Aberto o baú de registros de Sebastião Curió sobre o movimento guerrilheiro do PCdoB no Araguaia, “Zé Catingueiro” é o alvo preferencial da grande mídia.

Aos 72 anos, o antigo mateiro do Exército deve estar assustado com o assédio de jornalistas em seu terreiro.

Mais assustado do que revela sua origem humilde e carregada de histórias fantasmagóricas da guerrilha.

Semana passada, Catingueiro voltou às matas de Brejo Grande do Araguaia, seguido de um séquito de observadores, para localizar a Clareira do Cabo Rosa, apontada por Curió como um dos pontos de execução sumária dos guerrilheiros.

O poster conheceu o ex-guia do Exército em 2005, nas andanças que fazia pelo Bico do Papagaio gravando depoimentos de antigos moradores e torturados por agentes da ditadura.

Mais precisamente num final de semana quando Catingueiro apareceu nos arredores do rio Araguaia, acompanhado de um neto, para comprar peixe vendido aos sábados, em São Geraldo, a preços módicos, quando ainda o sol nem dá sua cara, nascendo a partir de Xambioá, do outro lado do rio.

Quem tornou a conversa possível entre o blogger e o ex-mateiro foi um amigo dele “do tempo dos castanhais”, Zeca do Didi, piloto do barco Santo Onofre (foto acima), que faz trajetos diversos pelo Araguaia, levando e trazendo cargas. E gente.

Cumpade, você sabe que eu não posso falar dessas coisas, esquivou-se, de cara, um desconfiado Catingueiro ao amigo que sentado na proa da embarcação estimulava-o a gravar entrevista contando alguns fatos dos quais ele fora protagonista, no inicio dos anos 70.

O jornalista aqui é filho de um grande amigo meu, lá de Marabá, pessoa que não tem interesse em lhe prejudicar, só está tentando ajudar pra ver se aquelas indenizações o governo paga, insistia Zeca do Didi, ex-castanheiro de meu pai quando eles trabalharam juntos no Sapecado.

Quando o poster perguntou-lhe se permitia tirar sua fotografia ao lado de Zeca, Catingueiro franziu a testa, fechando a cara, seguido de um sonoro não.

Nem outro tipo de prosa o velho mateiro atreveu-se ensaiar.

Comprou o peixe numa embarcação próxima, retirado-se depois sem cumprir o ritual sagrado de se despedir do amigo, tão corriqueiro no interior do interior.

Zeca do Didi pediu desculpas, explicando em seguida ao poster o medo de Catingueiro ser morto.

Ele já me disse que tem vontade de contar tudo, tirar um peso das costas, mas acha que alguém pode lhe matar se fizer isso.

De onde vinham as ameaças? Curió, um dos principais operadores da campanha final de execução sumária dos jovens guerrilheiros?

Se agora, Catingueiro decidiu embrenhar-se nas matas de São Geraldo para desenterrar seus fantasmas, alguém lhe deu sinal verde para assim proceder.

Alguém lhe deu garantias de que o silencio dos executores não vale mais.