Cleide Gomes é uma das personagens principais do filme “A Nossa Esperança”, realizado pelo Instituto Cultural Vale para o Círio 2021. Artesã há 10 anos, ela detalha as inspirações e o trabalho por trás de suas criações de miriti
Valorizar histórias reais de pessoas que enriquecem a cultura que envolve o Círio de Nazaré. Esse foi um dos principais objetivos do filme publicitário “A Nossa Esperança”, realizado pela Vale, por meio do Instituto Cultural Vale, por ocasião do Círio 2021. A peça, além de ser produzida por talentos da própria região, mostra artesãos, trabalhadores, famílias e cenários verdadeiros para retratar a esperança, cultura e fé que envolve a cidade nesse momento.
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Uma das personagens principais do filme é a artesã Cleide dos Santos Gomes, que trabalha há quase 10 anos na fabricação de objetos de miriti dos mais diversos. Seu primeiro contato com essa arte foi ainda na infância, quando as feiras culturais organizadas na escola mostravam a riqueza e o significado dos artefatos de miriti. Contudo, Cleide só aprendeu a trabalhar com o material quando conheceu o atual marido, Carlos, há 11 anos. “Quando começamos a namorar, foi um prazer ainda maior saber que ele trabalhava com a arte de miriti há vários anos”, relembra a artesã.
Hoje, o casal fabrica diversos tipos de objetos em um ateliê montado na própria casa onde moram, no bairro Francilândia, em Abaetetuba, município paraense conhecido como a Capital Mundial do Brinquedo de Miriti. O miriti (ou buriti) é uma palmeira típica da Amazônia e do Cerrado, cuja madeira leve permite o corte, moldagem e colagem em diversos formatos que a criatividade do artesão desejar.
No ateliê de Cleide, o miriti vem de um fornecedor do próprio município ou de parentes que trazem de comunidades no interior. “Na maioria das vezes, compramos o miriti já pronto para cortar e moldar. A gente faz todo tipo de objeto e tentamos inovar a cada ano. Temos coisas de decoração e também utilidades, como porta-joias, porta-retratos, brinquedos, casinha, aviões, helicópteros, letras e também lembrancinhas para eventos”, descreve.
Mais que objetos de decoração, os artefatos de miriti carregam representações do cenário e da cultura amazônica. A inspiração de Cleide para a criação das peças vem principalmente da observação do cotidiano e das memórias que carrega desde a infância – quando ajudava a avó a fazer farinha e paçoca em uma casa no interior do município. “Nos quadros que a gente pinta, a gente lembra do ribeirinho, das crianças pulando no igarapé e tomando banho, as casinhas do interior. Eu gosto muito de andar de canoa com remo e isso acaba inspirando os objetos. Eu moro perto de um bambuzal, onde os pássaros que cantam pela manhã são lindos. Tem o avião que passa, o açaí e o peixe na feira… tudo o que a nossa Abaetetuba tem de lindo a gente tenta passar por meio do miriti”, relata a artesã.
A produção dos artefatos de miriti acontece o ano todo, mas entre os meses de agosto e outubro a demanda aumenta. É sempre grande a expectativa de ir à Belém – município que fica a 124km de distância em viagem de estrada – na época do Círio de Nazaré. Nas feiras de venda de artesanatos realizadas na capital em outubro, o miriti tem destaque e admiração de crianças e adultos. “Uma das palavras para descrever esse período, pra nós, é a correria! A gente acompanha a história e os momentos que tem no Círio, os promesseiros, os casais, a passagem da santa, e transforma toda essa cultura e essas cenas nas peças de miriti. Trazemos o nosso melhor para o Círio com todo o amor, para as pessoas olharem e se verem nas peças”, revela a artesã.
No momento de pandemia, o trabalho dos artesãos em geral foi muito afetado. No caso dos vendedores de objetos de miriti, Cleide diz que a adaptação para vender em um mercado on-line foi difícil, já que muitos dos artesãos são mais velhos e não estão acostumados com a tecnologia. A suspensão de eventos também afetou os produtores de artesanato, uma vez que parte das encomendas são de brindes para festas de formatura, casamento, aniversários, eventos empresariais e outros que não puderam ocorrer. No entanto, nos últimos meses, o cenário começou a melhorar e os artesãos se sentem mais otimistas. “Já estamos vendo as portas se abrindo com encomendas, pequenas feiras, empresas comprando nossos brindes. Esse ano está melhorando”, afirma.
Ao ser convidada para participar do filme “A Nossa Esperança”, Cleide conta que se sentiu valorizada e feliz.
“Mesmo que tivessem escolhido outra artesã, fiquei feliz com o cuidado da empresa em procurar uma pessoa que trabalha de verdade com miriti para participar do vídeo. É um trabalho difícil, já passei muitas noites moldando e trabalhando em peças de miriti e a gente luta por essa cultura, para que ela não morra e seja passada adiante”,relata
Para Cleide, o cenário montado para a gravação do filme foi bem semelhante aos ateliês reais que ela conhece bem. Na visão da artesã, a repercussão do vídeo foi positiva não apenas para o seu próprio negócio, mas também para valorizar a cultura e o modo de fazer dos artefatos de miriti, que, segundo ela, tem cada vez menos interesse por parte dos mais jovens.
“Mais de 60 pessoas me ligaram quando o comercial foi ao ar, a primeira foi a minha mãe. A minha avó, que hoje tá acamada, lembrou de quando ela fez pra mim uma bonequinha de miriti e ligou pra me falar o quanto ela estava feliz com o meu trabalho. Sou da igreja e as crianças de lá também disseram que me viram na TV e que queriam os brinquedos de miriti. Tudo isso é muito recompensador, todos durante as filmagens me trataram super bem e a palavra que tenho é só de gratidão”, relata Cleide Gomes.
Os artesanatos fabricados por Cleide e seu marido podem ser adquiridos no ateliê do casal, localizado na Avenida São Paulo, 2819. Bairro Francilândia, em Abaetetuba. O número de contato é o WhatsApp (91) 98475-2106.
Sobre o Instituto Cultural Vale
A Vale investe há quase duas décadas na valorização e fomento de múltiplas manifestações culturais brasileiras. O Círio de Nazaré, em Belém, é um destes exemplos, sendo patrocinado pela empresa há 19 anos. Com o propósito de potencializar a atuação da Vale na cultura, valorizar patrimônios, democratizar o acesso, e fomentar expressões artísticas, foi criado, em 2020, o Instituto Cultural Vale.
Sua atuação – em museus e centros culturais próprios, na preservação e valorização dos patrimônios material e imaterial e nas múltiplas manifestações artísticas que realiza ou fomenta – é sustentada pela visão de que a cultura é instrumento de transformação social, capaz de gerar impacto positivo na vida das pessoas e construir um legado para futuras gerações.