Domingo meio barro, meio tijolo. Amanheço catando CDs pra alegrar o início do dia. Seleciono umas pérolas: trilhas sonoras de telenovelas dos anos 70. – já tenho uns cinco CDs. Começo pelo “O Grito”. Mais do que me “teletransportar”, sou levado a uma reflexão: sim, é verdade, a televisão brasileira já foi boa.
A novela a que me refiro é obra de Jorge Andrade, o mesmo autor de A Moratória, Ossos do Barão e uma pá de outras maravilhas da dramaturgia brasileira.
Fui à pesquisa. Na chamada da novela, uma voz cavernosa dizia. “o grito. Quando sua intimidade está ameaçada”. Pois vejam como são as coisas. A mesma emissora que outrora levava ao ar, para o deleite do povo brasileiro, coisa como Saramandaia, Semideus, Carinhoso e Bem Amado, hoje consegue cooptar o ex-interessante Pedro Bial para não ameaçar, mas assassinar o nosso direito à intimidade. É óbvio que estou falando do Big Brother e suas escalafobéticas encenações da degradação humana.
Mas voltemos ao O Grito e suas canções. Hiroshi, meu caro, sabe quem está lá? Elis Regina, Rita Lee, Cassiano e – pasme! – o Trio de Radamés Gnatalli e o Vitor Assis Brasil!!!
É por essas e outras que há mais de cinco anos eu me nego a ver TV. É isso mesmo: tem mais de 1.800 dias que não ligamos TV em casa. Sei que é uma contradição, já que vira e mexe eu trabalho em televisão. Mas como diria um amigo filósofo, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.
Em outro CD, o da novela Ossos do Barão – também um texto de Jorge Andrade – a coisa fica ainda mais séria, registrando uma realidade impensável nos tempos de hoje: os executivos da Globo raciocinavam! A trilha é toda composta pelos irmãos Marcos e Paulo Cesar Valle, exclusivamente para a novela. Um show!
Num ato de autoflagelo vou a outro CD. Digo autoflagelo porque já imaginava ser levado ao confronto dos tempos, e você sabe, meu caro, quando “a nostalgia toma conta de mim”…só indo à Portela pra acabar com a dita cuja, como sugeriu o grande Luiz Airão. Mas como ia dizendo, o CD torturante é a trilha sonora de Semideus, obra de Janete Clair. Sabe o que ali se registra, meu caro Hiroshi? Onze músicas realizadas por encomenda para embalar a trama vivida por Hugo Leonardo (Tarcísio Meira). Sabe quem as compôs? Paulo César Pinheiro e Baden Powell.
Não sei que novela está passando atualmente, mas posso apostar meu fusca 72 como não tem Paulo César Pinheiro por lá.
Num ato de desprendimento, apostaria meu pente Flamengo: sorriso maroto abre a “bolachinha prateada”. Sórdidos tempos!
PS: HB, sabe o que está na última faixa de Irmãos Coragem? Joyce cantando as Bachianas nº 5.
É pra chorar!
(*) Cláudio Feitosa é publicitário e secretário de Cultura de Parauapebas.
Ulisses Pompeu
9 de maio de 2011 - 13:54Caro, Cláudio, sou fã de suas crônicas e do seu trabalho. Concordo com vc em praticamente todos os aspectos, até mesmo no fato de que não vale a pena ver novela. Só uma colocação: para escrever sobre (mesmo em tom de nostalgia) talvez precisasse, nem que por uma semana, assistir às novelas da atualidade para ter um parâmetro mais justo.
Continue nos brindando com seus textos….
Ulisses Pompeu
Eleutério Gomes
3 de maio de 2011 - 09:24É, meu caro Claudinho, se as trilhas já não são as mesmas, imagine as novelas… O telespectador liga a tevê para assistir aos telejornais e vê golpes de todas as espécies, assassinatos, assaltos, traições e toda sorte de crimes, hediondos ou não. Em seguida vem a novela e lá estão de novo os mesmos crimes nos enredos, e desta feita com direito a merchandising!
Você tem toda a razão em não ligar a TV há quase 2 mil dias.
Um grande abraço!
Ademir Braz
25 de abril de 2011 - 16:20Muito bom ter o Claudinho de volta com suas crônicas.
Gostaria de entrar em contato com ele.
Mandei pro teu emeio o contato dele. Abs