“O Canada eh lindo, mas eu prefiro meu Brasil! 🙂 ” (Bruna Cabral – Facebook)
A frase é da advogada Bruna Cabral, amiga que encontra-se no Canadá.
Foi fazer especialização, exercitar o inglês e o francês.
Acumular conhecimentos.
Encontra-se num dos países de melhor qualidade de vida, sem miséria, sem fome, sem violência – exatamente num lugar onde o modus vivendi quase perfeito da sociedade estica a vida prazerosa -, e a longevidade.
O desabafo, postado em seu perfil do facebook, revela um momento de saudade, diz tudo daquilo que a alma pede quando, mais do que rápido, o pensamento voa – e um vazio invade o peito.
De repente, talvez andando pelas ruas de Hamilton – quarta cidade mais importante daquele país -, Bruna sentiu esse pequeno baque de espiritualidade, e procurou expressar a “dor” da distância, antes que uma lágrima denunciasse o coração partido gritando de saudade, nos flocos de neve a cobrir o Canadá nesta época do ano.
Sem pensar duas vezes, foi lá, e desenhou sua mensagem no gelo: um coração elaborado com a ponta dos dedos, e a sigla do Brasil ao centro.
Saudades do Brasil.
Saudades das pessoas que fazem seu coração disparar, e o corpo tremer.
Ao invés de dizer “estou com saudade do meu Brasil”, Bruna expressou o incontido sentimento num simples traço de trêmulas linhas grafadas nos flocos brancos da baixa temperatura.
Ao ver a imagem, não me contive em imaginar o quanto há de profundidade n´alma das pessoas, reações meramente singelas, o sentido de viver.
Vive-se bem quando o coração está em paz.
Quando ele acelera motivado pela deficiência de uma ausência, a incontida dor aguda dispara.
O que Bruna quis dizer no seu desenho de rua castigada de gelo, é que vale a pena conhecer o mundo, adquirir novas culturas, mas inapelavelmente torna-se doído não saber o que fazer com os dias cada dia mais compridos, ausentes da terrinha de origem.
Porque a saudade faz isso, questiona saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Por mais ela esteja cercada de novos amigos, paisagens belíssimas, cultura e hábitos de intensa diversidade, o Canadá não preenche seu coração.
Quem sabe, de repente, à sua memória, a imagem de sua despedida do Brasil, entre família e amigos, aguentando o nó na garganta das lágrimas alheias – e das suas, num frenesi de abraços e acenos…
A felicidade está diretamente ligada ao amor daquelas pessoas que a vida lhe privilegiou colocar ao seu lado, pessoas que a amam e, ao mesmo tempo, compreenderam a importância dela ir.
A saudade, que só se tem em ausência, para Bruna, ali na hora do desenho, saco a não querer se esvaziar.
De hábito, diante dessas situações onde a poesia e a alma se confundem, me socorri numa canção, para imaginar a cena, lembrando os versos de uma balada triste do Zeca Baleiro:
A saudade é um trem de metrô
Subterrâneo, obscuro, escuro-claro
É um trem de metrô
A saudade
É prego parafuso
Quanto mais aperta
Tanto mais difícil arrancar
A saudade
É um filme sem cor
Que meu coração quer ver colorido
A ausência de pessoas cria colapsos n´alma, constrói o drama da solidão,
Quem sabe, o desenho de Bruna no gelo tenha sido a sua arma em riste imaginável contra a ausência, apontando o melhor caminho para a hora de voltar.
Adivinhando o sorriso e abraço apertado que ficaram por dar, ou antecipando o cheiro do jantar, o ruído da televisão na sala, os desenhos da toalha na mesa, quando adentrar, de novo, na casa de seus pais, no Brasil.
A eterna chegada de uns braços abertos.
CICERO MACEDO
8 de fevereiro de 2013 - 09:58Muito bom este post, gostei muito Hiroshi.
As suas palavras mostram que a vida humana precisa de afeto, da presença de pessoas amadas.
Não basta apenas qualidade de vida no sentido material, é necessário qualidade de vida no sentido imaterial, espiritual, sentimental…
O ser humano é este ser complexo que não se contenta apenas com a perfeição da matéria, ele necessita muito mais que isso, ele precisa da presença de outros seres aos quais ele aprendera a estimar.
Exatamente isso, Cícero. Sem afago na alma, nada feito. Muito bom sue comentário. Abs e bom carnaval.