Na Câmara Municipal de Belém e no átrio da prefeitura, Odair Corrêa, exercendo ali a função de governador em exercício, fez dois discursos criticando frontalmente o governo do qual faz parte. Com passagens recheadas de empolgantes eufemismos, as falas de Corrêa pegaram pesado na estrutura de segurança pública do Estado.

Na prefeitura, diante de Duciomar Costa, o vice-governador disse textualmente:

Quero que o povo de Belém saiba que o vice-governador do Pará não concorda com essa onda de violência, que massacra vidas diariamente. Não concorda e não aceita o que está ocorrendo. É preciso que se faça algo urgentemente para conter essa violência que toma conta de todo o Estado”.

Ora, ora, depois do dito, Odair Corrêa, por uma questão de ética, deveria optar entre dois caminhos: anunciar publicamente seu rompimento com a governadora Ana Júlia – diante de sua insatisfação com a onda de violência -, ou recolher-se à sua insignificância de mero ocupante de vacâncias até o término do mandato para o qual foi eleito para ajudar a resolver os problemas do Estado.

O que não pode é Odair ficar usando a estrutura do governo, realizando viagens tresloucadas como as que realizou nas últimas 48 horas – conforme disse publicamente na Câmara de Belém -, para “ dar posse a quatro prefeitos eleitos”.

Gastar dinheiro do erário vitaminando cada viagem com críticas diretas ao próprio governo, não bate bem essa conta.

Ou a cabeça de quem as realiza.

Fazendo de conta

Deu pra notar a inquietude do prefeito Duciomar Costa, em sua festa de posse na prefeitura, ouvindo as críticas do vice-governador ao governo do Estado. Se não ficou constrangido, pelo menos demonstrou ouvidos de mercador (espécie de surdo à súplica alheia), despistando o olhar para outros horizontes.

A situação de embaraço do prefeito foi dissimulada, logo à frente, quando, em seu discurso, dirigindo-se à presidente do Tribunal de Justiça, Albanira Bemerguy, disse da intenção de convidar todas as autoridades do Estado (TJ, MP, Governo, AL, líderes comunitários, agentes de saúde) para discutir num grande seminário a questão da saúde de Belém. “ Mas sem buscar culpados, sem apontar quem está atuando menos, esquecendo o passado, para construir um conjunto de ações para amenizar as demandas”.