Não há nenhuma novidade no uso de ferramentas de comunicação nas aldeias e comunidades tradicionais.

A jovem liderança Kayapó Maial Paiakan conta que na década de 1980, o rádio, entre outros meios, foi um grande aliado na luta contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, na época conhecida como “Kararaô”, e nos debates sobre a Constituinte.

Mas hoje, no Xingu, são plataformas como o Whatsapp, o Facebook e o Instagram que conectam indígenas e ribeirinhos às notícias da pandemia de Covid-19 que se espalha pelo país.

“Usamos essa ferramenta do kuben (branco), não apenas para mostrar nossa cultura, mas para fazer nossas vozes ecoarem pelo mundo,” conta Maial, que tem participado da produção de áudios informativos em sua língua materna.

“Fazemos denúncia e estamos informando por meio de podcasts e informativos, para que as lideranças e a comunidade possam ouvir e ler na própria língua todas as informações do que está acontecendo.”

É o que também conta Roiti Metuktire, em áudio enviado da aldeia Piaraçu, Terra Indígena Capoto Jarina, no Mato Grosso, para quem o uso da internet facilita o trabalho de comunicação, já que assim ele não precisa ir até a cidade para acessar dados atualizados sobre a Covid-19.

A ferramenta, que já é usada há cerca de cinco anos na TI Capoto Jarina, também permite mais rapidez na hora de repassar as informações para os demais moradores. “Daqui mesmo a gente consegue baixar as informações, comunicar com o pessoal, com nossos parceiros, com o próprio Ministério da Saúde e a Funai,” diz.

Papre Metuktire entrevista Bedjai Txucarramãe sobre receio da chegada da Covid na TI Capoto Jarina|Roiti Metuktire

 

Desde meados de março, antes até da confirmação do primeiro caso de Covid-19 em um indígena no país, povos indígenas e comunidades tradicionais estão se mobilizando para proteger seus territórios frente à pandemia.

Três indígenas Kayapó morreram nesta semana vítimas de Covid-19 na Terra Indígena Kayapó, no Pará, os primeiros casos de óbito dentro de uma TI na bacia do Xingu. Já foram confirmados 67 mortes e 2,6 mil casos de Covid-19 nos 53 municípios vizinhos às Áreas Protegidas da bacia, entre o Pará e Mato Grosso.

Em um esforço para manter o isolamento e impedir que a doença se aproxime, elas têm usado os meios de comunicação para difundir informações qualificadas e atualizadas para suas comunidades.

Kokowiriti Kisêdjê, Diretor Regional do Leste Xingu (Atix)

“A gente leva as informações até onde não tem nenhum acesso, para que eles [os indígenas] fiquem sabendo o que está acontecendo lá fora,” comenta o cineasta Kamikia Kisêdjê, que vive na Terra Indígena Wawi, no Território Indígena do Xingu. Suas fotos fizeram parte de uma campanha de arrecadação para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), além de serem um importante material para alertar sobre a situação nas comunidades indígenas.

A internet é apenas um dos pontos de uma estratégia de comunicação emergencial combinada entre cada parceiro xinguano e a Rede Xingu +, articulação de indígenas, ribeirinhos e parceiros, como o ISA, que atuam na bacia do Xingu.

Na Terra Indígena Cachoeira Seca, no Pará, por exemplo, não tem televisão. Por lá, a ponte entre a comunidade e o que acontece fora dela é um orelhão. Ao menos uma vez por semana, a equipe de comunicação da Rede Xingu + entra em contato com pontos focais na Terra do Meio, Território Indígena do Xingu e territórios Kayapó, via telefone ou Whatsapp, para compartilhar novidades sobre o avanço da pandemia e receber dúvidas e informes dos povos.

A partir disso, são produzidos vídeos, cards, áudios e informativos com dados atualizados e orientações de prevenção, que são divulgados nas aldeias, comunidades e cidades pelas redes sociais e aplicativos de mensagem.

Um exemplo é o vídeo de animação Corpo Vivo, Parente!, que circulou dicas de prevenção à Covid-19 nas comunidades tradicionais através do Whatsapp, Youtube e Instagram.