Ausente uns dias do dia a dia dos noticiários, me deparo, no final de semana, com informação de que a vereadora Priscila Veloso (PTB), de Marabá, tenta emplacar a aprovação, por edital, de uma quantia de 45 mil destinada a beneficiar  uma ONG ligada a sua família.

Diante da postura correta da procuradoria geral do Município de desaconselhar o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – CMDCA, a aprovar o feito, a vereadora estaria tentando usar seu poder político para alterar a visão jurídica da PGM, em busca, claro, da grana.

As tratativas sem-vergonhas da vereadora marabaense são narradas AQUI.

São corriqueiros, quase diários, esses fatos desabonadores de políticos procurando o interesse primeiro de suas castas.

A postura de Priscila é mais um desses casos que desencantam os brasileiros, cada vez mais obrigados a conviver com maus exemplos gerados por pessoas eleitas pelo voto popular.

O exemplo meliante da parlamentar nos faz parecer,  do alto de tanto  desencanto ,  não haver mais ninguém que possa servir de exemplo sadio às pessoas.

A atitude da vereadora é mais um ato dessa crise moral que exala dos parlamentos nacionais, infelizmente.

Somente a sociedade, de forma organizada, pode cobrar uma saída que faça o País retomar o caminho da ética e da moralidade, exigindo de seus representantes novos comportamentos.

Se esse sentimento social de desprezo a quem engana o voto da democracia se tornar prática sedimentada no seio da sociedade, será possível derrotar essa cultura de compadrio – cultura de cumplicidade com uma classe dominante desonesta no Brasil.

Uma classe dominante que, como o direito penal não produz  nenhum efeito relevante sobre ela, porque ela está imune ao alcance do direito penal, se tornou uma classe dominante cheia de delinquentes.

Um país de ricos que fraudam licitações, subornam, lavam dinheiro.

Tudo isso porque o sistema penal é tão ineficiente que ser honesto passou a ser  uma escolha pessoal, não havendo nenhuma consequência relevante.

A falta de bons exemplos da elite política, estimula o surgimento de mais políticos desonestos, que se elegem para roubar, roubar, roubar e nada acontece.

Claro que a atitude da vereadora Priscila é um problema de caráter ético, que comparado aos grandes escândalos nacionais, é quase nada.

Tipo um desses casos, diante do que acontece hoje, que deveria ser levado para um tribunal de pequenas causas.

Mas é um fato lamentável, um exemplo nocivo.

Não se faz transformações importantes na sociedade sem reações.

Estamos atrasados porque o atraso é bem defendido.

A bola pode cair do lado errado, se a reação vencer e tudo ficar parecido como sempre foi, ou a bola cair do lado certo e estarmos mudando de patamar na sociedade brasileira.

Na medida em que formos mudando paradigmas de leniência e de tolerância, oferecendo bons exemplos – na medida em que isso se multiplique, não é que vai criar um pais mais punitivo, vai se criar um país onde as pessoas vão delinquir menos, porque o temor da punição efetiva vai desestimular o ganho fácil da corrupção.