Ser vanguardista, nos dias de hoje, não é fácil. Caetano Veloso tem provado isso.
O cantor parece perdido em vários sentidos da palavra.

Deixando de lado a qualificação, dada por ele, do Lula “analfabeto e grosseiro”, Caetano Veloso continua mostrando os dentes, esnobando a obra genial de Woody Allen – a ponto de ser criticado por vários artistas.

E, na entrevista a Sonia Racy (chegada às mãos do poster somente hoje), onde ele parece não ser apenas cantor e compositor, como também analista econômico.

Entrevista, bem a propósito, reveladora de uma verborragia sempre a cata de espaço para dar prosseguimento à compulsão por “colocar uma melancia no pescoço”, como se diz na fronteiriça periferia dos igarapés tocantinos.

Gosto do Caetano cantor, letrista e compositor.

Também admiro o pique com que ele anda ultimamente lançando CD e fazendo shows – a qualidade de tais acontecimentos já é outra história.

O negócio é que alguém precisa avisá-lo, com urgência, de que ele é um cantor.

O baiano não se satisfaz com isso. Também quer ser sociólogo, antropólogo, filósofo, historiador, ensaísta, teólogo, crítico literário e cinematográfico.

Todos queremos, e realmente somos tudo isso, mas apenas na mesa de bar.

Ele é assim: incitado, se arvora a emitir opinião sobre tudo, mesmo sob o risco de cair no ridículo.

O mais revelador da entrevista à Sonia é que, após se atrever a fazer análises (rasteiras e equivocadas) sobre os efeitos da política econômica do governo brasileiro, como se fosse o próprio Paul Krugmann, “o gato come” a língua de Caetano quando a repórter questiona os incentivos a artistas pela Lei Rouanet.

Leiam com atenção, ao que ele disse:

– Não sou muito bom nesse negócio. Sou como umas moças que eram bonitas e apareciam nuas nos filmes, e tinham de ter uma opinião política. Eu sou assim. Não sei se tem que mudar. Fico com pena do leitor de jornal, quando sai assim “a excursão de tal cantora foi recusada”, ou “foi aprovada”, ou ainda “pode captar”. Para música popular, o máximo da captação é 30%. Mas 30 % de quê? O público lá sabe o que é isso? Para música clássica, pode chegar a 100%… Mas repito: eu sou daquelas moças… não estudei direito.