Quando o “Pessoal do Ceará” surgiu, não se resumia a um grupo pequeno e específico de pessoas. Principalmente para as bandas do Nordeste e Norte, de repente formou-se um pequeno movimento em torno de Belchior, Fagner, Téti, Rodger e Ednardo, espalhando uma nova linguagem musical surgida no Ceará. Até mesmo com pitadas de ferinas frases de provocação aos baianos liderados por Caetano e Gil.

Quem não se lembra desses provocantes versos de Belchior ?

Mas trago na cabeça uma canção do rádio
Em que um antigo compositor baiano me dizia
Tudo é divino, tudo é maravilhoso

Na mesma canção, o complemento cortante:

Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve
Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve
Som, palavras são navalhas e eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém

Pessoal do Ceará era um grupo que tinha em cada um de seus integrantes proposta diferenciada, expressando identidade cearense extensiva às comunidades do Norte/Nordeste.

Fagner cantava as velas do Mucuripe, Ednardo trazia a figura do Pavão Misterioso, a literatura de cordel e o maracatu. Trabalhavam com símbolos de nossa cultura.

Era um pessoal super-antenado com a época, com a revolução musical que estava acontecendo. Não era apenas Luiz Gonzaga ou o Nordeste rural, era “Alegria, Alegria” do Caetano, os Beatles… Eles eram criadores que estavam envolvidos com o universal, e a partir daí procuravam uma forma que mostrasse o Ceará a partir de uma visão mais abrangente, mais multicultural.

Fagner, saído de Orós, Fausto Nilo (maravilhoso compositor), de Quixeramobim, Manassés, de Maranguape, todos originalmente da área rural, mas universitários, ligados ao cenário nacional. A identidade não é uma questão de ser regional, no sentido restrito, mas a partir do todo, ter uma visão local. E eles tinham.

Quando escuto Terral, enxergo nortistas nas asas do vento.