“Militante do tesão”, como se auto-define, o escritor- terapeuta Roberto Freire, certa vez, mandou um amigo artista plástico fazer uma espécie de santinho, desses de primeira comunhão e missa de sétimo dia, com a sua cara sorridente e um pequeno texto, num círculo. Bastava encontrar pessoas na rua com quem conversava, tirava do bolso o santinho e, na hora de despedida, entregava-o ao interlocutor, como lembrança.

O pequeno texto dizia:

Eu faço as minhas coisas e você faz as suas. Não estou neste mundo para satisfazer as suas expectativas e você não está neste mundo para viver conforme as minhas. Você é você, eu sou eu. E se por acaso nos encontrarmos será maravilhoso. E se não, não há nada a fazer

Para Freire, em sua juventude, era agradavelmente vexaminoso o tipo de brincadeira que fazia. Ele sempre foi um anarquista que amava dar vexames.

A lembrança vem a propósito desses lances de ser ou não ser.

De encontros e desencontros.

Ninguém encontra ninguém por acaso. Os encontros existem mediante uma vida atenta.

Estar atento para que as coisas não aconteçam passivamente.

Provocá-las para acontecerem. Intencionalmente fazê-las acontecer.

Começando com a gente mesma. Sem terminar aí.

Do mesmo Roberto Freire, a lembrança de que os vexames no amor são produzidos através de um ato de libertação comandado pelo tesão de viver.

Isso é bonito.

É a leitura dele da paixão. “A verdade começa a dois”, ensina.

Ou, em nossa humilde leitura, não temer o ridículo quando se trata de assumir as surpresas do coração.