Publicado em 23/07/2012, o artigo abaixo leva assinatura de André Costa Neto, idealizador do maravilhoso restaurante Terra do Meio.

Como ele mesmo diz, analisando a atual situação política do Brasil, “qualquer semelhança com a campanha ´Fora Dilma~ da direita hidrófoba, não terá sido mera coincidência”.

——————–

Paraguai: um golpe de mestre (*)

 Por  André Costa Nunes

 

Vamos começar pelo final.

As elites paraguaias descobriram a pólvora.

Descobriram o golpe de um e noventa e nove.

Nesses tempos cibernéticos de evolução em progressão exponencial nada mais antiquado de que botar tropas e tanques nas ruas fazer declarações bombásticas de salvação nacional e outras baboseiras mais.

Basta campanha descarada da mídia pregando o caos e a desestabilização.

Basta comprar vinte e nove senadores!

Quer coisa mais baratinha?

Uma verdadeira pechincha para as multinacionais Monsanto, Cargill, contrabandistas, latifundiários e quejandos.

Um país inteiro a preço de banana.

Sem ter que votar. Sem disparar um tiro. Sem prisões, desaparecidos ou tortura, a não ser aquela parte da população, aliás, a maior parte, que chamam lá de excluídos, campesinos, pobres, pueblo.

Mas esses não contam.

Nunca souberam o que era bom para sua própria pátria.

Importam mesmo são os vinte e nove senadores.

O Bial os chamaria de “nossos heróis”.

Não me espantaria se os PIGs da América Latina e, mesmo, a anglo-saxônica os chamassem de “Os vinte e nove de Esparta”.

De qualquer maneira foi uma lição de criatividade.

Simples como tudo que funciona.

Golpe de mestre. Esperteza. Malandragem. Canalhice.

É preciso ficar velhaco, por as barbas de molho ou, como se dizia antigamente, e bota antigamente nisso, aqui d’El Rei, tem mouros à costa, porque se a moda pega…

O Paraguai é um país pequeno e pobre. Muito pobre. Tem a mesma população do Estado do Pará que tem mais de três vezes o seu tamanho, aliás, essas comparações devem ficar por aí. População e área. Até porque, o Pará consegue ser muito mais pobre, o povo vive pior e tem o dobro de analfabetos.

O país não tem indústrias, gás, petróleo, ou qualquer outro mineral em exploração significativa. Vive da monocultura da soja, do contrabando para o Brasil, do tráfico de drogas e armas, e de duas grandes hidrelétricas de parceria: Itaipu, com o Brasil, e Yaciretá, com a Argentina.

O rebanho bovino é menos da metade do existente no município de São Félix do Xingu, aqui, no Pará.

O resto é o grande latifúndio de grileiros paraguaios, brasileiros e brasiguaios. Farinha do mesmo saco. Saco de soja. Experimental. Transgênica.

Ao fim e ao cabo, a mesma comandita a dividir o país e as gentes.

Gente sofrida, bonita, lutadora, sonhadora, orgulhosa de ser guarani.

Eles não merecem, não com a nossa conivência ou, mesmo, indiferença, mais esse golpe. Agora, para gáudio dos golpistas de plantão, daqui e de alhures, diz-que, constitucional.

Hoje me pergunto, o caso Paraguai terá sido um ensaio, um laboratório?

—————

(*) – Em 2012, no rastro de um processo hiper velozde impeachment, o presidente paraguaio Fernando Lugo,  teve o seu mandato cassado pelos conservadores do país.