Cícero Macedo, em comentário enviado ao blog,  critica o texto do prefeito de Marabá,    A Voz e a vez dos excluídos.

O que diz Cícero:

 

O autor do texto tergiversa bem, mas não me convence.
Seu texto fica na superficialidade.
Além disso, suas declarações são antinomicas. Ora ele diz que os sindicatos fazem parte de uma minoria que só olha pros seus anseios, ora ele diz ser a favor desses sindicatos. Se decide, ou é a favor ou é contra.
Quanto à luta dos educadores, eu os apoio plenamente, eles tem que lutar por mais valorização sim. Eu fui educador da rede municipal de ensino no município que morava antes de vir para Marabá, e posso asseverar com voz forte: “nossos educadores são desvalorizados, ganham pouco”.
Se o Prefeito quer criticar, que critique a sua classe: a política, esses sim só olham para si, só enxergam o próprio umbigo. Ganham muito e cada vez mais aprovam leis para ganharem mais.
Quando o educador luta por melhores salários, ele está lutando pela classe excluída do texto exarado por Salame. Tendo em vista que educação pública valorizada tem toda possibilidade de ser educação de boa qualidade. Consequentemente teremos uma massa formada e informada que poderá lutar por seus anseios.
Salários ínfimos para professores não atraem bons profissionais para a área, ou será que o Prefeito ainda pensa que pra ser professor tem que ser por amor?
Educação é paixão, mas nem só de paixão vive o homem…
Por isso, hoje sou servidor federal. Num cargo de nível médio, ganho mais que um professor de faculdade. Não concordo com a discrepância, penso que professor tinha que ganhar mais. Se assim o fosse até hoje estaria no magistério.
As nossas estruturas administrativas estão cheias de cargos comissionados, esses sim tem que ser diminuídos em quantidade e em remuneração.

 

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Obedecendo seu conhecido estilo de responder a toda provocação que sustente o bom debate, João Salame responde ao leitor:

 

 

Meu caro Cícero,

Adorei a provocação. Gosto do bom debate. Vamos lá então.

Me filio à escola marxista como linha de pensamento. Por isso não enxergo o mundo em preto e branco como você o faz. É a favor ou contra os sindicatos? Eles estão certos ou errados? A dialética nos ensina que no negativo você enxerga o positivo e vice-versa, porque o mundo é colorido, multifacetado.

Qual o problema de ser a favor da ação dos sindicatos, defender sua importância e ao mesmo tempo criticar algumas de suas ações? Nenhum!

Sobre a valorização dos educadores. Estou de pleno acordo e tenho certeza que ao final do meu governo os educadores estarão muito mais valorizados que atualmente. Só que lido com a realidade e não com fantasias. Gostaria que estivéssemos pagando salários japoneses aos nossos educadores, mas a realidade econômica de Marabá não permite. A qualidade do nosso ensino é africana, tanto que o nosso Ideb é um dos piores do País, mas de 1993 para cá os salários melhoraram bastante em Marabá. Em 1992 os professores ganhavam 30% do valor do salário-mínimo. Hoje o salário médio passa dos R$ 2 mil, ou mais que 3 salários-mínimos. A qualidade do ensino melhorou? Não! Portanto o simples aumento de salários não significa necessariamente melhoria na qualidade do ensino, ainda que seja um fator importante para dar mais tranquilidade aos educadores.

Quando falo de privilégios dou exemplo. É justo que a esmagadora maioria dos professores tenha uma média salarial de cerca de R$ 2,5 mil e uma pequena minoria, mais exatamente 257 professores, chamados em Marabá de “iluminados”, recebam uma média salarial de R$ 6,7 mil? Beneficiados por uma jogada de ex-secretários, com o apoio do gestor anterior? A maioria dos quais sequer está nas salas de aula. Não é justo. Quem protestou contra isso? Quase ninguém!

O resultado é que hoje praticamente 100% do Fundeb é usado para pagar salários. O mínimo que a lei exige que se use para pagar salários é 60%. O ideal seria usar em torno de 80% para sobrar dinheiro para reformar e construir escolas. Quem fica no prejuízo? A sociedade.

É correto que ao se criar uma comissão na prefeitura para se avaliar qualquer coisa, o funcionário indicado para compor referidas comissões, que se reúnem no máximo uma vez por semana, receba 100% de gratificação em cima de seus salários? Numa sangria dos cofres públicos que gira em torno de R$ 6 milhões em quatros anos de governo? Dinheiro que daria para construir 8 escolas. Não é correto. Quem protestou contra isso de forma veemente dentro do movimento sindical? Ninguém!

Se formos levar ao pé da letra seus argumentos teremos que usar 100% do orçamento do município para pagar bons salários. E ainda não daria.

Portanto, temos que usar o bom senso. Bom senso esse que o corporativismo às vezes passa longe. No limite do que determina a Lei de Responsabilidade Fiscal, combatendo a corrupção, o empreguismo e a destinação aleatória de cargos, devemos valorizar o servidor concursado. Mas permitindo que sobre dinheiro para construir escolas, unidades de saúde, pavimentação de ruas, construção de quadras, praças e outros equipamentos públicos. Para os 97% da sociedade que está fora da farra.

Por fim, tenho orgulho de ser político. Não me escondo atrás do criticismo hipócrita. Enfrento as distorções do sistema no limite das minhas possibilidades. Tenho 51 anos e estou na vida pública desde os 17. Não tenho manchas de corrupção no meu currículo. Fui o único deputado estadual reeleito a votar contra o pagamento de salários para a convocação extraordinária da Assembléia Legislativa. Fui o único deputado da base de apoio do governo à época a assinar a CPI para investigar falcatruas na Alepa. Como prefeito já enviei projetos de lei cortando gratificações absurdas e diminuindo salários de cargos comissionados. Mas não sou falso-moralista. Não atuo sozinho. Dependo de uma correlação de forças que me permita avançar mais ou menos. E aí se incluem os sindicatos, os vereadores e aqueles que, infelizmente, possuem até uma boa leitura da realidade, mas ficam no criticismo estéril, deixam de participar e acabam fazendo o jogo de quem quer deixar tudo como está. Um forte abraço pra você e obrigado pela crítica que nos ajuda a travar o bom debate.

João Salame