No sábado passado, para provocar a memória dos irmãos, levei o “som” pra varanda e botei a última paixão de meu pai, o CD “Tião Carvalho interpreta João do Vale”, com músicas-retratos-histórias-paisagens do Maranhão de cinqüenta anos atrás. (O Maranhão que meu pai vivera de forma tão abrupta, jovem sobre os lombos dos cavalos que comerciava, indiferente a qualquer refrão e qualquer cantor.) Os personagens das canções de João eram antigos conhecidos que voltavam à memória de seu Antônio e seu irmão; e as músicas, sim, eram também as mesmas daqueles tempos, seu Antônio ouvira-as pelas ruas, mas sem ouvir, não lembrava de um só verso (minha mãe lembrava de todos, e foi a primeira a se encantar quando presenteei o CD). Meu pai, que, por desconhecimento, atacara a arte em nossa infância, tinha, por arte das mesmas canções que combatera, o passado de volta e a graça da vívida nostalgia.

Extraído do Azougue, blog do jornalista Edson Coelho de Oliveira.

É um novo sítio para quem gosta de causos contados por quem foi criador interior desse Brasil de meu Deus.