O artigo é do cientista político e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Edir Veiga, publicado originalmente no site Bilhetim:
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Em todas as pesquisas que foram publicadas até dezembro de 2019 o deputado federal Edmilson Rodrigues vem liderando com percentuais entre 30 e 35%. Atrás de Edmilson aparecem nomes de grande notoriedade na cidade como: Jefferson Lima, Eder Mauro e Úrsula Vidal.
Estas pesquisas também demonstram que a avaliação do prefeito de Belém, que era muito baixa até 150 dias atrás, começa a melhorar e hoje Zenaldo está com uma avaliação positiva que já chega a 30% (entre regular positivo, ótimo e Bom). Caso o prefeito mantenha a taxa de recapeamento das ruas da cidade, em tempos de chuva, esta percepção de seu desempenho só tende a melhorar até o mês de setembro de 2020.
No quadro de dispersão de candidaturas para disputar as eleições da capital, que tende a se ampliar, não seria difícil prognosticar que qualquer um dos candidatos que atingir 20% de votação tem boas chances de passar ao segundo turno com o candidato Edmilson. É neste contexto, que não se pode desprezar a probabilidade de Zenaldo, munido da máquina administrativa, vir a ajudar um candidato a chegar ao segundo turno.
Agora Zenaldo só precisa encontrar um candidato competitivo para esta missão. Fala-se no retorno como candidato do ex-governador Jatene, ou até do ex-deputado Márcio Miranda. Uma coisa é certa, Zenaldo busca um candidato competitivo. A cidade de Belém vem desde o ano de 2000 se recusando a dar a maioria dos votos a candidatos de esquerda. Será que esta tendência será mantida?
No outro lado do tabuleiro político está o governador Helder Barbalho que deve estar acompanhando a movimentação política em Belém. Helder deve buscar eliminar qualquer possibilidade política de que uma possível oposição emerja com força em Belém. O governador quer consolidar uma hegemonia eleitoral na região metropolitana e para atingir este objetivo, Belém está no centro de sua tática eleitoral.
Porém, há um obstáculo estrutural para atingir este objetivo: o voto de centro direita que vem dominando Belém há 20 anos. Qualquer oposicionista de centro direita tenderia a derrotar o candidato de Zenaldo na capital paraense. O único candidato que pode oferecer facilidade a Zenaldo seria um candidato de esquerda com cara, história e passado que lembra muito o Partido dos Trabalhadores em Belém do Pará, que é o candidato Edmilson.
O Pará precisou de 24 anos para oferecer uma nova chance ao MDB para comandar politicamente o Pará. Será que após 20 anos, Belém poderá dialogar com um candidato de esquerda e oferecer uma nova chance à este grupo ideológico na capital paraense? Nas eleições de 2016 a candidatura Edmilson começou a aparecer nas pesquisas com percentuais acima de 40%, hoje Edmilson vem oscilando entre 30 e 35%. Será que temos algum indicativo político a partir destas informações?
Ainda temos indicadores de que o movimento anti-petista, e como tal anti-esquerda, ainda está muito forte na capital paraense. O PT não tem superado os 3% nas últimas eleições para a capital paraense. Mas, a conjuntura da cidade sem dúvida nenhuma favorece a oposição, dado ao quadro catastrófico que se encontra a cidade de Belém. O abandono do cinturão periférico de nossa cidade é a maior amostra de que nossa capital ficou abandonada nos últimos anos.
Nas eleições de 2016 os eleitores da capital deixaram para segundo plano a avaliação da situação da cidade e votaram ideologicamente contra a candidatura da esquerda, no caso, contra Edmilson. Na capital, assim como nos grandes centros urbanos, a esquerda ainda está pagando penitência pelos macros erros dos governos de esquerda na direção do governo federal brasileiro e no Pará, devido a memória do governo desastroso de Ana Júlia.
Então podemos afirmar que a maior chance do candidato zenaldista vencer um eventual segundo turno em Belém, seria enfrentando um candidato de esquerda. Mas, existe uma chance para Edmilson, qual seria? Seria o governo do estado agir num eventual segundo turno contra um candidato de Zenaldo e sair em campo, articulando partidos, grupos, recursos financeiros e administrativos para tentar viabilizar a vitória de Edmilson em 2020 em Belém. Helder estria disposto a apostar em um candidato de esquerda em Belém?
Para Edmilson, disputar as eleições na capital é uma beleza, pois lhe garante palanque eletrônico que será usado nas próximas eleições para deputado federal. O candidato do PSOL vem obtendo enorme votação na capital e na região metropolitana, e esta cena vem se repetindo há 3 eleições consecutivas. Edmilson não tem nada a perder.
Não existe dúvida: a polarização em 2020, em Belém, será direita versus esquerda e esta polarização, neste momento, só faz beneficiar um candidato de centro direita, seja ele zenaldista ou não. Portanto, dificilmente fugiremos deste embate. Ao governo do estado só resta juntar todo mundo no entorno da esquerda e tentar “matar” as eleições no primeiro turno, caso contrário, os oposicionistas ao projeto Helder tenderão a vencer na capital num eventual segundo turno em 2020.
Mas existe outra possibilidade. Caso Zenaldo lance um candidato pouco competitivo, o candidato governista não passaria ao segundo turno, ai a disputa ficaria em aberto entre um candidato da esquerda e um candidato de centro direita, que poderia passar ao segundo turno, este com grande chance de vir a ser o prefeito da capital.
*Publicado originalmente no Bilhetim
**Cientista Político e Professor da Universidade Federal do Pará (UFPA)