Quando nos deparamos com uma palavra desconhecida, quer na escrita, quer na fala, ocorre-nos, de imediato, o desejo de saber o seu significado. É natural querermos saber o sentido do que nos pareceu estranho. Freqüentemente, o contexto em que a mesma foi usada costuma esclarecer seu objetivo. A investigação do mundo das palavras é um exercício sobremaneira prazeroso.
A gramática portuguesa, mais propriamente a “linguagem”, no entender de Mauricio Gnerre, “constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder.”
José Miguel Wisnik, crítico, ensaísta, compositor, intérprete, pianista, e um dos pensadores e artistas brasileiros que eu mais admiro, compôs com Luiz Tatit “Gramática”, canção que se debruça sobre a riqueza incomensurável que é o falar humano.

Gramática
O substantivo
É o substituto
Do conteúdo
O adjetivo
É nossa impressão
Sobre quase tudo
O diminutivo
É o que aperta o mundo
E deixa miúdo
O imperativo
É o que aperta os outros
E deixa mudo

Um homem de letras
Dizendo idéias
Sempre se inflama
Um homem de idéias
Nem usa letras
Faz ideograma
Se altera as letras
E esconde o nome
Faz anagrama
Mas se mostra o nome
Com poucas letras
É um telegrama

Nosso verbo ser
É uma identidade
Mas sem projeto
E se temos verbo
Com objeto
É bem mais direto
No entanto falta
Ter um sujeito
Pra ter afeto
Mas se é um sujeito
Que se sujeita
Ainda é objeto

Todo barbarismo
É o português
Que se repeliu
O neologismo
É uma palavra
Que não se ouviu
Já o idiotismo
É tudo que a língua
Não traduziu
Mas tem idiotismo
Também na fala
De um imbecil