Personagem atuante nas conversas de bastidores para a formação da chamada terceira via  – união de partidos políticos  dedicados a escolha de um candidato para disputar a prefeitura de Marabá contra as prováveis candidaturas de Maurino Magalhães (PR) e Sebastião Miranda (PTB) -, Dr. Jorge Bichara vem sendo pressionado pelo PV a desligar-se dos entendimento partidários e dedicar-se exclusivamente à candidatura a prefeito pelo Partido Verde.

Em reunião do PV ocorrida semana passada, na qual estiveram presentes dirigentes de outras legendas, inclusive o quase sacramentado candidato da terceira via, deputado João Salame (PPS),  filiados Verde  argumentaram da necessidade do partido ter Dr. Jorge candidato a prefeito, alegando uma série  de  justificativas do ponto de vista estratégico para o PV crescer no município.

Comedido e solidário, Bichara  defende a manutenção do PV nas seguidas reuniões realizadas pelo PT, PMDB, PPS, PDT, PMN,  como ponto agregador das conversações para a formação da terceira via, mas não descarta colocar seu nome para atender aos anseios dos companheiros do PV na busca da candidatura alternativa.

Dois dias depois da reunião do PV, Dr. Jorge Bichara concedeu longa entrevista ao blog, expondo, pela primeira vez, sua visão sobre o que pensa da “Marabá do futuro”, como ele chama o projeto Verde.

A seguir, parte da entrevista.

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Dr. Jorge Bichara e Hiroshi Bogéa, no gabinete do presidente da Unimed Sul do Pará

 

Reeleito para mais quatro anos na presidência da Unimed Sul do Pará, quais as metas agora de sua gestão?

Meus colegas de diretoria, cooperados e os colaboradores da USP  estamos trabalhando agora  para concluir duas importantes obras: a ampliação do hospital Unimed, a UTI e a nossa sede administrativa de Marabá, além de implantação de uma agência da Unicred em Marabá, instituição financeira dedicada a atender os cooperados.

Você foi reeleito em aclamação, sem chapa de oposição. A que se deve essa unanimidade?

Entendo que meus colegas cooperados ficaram satisfeitos com os resultados de nosso trabalho e preferiram manter a equipe administrativa empenhada em novos desafios, que não são poucos.  No Ranking de Intercâmbio Nacional, a Unimed Sul do Pará está entre as 28 melhores Unimeds do Brasil, entre 370 congêneres. Havia dez anos atrás, nossa operadora passava por dificuldades, e desde então, diretores, cooperados e nossos colaboradores dedicados, trabalhamos intensamente para chegar aonde chegamos. Manter esse nível pra cima, é a meta.

O Hospital Unimed Sul do Pará, antiga Climec, quando estará totalmente ampliado e quais os benefícios trará à comunidade do Sul do Pará?

O hospital já está se transformando num outro hospital, totalmente modernizado, novos apartamentos e com sua UTI em fase de conclusão. Queremos transformá-lo em verdadeira referência.

Afora as centenas de empregos ofertados nos municípios onde atua, quais outros benefícios a Unimed Sul do Pará gera na região?

Fomentamos a economia regional de forma consistente. São mais de R$ 6 milhões que a operadora  faz circular mensalmente efetuando compras, serviços e contratações diversas. Temos como filosofia agregar valor em tudo o que fazemos, priorizando, principalmente, o intercambio comercial com as localidades onde atuamos.

Além da presidência da Unimed Sul do Pará, você está à frente da Fundação Zoobotânica de Marabá, preside o Conselho Municipal de Meio Ambiente e ainda atende em seu consultório de Gastroenterologia. Como encontra tempo para cumprir toda essa agenda?

Faltou você citar ainda que atuo também como presidente do Partido Verde, em Marabá. Deixa explicar: eu sou uma pessoa muito disciplinada com minha agenda, e gosto de trabalhar. Levanto cinco da manhã, dou uma esticadinha na Fundação Zoobotânica para dar uma geral. Depois,  às 8 horas, pontualmente,  já estou em meu consultório, lá na Cidade Nova, onde permaneço até as 13 horas atendendo meus pacientes. Em seguida, rumo para a Unimed, onde almoço nesse horário. Dependendo do fluxo de despachos, fico na empresa até o início da noite.  Na presidência do PV, como as reuniões são semanais, elas ocorrem sempre a partir das 18 horas. O mesmo ocorre atendendo ao Conselho Municipal de Meio Ambiente, em suas reuniões semanais. Essa agenda é administrada também para que eu possa atender as reuniões e encontros das Unimeds que ocorrem todo mês, às vezes em Manaus, João Pessoa ou em outras cidades do país. Consigo cumprir toda essa pauta e, com um detalhe, chego sempre alguns minutos antes dos horários marcados. Sou avesso a chegar atrasado aos compromissos assumidos. Quem me conhece, sabe disso.

E agora, vai encontrar tempo para se jogar de cabeça na campanha para prefeito de Marabá?

Não tenha duvida disso. Já me afastei de  alguns desses órgãos (Presidências da Fundação Zoobotânica de Marabá e do Conselho Municipal de Meio Ambiente) para ampliar mais o tempo da campanha. Afinal, terei que convencer o eleitorado de que sou uma alternativa benéfica ao desenvolvimento do município. E isso farei com toda a minha energia e meu comportamento honesto em tudo o que faço, sem enganar a população, falando olho no olho.

E como estão as articulações em torno de sua pré-candidatura?

É bom explicar que minha pré-candidatura, além de ser um sonho pessoal, marabaense que ama essa terra e sua gente -, e que estou há mais de trinta anos atuando como profissional de medicina, sempre respeitando valores morais e éticos -, faz parte de estratégia nacional do Partido Verde, que entende ser o momento do partido eleger prefeitos em cidades cujo crescimento superam a média nacional e que necessitam da implantação de  novos modelos de gestão, para a melhoria verdadeira da qualidade de vida de suas populações. Esse processo, no entanto, não impede que eu converse com os demais partidos preocupados em dar novos rumos a Marabá, município que nos últimos anos ficou entregue a gestões que não se preocuparam em unir a cidade em torno de um projeto grandioso, verdadeiramente voltado ao desenvolvimento socioeconômico e humanizado. No momento, há esforços louváveis para que aquelas legendas partidárias se unam em torno de uma candidatura para evitar a continuidade desses anos de atraso e de autoritarismo. Minha preocupação é esse esforço de unidade eleitoral cambar para o lado das negociações unilaterais, com ofertas de cargos e secretarias, objetivando única e exclusivamente ganhar a eleição municipal, o que nada pode significar, mais  à frente, ao discurso renovador que propomos.

Não lhe cortando, mas, ao mesmo tempo cortando: você acha que se ganha eleição em Marabá sem uma grande coligação?

Pode ser quase impossível, mas eu acho que o processo eleitoral é bastante educativo, se o candidato  tiver boas intenções. Sei que uma candidatura sem tempo suficiente na TV, encontra grande dificuldade para levar sua mensagem, propor ideias e mostrar seu  discurso. No entanto, indago se uma vitória eleitoral fincada numa união de legendas pode permitir ao vencedor gerir a vida do município sem interferências de aliados, quase sempre gulosos e distanciados dos reais interesses públicos. Quando se assume compromissos, eles têm que ser honrados. Entendo a eleição deste ano como a oportunidade da população mudar rotas, apostar nas potencialidades de sua gente e dos caminhos que podem ser disponibilizados como meio mais prático de transformar o município em terra onde prospera a boa gestão pública, a transparência, a compatibilização do desenvolvimento pleno e sustentabilidade, criar mecanismos para se dotar a cidade de meios de transporte público civilizado e dignos, ordenar o transito cada dia mais esculhambado e levar prosperidade às pessoas que residem na zona rural.

Ao apostar nesse modelo de prática eleitoral sem os grandes acordos políticos, você não está sendo sonhador demais e utópico?

Na visão padrão de quem entende a política como grande balcão de troca de mercadoria, a sua observação é perfeitamente correta. Só que eu acredito na capacidade do povo de Marabá fazer leitura abalizada de tudo o que está acontecendo no município, desde os últimos dez anos. Eu entendo que as grandes revoluções sociais só ocorrem se houver teimosia, insistência e busca permanente desse ideal. Marabá precisa, de vez, passar por esse processo de revolução social. E eu me proponho a defender e aplicar esse modelo.

Você poderia explicar melhor esse modelo de revolução social?

A população precisa exigir-se mais. Não se apequenar em aceitar pequenos afagos e penduricalhos que lhes são oferecidos por alguns governantes. É inadmissível um ex-prefeito manter índices de popularidade aceitável pelo fato de ter administrado a cidade em cima de um modelo centralizador, sem conversar com a população, sem participar de debates, ofuscando qualquer tipo de iniciativa popular, perpetuando o discurso de que espalhou  asfalto por todos os núcleos populacionais, sem qualquer tipo de planejamento. E, pior, com grande parte do asfalto hoje desaparecido por ter sido obra de valor um e noventa e nove.  Marabá é grande demais para se contentar com isso. Precisamos ter muitas ruas asfaltadas, mas obedecendo critérios de qualidade e priorizadas pelo Plano Diretor da cidade. Revolução social para exigir o alargamento de avenidas, ao invés do  estrangulamento que estão fazendo. Impossível se contentar com uma VP-8 que já deveria ter pelo menos as suas duas pistas alargadas para permitir o tráfego em três faixas; revolução social para abrir espaço a jovens lideranças políticas, estimulando a juventude a participar do processo, para que no amanhã tenhamos talentosos marabaenses gerenciando a cidade. Parte dos políticos que estão ai teme a renovação, querem se perpetuar como se os cargos públicos fossem deles. Impossível  de contentar com o movimento de ir e vir dos cidadãos marabaenses, neste momento. É torturante!

Como seria feita essa renovação, digamos, essa abertura a novos dirigentes  políticos?

Simples: institucionalizando em cada bairro, núcleos de dirigentes comunitários para que eles contribuam fiscalizando obras, exigindo benefícios, fazendo relatos de como está atuando a prefeitura, com direito a assento permanente nas reuniões com o prefeito, pelo menos a cada dois meses. Essa iniciativa, em pouco tempo, tenha certeza, obrigaria a prefeitura a mandar para a Câmara mensagem criando a Escola de Governo Municipal, que seria o núcleo pensante da gestão publica do futuro. Um dos resultados práticos dessa iniciativa, em curto espaço de tempo, seria o gosto que os jovens pegariam pela política, interessando-se pelos problemas da cidade. O processo de renovação da Câmara Municipal seria imediato, não tenho duvida.

 

Você teria equipe para aplicar um programa de governo?

É aí que entra outro item da chamada revolução social da gestão publica. Marabá tem quatro núcleos populacionais que se equiparam ou superiores, cada núcleo, demograficamente, a muitas cidades paraenses. Sem citar os três núcleos populacionais Nova Marabá, Cidade Nova e Velha Marabá, peguemos o núcleo de Morada Nova, do outro lado do rio, com uma população quase idêntica a alguns municípios pequenos do Estado. Precisamos de gerentes, de pessoas com experiência na área executiva. É necessário descentralizar tudo, instituindo gerentes executivos, que teriam ganhos de produtividade por resultados obtidos em suas áreas.

Haveria dinheiro para cobrir todas essas demandas?

Marabá cada dia arrecada mais. A questão é gerir esse dinheiro, fazer com que ele seja realmente público e não transformado em bem privado como tem ocorrido nos últimos anos. Tudo com transparência, agilização nos processos licitatórios para que a máquina publica não ficasse emperrada, levando tudo para uma página da Internet para acesso de todos, sem travas.

Como a população deve participar desse processo de maior exigência social, para consumar a revolução coletiva?

É preciso que as pessoas exijam as coisas certas. Se você, por exemplo, perguntar a uma criança o que ela quer de natal, ela vai te responder uma lista de coisas que já conhece. Uma criança nunca pediria algo de que nunca ouviu falar. O mesmo vale para as demandas das pessoas em relação às cidades. É fundamental que haja informação sobre como uma cidade pode ser melhor para que a sociedade exija as coisas certas. Enquanto  ficarem quietas diante do estreitamento de avenidas, Marabá vai continuar crescendo do jeito errado. Quando passarem a exigir mais liberdade de locomoção, daí o governo terá que fazer algo a respeito. Por exemplo, é impossível imaginar Marabá, nos próximos quatro  anos, sem ciclovias em seus principais eixos. Observem o numero extraordinário de bicicletas nas ruas….Proporcionalmente, temos tantas  quanto algumas cidades indianas. E esse universo de ciclistas percorrendo ruas sem nenhuma proteção. Não pode, não pode.

Quais as soluções do PV para a  questão do transito em Marabá?

O congestionamento é, sem dúvida, um dos maiores problemas das grandes cidades do mundo. E a chave para resolvê-lo é entender que a demanda correta não deve ser por mais transporte público ou ciclovias ou calçadas. Deve ser por mais opções, por mais liberdade de escolha de meios de se locomover do ponto A ao ponto B. Está provado que só  ciclovias ou só transporte público não resolvem, mas uma combinação dos dois com boas calçadas e vias exclusivas de pedestres começam a deixar a cidade mais interessante e a dependência que se desenvolveu do carro começa a diminuir. Mas, ainda assim, muita gente vai continuar se locomovendo de carro, por comodidade. Marabá precisa  investir no alargamento de suas principais avenidas, pelo menos umas dez avenidas onde o tráfego de carros particulares e o transporte público se concentram e disputam espaço entre si, priorizando as ciclovias. Pensar grande e já começar a trabalhar um projeto de BRT (corredores exclusivos para ônibus), apenas um eixo, ligando a VP-8 a Cidade Velha e Cidade Nova. Dia desses ouvi a presidente Dilma Roussef,  falando no programa de rádio que ela tem semanalmente, estimulando prefeitos com cidades com mais de 200 mil habitantes a procurarem o Ministério das Cidades para se habilitarem a projetos de estimulo ao transporte público. Dinheiro existe, falta aos administradores a visão de que é preciso transformar as cidades, humanizando-as – porque é inaceitável abandonar os usuários de ônibus ao inferno diário do sofrimento em veículos caindo os pedaços, cruzando ruas esburacadas, permanecendo  quase duas horas no interior  do ônibus em seus trajetos para o trabalho e no retorno pra casa.

Esse modelo  seria complementado com a  implantação do Sistema Integrado de Transporte, agilizaria  transporte urbano  economizando  gastos para a população usuária, já que haveria a unificação do  preço da passagem e além disso o usuário não pagaria mais de duas passagens para chegar no local desejado – como já existe em muitas cidades. Poderíamos iniciar o processo com um terminal.

Da forma empolgada como você trata o ordenamento urbano, parece até que isso  pode fazer as pessoas mais felizes. Pode?  

Evidentemente, planejamento urbano não garante a felicidade. Mas mau planejamento urbano definitivamente impede a felicidade. A pior coisa para a felicidade das pessoas é perder tempo paradas no congestionamento. Se a cidade conseguir diminuir o tempo que você fica parado no trânsito e lhe oferecer áreas de lazer para aproveitar com seus amigos e sua família, ela lhe dará mais condições de ter uma vida melhor. O planejamento urbano é uma plataforma para as pessoas serem felizes. E Marabá e a sua população merecem isso.

Trocando em miúdos, o que você propõe para a população de Marabá e região?

Eu proponho honestidade e dedicação a esse projeto de elevar Marabá a condição de município que possa servir de referência aos brasileiros.  É nosso compromisso realizar uma gestão aberta, transparente e democrática. Decisões de maior relevância e que envolvam investimentos, serão tomadas a partir da realização de audiências públicas com a comunidade interessada. A democracia será exercida em sua plenitude. Queremos transformar a cidade, torná-la mais humana, digna de se viver, repercutindo nossas ações transformadoras aos municípios vizinhos. Respeito ao cidadão e democratização do poder, estão no topo de nossas prioridades. Isso não é utopia. Isso não é sonhar de forma alucinada. Para se transformar uma sociedade, precisamos unicamente de vontade  política e correto gerenciamento dos recursos públicos. Precisamos disponibilizar informações atualizadas na internet sobre todas as receitas e despesas realizadas pelo governo, em linguagem acessível aos cidadãos, atuar em conjunto com o Observatório Social, organismo que  deveremos criar, e com as entidades de classe para monitorar os gastos do poder público.

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Nota do blog:    Temas como Educação, Saúde, Segurança e Zona Rural  foram tratados em profundidade, na longa entrevista. Seu conteúdo será mostrado numa  segunda parte.