente dos obstáculos e responsabilidades que estavam por vir.

O senhor se sentiu abandonado pelo antigo Reitor?

Sim, ele não cumpriu a palavra dele de fazer uma transição completa. Além disso, eu o convidei para ser meu vice-reitor, algo que aconteceu em outras universidades e ele não aceitou.

 

 O senhor geriu a universidade por três anos sob o governo de um presidente da República que fez de tudo para sucatear as universidades federais, chegando até pensar em privatizá-las. Como  foram estes anos? Imagino que não foram fáceis?

Foram, sem dúvida, os anos mais desafiadores da Unifesspa. Enfrentamos a maior pandemia do século e o governo mais hostil da história das universidades federais. Para você ter uma ideia, gerenciei a Unifesspa com 23% a menos de recursos que a antiga gestão. Com todos os gabinetes do governo federal fechados para a gente.

 E agora, o senhor pretende  concorrer nas próximas eleições?

Sim, vou concorrer.

 

O que lhe motiva?

Primeiro pelo amor imenso e gratidão que sinto pela Unifesspa. Segundo, pela grande quantidade de apoio e pedidos para que eu e a professora Lucélia (Cavalcante, vice-reitora) fiquemos. Este primeiro ciclo de gestão fizemos com a maré seca, como dizem nossos pescadores. Comemos o pão que o diabo amassou. Agora, sob o governo Lula, onde as universidades federais estão na agenda nacional, podemos fazer mais e melhor. Algo importante que nos motiva vão além das obras, captação de recursos e boa gestão, mas também numa gestão que ouve e respeita as pessoas. Que as entende.

 

Defensores do ex-reitor Maurílio Monteiro andam lhe atacando por meios de blogs, e redes sociais. Como o senhor tem reagido diante dos ataques?

Primeiro, não acho justo estar sendo alvo dos ataques. Assumi a reitoria por pedido dele e do grupo.  Ele, pelo contrário, abandonou a Unifesspa para tocar seu projeto pessoal. E não vamos responder aos ataques. A nossa campanha será focada em propostas exequíveis e compatíveis com nossos orçamentos e capacidade de captação de recursos.

 

Qual é esse projeto pessoal que o senhor acaba de se referir, que fez o ex-reitor Maurílio abandonar a Unifessp para tocar?

 Após o fim do seu mandato na Reitoria, o professor Maurílio empreendeu esforços junto à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica (SECTET) para a concepção de um projeto de pesquisa. O intuito era obter recursos para voltar suas atividades de pesquisa. Assim, foi firmado o Convênio de Cooperação Técnica e Financeira de número 005/2020, no montante de R$ 719.058,57 (Setec).

Esse projeto abarcava uma série de iniciativas, incluindo bolsas destinadas ao pesquisador coordenador, cujo valor estipulado era de R$ 7.200,00 mensais, ao longo de 32 meses. Essa disposição resultou em um total de R$ 230.400,00 a serem destinados ao coordenador ao longo da duração do projeto.

 

 O que o senhor tem a dizer a respeito desse projeto?

O projeto foi escrito e articulado pelo ex-reitor, que a época me convenceu de seu mérito e fez a articulação com o governo do Estado.  Eu estava há apenas dois meses no cargo e ainda estava aprendendo o funcionamento da máquina da Unifesspa.

Hoje vejo que o recurso poderia ser melhor utilizado em outras ações da Unifesspa.

 

Isso foi um prêmio de consolação por ele ter perdido a Reitoria?

Isso só ele pode dizer.

 

Os ex-reitores fazem isso? O senhor pretende fazer o mesmo depois de deixar o cargo?

Não é praxe. E eu nunca faria isso.

 

Onde posso acessar informações que mostrem a origem desses convênios?

São documentos públicos e estão à disposição de quem quiser verificar. No nosso portal, o Sipac. ( sipac.unifesspa.edu.br  )

Outra coisa: adicionalmente, em 2022, assinei um outro projeto importante para o ex-reitor. Esse segundo projeto envolveu um volume significativamente maior de recursos, totalizando um montante de R$ 4.342.738,10 (Quatro milhões, trezentos e quarenta e dois mil, setecentos e trinta e oito reais e dez centavos). Destaca-se que esse projeto contemplava a concessão de centenas de bolsas, abrangendo professores, técnicos e alunos.

O esclarecimento dessas informações é importante, visto que ultimamente minha equipe e eu temos sofrido vários ataques de diversas frentes, incluindo o ex-reitor e de seus apoiadores, com o intuito de desestabilizar a Unifesspa frente ao processo eleitoral que se avizinha. Deixar claro que o ex-reitor abandonou o projeto que ele mesmo criou.

Estes fatos demonstram que sempre fui imparcial e nunca pedi concessões para aprovar e assinar projetos do ex-reitor e de seus apoiadores.