O tráfico de drogas sempre exerceu forte influência nas escolas de samba do Rio de Janeiro. Isso, todos sabem.

Vez por outra, alguns corajosos da grande imprensa estampam denúncias do envolvimento de graduados cabeças da bandidagem decidindo eleição de diretorias de escolas, aclamação de determinados samba-enredo, e assim por diante.

Recordo que nos anos 90, não lembro qual o jornal carioca, diversas matérias foram publicadas, com inserção de fotos dos poderosos chefões, mostrando as agremiações carnavalescas financiadas de cabo a rabo pelas máfias dos morros, à medida que o tráfico de drogas crescia naquela década. E de lá até hoje, essa ramificação de espalhou de forma profissionalmente organizada -, visto que quase todas as escolas estão sediadas em comunidades dominadas pelo narcotráfico.

De modo geral, no entanto, as empresas de comunicação passam ao largo, optando às vezes pelo silêncio, algumas preferindo denunciar a existência de campanhas contra o carnaval do Rio, na esteira de denúncias mais graves emergidas dos subterrâneos do samba. Recentemente, vocês devem lembrar, o país inteiro ficou sabendo que um dos autores do samba da Mangueira, “Tuchinha”, alcunha de Francisco Testas Monteiro, já foi chefe do tráfico naquela comunidade, condenado a diversos anos de cadeia e em liberdade condicional.

O careta passou a ser vedete preferida dos colunistas de TV e revistas, concedendo entrevistas como se fosse um exemplo belo a ser seguido.

Não é atoa que a consagração do filme Tropa de Elite expõe a hipocrisia da sociedade brasileira, e a sórdida, porque extremamente velada, cumplicidade entre bandidos letrados, bandidos iletrados e bandidos fardados.

O malandro do bom partido, Bezerra da Silva (falecido) foi fotografado várias vezes ao lado de bandidos famosos. O principal deles, Escadinha , ex-chefe do tráfico do Morro do Juramento, virou verve de inspiração, quando Bezerra imortalizou a sua amizade com o temido traficante, gravando “Meu Bom Juiz” , de autoria de Beto Sem Braço e Serginho Merity.

Na música, o chefe da bandidagem é chamado de “rei coroado pela gente”. E, em um dos versos, ele pede ao juiz para não bater o martelo nem proferir a sentença. “Pois este homem (Escadinha) não é tão ruim como o senhor pensa”. O refrão do samba faz a associação direta do traficante com seu morro de origem: “Eu vi todo o Juramento, triste chorando de dor, se o senhor também presenciasse, chorava também”.