Cláudia Borges apresenta hoje mais uma agente cultural que espalha contações pelo Município

Trata-se de Gabi Silva, integrantes de diversos movimentos  culturais na região.

Como vem fazendo desde quando passou a ser colaboradora do blog, Cláudia Borges está integrando à página da qual ela é assinante diversas protagonistas das ações culturais tocadas na cidade.

“Objetivo é criar um universo de talentos em torno de um projeto comum: fortalecer os movimentos de artes e de cultura que afloram não apenas em Marabá, mas na região”, explica Cláudia.

Hoje, destaque para o movimento Historiar-te, contado a seguir pela agente cultural Gabi Silva  , integrante do Historiar-te, e que aparece na foto ao lado em companhia de Cláudia Borges .

 

 

Era uma vez…

 

Credo em cruz!

Lá vem a Boiuna

A danada vem rente à beira do rio

Credo em Cruz!

Pescador faz depressa uma oração pra ela não te pegar!

Lavadeira te esconde, lá vem a cobra grande… (Composição Historiar-te)

 

Historiar-te, (re)conta e encanta Marabá

Companhia de performance, contação e mediação de leitura o movimento “Historiar-te” teve um desafio maior, materializar o desimportante como algo extraordinário, assim como o poeta Manoel de Barros fazia em seus versos.

Como uma guardiã da imaginação e porta voz da literatura oral, a Cia. Historiar-te tem como foco, contar histórias, através das várias formas de linguagens.

A escuta atenta dos contadores de histórias do “Historiar-te” vão desde o romper do silêncio das matas, à boca da noite, até a travessia dos rios Tocantins e Itacaiúnas.

 

São possibilidades literárias guardadas na memória do homem simples que habita a cidade de Marabá, da oralidade para escrita, sem que se percam os mistérios das encantarias.

 

Assim, “Historiar-te” dá vida as lendas e as personagens históricas do imaginário popular amazônico, transformando-os em um objeto artístico, fonte de emoção e prazer estético.

 

Essa arte milenar de contar história é dissipada na subjetividade dos contadores que fazem parte desse coletivo, resgatando o legado dos mitos e das lendas amazônicas, dos causos, das parlendas, das cantigas de roda e das músicas de acalanto.

 

De forma peculiar, cada integrante apresenta voz, corpo e gestos que dão forma ao imaginário e aguçam os sentidos do público, no momento do contato face a face e do encontro dos olhares.

 

De mãos dadas, abrem um portal para o fantástico, um tempo fora do tempo e um lugar que se atualiza a cada narrativa contada.

Assim, nesse encontro entre pessoas, minam uma transmissão de energia, que incide a cada apresentação e história da cultura popular ou até mesmo a cada história que salta as páginas dos livros.  

 

Na busca de fazer um breve histórico desse grupo, nos deparamos com algumas vozes que partiram para outros projetos pessoais e profissionais.

 

Já se passaram alguns anos, desde o momento que brotou esse projeto.

 

Tudo começou… Era uma vez…

 

O grupo Historiar-te surgiu em 2015 da iniciativa da Profª. Dra. Eliane Pereira Machado Soares, como parte de seu Projeto de Extensão: “Leitura e escrita na Amazônia: Modos de ser e de fazer”, e era formado por 10 integrantes, entre eles alunos bolsistas de Letras, outros de Sistema de informação, agentes culturais e professores da educação básica.

Reuniam-se sempre as quarta feiras nas salas de pedagogia do Campus I para confabular e dominar o mundo através das palavras.

Em 2016 a companhia ganhou Prêmio Proex de Expressão Popular de 2016 da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Performance, contação de lendas, cantigas e poemas na Amazônia.

O recurso do prêmio possibilitou três apresentações do espetáculo “(Re)contando a Amazônia: poemas, cantigas e lendas” e o lançamento de um livro de recontos das lendas do imaginário local.

As narrativas escritas, nesse livro premiado, apresentam versões das lendas e ilustrações feitas por alguns membros do grupo.

A formação inicial do grupo foi composta por  arte educadores, alunos e professores da UNIFESSPA.

Nesse momento, o grupo era composto pelos integrantes Avelino Rodrigues, Dalvino Pereira, Evilângela Lima, Gabriela Silva, Marluce Caetano, Shirley Magalhães, Suzana Pacheco, Talita Monteiro, Valter Junior e o griô mestre da cultura popular Zequinha, tendo como mentora e coordenadora Prof. Dra. Eliane Pereira Machado Soares.

Uma marca da Cia. Historiar-te é o cortejo das encantarias, momento em que passeiam pelas ruas da bela Marabá, apresentando as narrativas orais e ladainhas compostas pelos membros do grupo.

Nessa oportunidade vivenciam uma versão das histórias incorporadas pelos artistas, com um novo olhar e roupagem para personagens lendárias como Matinta Pereira, Porca de Bobes, Iara, Visagens, Boto, Boiúna, Caipora, Mulher de Branco, caboclo e uma narradora, uma espécie de porta voz das histórias.

Cortejo realizado na folha 28, em 2016 (Foto acervo do grupo historiar-te)

 

Para tanto, o primeiro cortejo dos encantados foi realizado em janeiro de 2016, pelos integrantes do grupo, tendo a contribuição do artista e professor Clei Sousa, que ministrou uma formação de três dias e também foi o responsável pela direção e organização do espetáculo.

De lá para cá, os membros do grupo passaram por várias travessias, tecendo novas histórias e rumos.

A iniciativa foi ganhando forma e identidade que ultrapassaram os muros da universidade.

Atualmente, o grupo despediu-se de alguns integrantes que foram vivenciar outros projetos, como por exemplo, o Boto, personagem feita pelo querido professor Avelino Rodrigues, que seguiu para vida vocacional, assim como outros que tomaram rumos diferentes, como o Pé de Garrafa, Iara, Curupira e Pescador vividos pelos artistas Dalvino Pereira, Suzana Pacheco, Talita Monteiro e Valter Júnior, nessa ordem.

Alguns permaneceram e atuam como contadores de histórias e outros ofícios.

A composição atual da Cia é Shirley Magalhães, Cláudia Borges, Gabriela Silva, Eliane Soares, Patrícia Luz, Marluce Caetano, Lara Borges, Cynthia Rabelo, Adão Almeida, Evilângela Lima e o griô, mestre da cultura popular Zequinha.

Espetáculo em comemoração ao dia do contador de histórias, março de 18 (Acervo Historiar-te)

As histórias da tradição oral e dos livros proporcionaram ao grupo, uma espécie de nutrição que alimenta não só a carne, mas os pensamentos e a alma.

A poética das apresentações convida-nos para contemplação de sentimentos como a traição, o amor, a justiça, medo, apresentados pelas metáforas dos contos, mitos, lendas e causos.

Por vezes, vivemos anestesiados e no modo automático, parecidos como máquinas, mas a história proferida da boca do contador vai ao encontro do outro, aguçar os sentidos e despertar a sensibilidade engessada, pela monotonia da vida.

Portanto, as histórias humanizam, quem pratica o ofício de contador e o bom ouvinte, um processo dialógico, do encontro de olhares, o momento do estar junto.

Nessa ciranda de contos cheios de encantamentos, do mundo simbólico em que podemos até virar um pássaro agourento, de boto virar um homem, de mulher virá uma porca que usa bobes, ser quem sabe até uma sereia, ver e ouvir coisas inexplicáveis como visagens… Credo em cruz! Credo em cruz! Credo em cruz!

O grupo participa de diversos eventos e congresso que fomentam a ludicidade, a vivência das histórias e a magia dos livros, como por exemplo,  o II e III Nem te Conto realizado em Belém, nos anos de 2016 e 2017, O Boca do Céu (Encontro Internacional de Contadores de Histórias), atividade de contação no SESC Marabá.

Esse ano iremos para a I Romaria das palavras e I Feira Literária Infanto-Juvenil na Livraria Fox, realizadas pelo Movimento de Contadores de Histórias da Amazônia (Mocoham) e para o II Encontro de Contadores de Histórias na Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais.

 

Gabi Silva,  é amante e contadora de Histórias, sou formada e enredada pelas Letras, Especialista em Abordagens Culturalistas: saberes e identidades na/da Amazônia e tecendo o mestrado em Letras pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará…

Cláudia Borges, Professora de Literatura por desafio, contadora de história por amor, graduada em Letras pelos sonhos, pós-graduada em Língua Portuguesa por dedicação e Mestranda em Letras por curiosidade.

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CORDELISTA ADÃO ALMEIDA  

A seguir, antes de apresentar outro personagem importante de nossa cultural popular, uns versos de Cordel para vocês.

Para prosear mais um pouco…

Meu leitor preste atenção!

Esse texto é de um moço,

Que conheço e tenho afeição!

 

Com vocês, meu caro nobre poeta e cordelista Adão Almeida.

Ele é membro efetivo da Academia Paraense de Cordel, da Academia de Letras de Marabá e de diversas instituições literárias.

Atua no cenário de Marabá em vários projetos de incentivo à leitura e escrita.

Ministra oficinas de escrita de cordel. Já publicou vários livros, dentre eles: Serra Pelada em Cordel, Marabá surgiu assim, açaí ouro preto da Amazônia, e literatura infantil com o peixinho Zizi.

É funcionário público, lotado na Biblioteca Municipal Orlando Lima Lobo.

Os versos abaixo Adão Almeida construiu em homenagem ao Historiar-te, uma honra e orgulho para todas nós integrantes do movimento.

 

Ao grupo Historiar-te

 

Quero parabenizar

De todo meu coração

O grupo historiar-te

Pela boa nobre atuação

Sempre nos alegrando

Na arte da Contação

 

O contador de história

Parece feito de giz

Degusta pelos olhos

E capta com o nariz

Na dor tira alegria

para fazer alguém feliz

 

Vida longa a este grupo

Que veio para ficar

São os melhores contadores

Da cidade de marabá

A ideia é perpetuar

Essa arte de contar

 

Não pensam no financeiro

Nem lamentam a correria

Fazer uma sociedade melhor

É a meta de cada dia

Historiar-te é inspiração

Que apresento com alegria.

 

(Adão Almeida)