Daniele Camba, repórter de Investimentos da revista Valor (só para assinantes), ratifica conteúdo do post Antes de sair da crise, guseiros temem aumento da Vale.

Na íntegra, para quem não tem assinatura da publicação:

Com a recuperação econômica global, especialmente da China, o mercado passou a esperar aumentos consideráveis no preço do minério de ferro. A expectativa foi ficando cada vez mais otimista. Até meados do ano passado, os analistas esperavam uma queda ou no máximo um aumento entre 10% e 20%. Nas últimas semanas, as estimativas subiram a ponto de ultrapassar a marca dos 100%. Esse otimismo todo, no entanto, ainda não estava refletido no preço-alvo atribuído pelos analistas às ações da Vale. As projeções incorporavam o cenário sombrio de um mundo que ainda patinava depois de uma das maiores crises financeiras. Aos poucos, as estimativas dos analistas já começam a refletir tais perspectivas altamente favoráveis para o minério. O que se espera é que com essa onda de revisões os papéis da mineradora passem por um novo movimento de valorização.

Ontem, por exemplo, os analistas da Brascan Corretora Rodrigo Ferraz e Pedro Montenegro divulgaram um relatório aumentando a projeção de reajuste do minério de 25% para 70% este ano. Com tal mudança, a corretora aumentou o preço-alvo para as preferenciais (PN, sem direito a voto) série A da Vale de R$ 52,16 para R$ 60,30, o que significa uma valorização de 26,55%, considerando o fechamento de ontem aos R$ 47,65. Esse percentual pode parecer pouco, mas é apenas impressão. Primeiro porque as projeções para a bolsa como um todo não são muito maiores. Espera-se que o Índice Bovespa feche o ano entre 80 mil e 85 mil pontos. Além disso, as próprias ações da Vale já subiram 12,91% no ano.

O principal motivo para a revisão da Brascan Corretora e de outras corretoras que provavelmente farão o mesmo é a valorização do minério no mercado à vista chinês (o spot). Nos últimos dias, o preço da commodity beirou os US$ 145 por tonelada, o maior nível desde o início de setembro de 2008, quando a crise financeira se deteriorou com a quebra do banco americano Lehman Brothers.

Esse valor mostra como está defasado o preço de referência para os contratos de um ano, que está na casa dos US$ 54 por tonelada, afirma Montenegro. Seria possível um reajuste de até 110%, considerando os US$ 145 por tonelada no mercado spot menos os US$ 30 por tonelada de frete, comparados com os US$ 54 no mercado de referência. Apesar de o cenário mostrar uma convergência dos preços de referência e do mercado spot, os analistas da Brascan Corretora acreditam que não seja possível um aumento nesses níveis.

“Um reajuste acima de 100% nos preços do minério pode causar uma situação insustentável e indesejável para o setor, tanto do ponto de vista das mineradoras quanto de seus clientes”, afirmam os dois analistas em relatório. Montenegro lembra que as siderúrgicas ainda passam por um momento delicado no mundo e que um aumento de 110% no minério, por exemplo, seria muito ruim para a continuidade dos negócios dessas companhias. “As mineradoras querem aumentar o preço do minério, mas até um certo ponto, elas não têm interesse nenhum em colocar as siderúrgicas, as maiores compradoras do seu produto, numa situação difícil”, diz Montenegro.

De qualquer forma, o analista reconhece que um aumento de 70% pode de fato ser conservador. A Brascan Corretora fez um exercício considerando um reajuste de 90%, que, segundo o que se comenta no mercado, seria o percentual que a Vale estaria pleiteando. Nesse cenário, o preço-alvo da PNA da Vale subiria para R$ 66,50, um aumento de 39,56% ante o fechamento de ontem.

O Índice Bovespa fechou ontem em leve queda de 0,31%, aos 69.723 pontos. O palpite é que o mercado deve abrir hoje em alta, refletindo a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 8,75% ao ano.