Nossa produtora produziu os programas de TV e de Rádio da candidatura de João Salame.

O marqueteiro da campanha foi o publicitário Cláudio Feitosa, talentoso profissional  que interpreta,  como poucos,   a compreensão política de Salame, amigos que são desde muitos anos.

Fizemos uma campanha modesta, de quase nenhum recurso, com uma equipe reduzidíssima,  para o tamanho da encrenca.

Trabalhamos  em grupo de  treze pessoas, quando precisávamos de o dobro.

Equipe pequena, mas de exemplar profissionalismo, formada por Cláudio, eu, Sílvia Bogéa, Wilson Rebelo, Elder Messias, Joel Camargo, Wanderley Damascena, Ribamar, Willian, Jean Teles, Rita Martins, Naiar, Alex Nery. Wanderley Motta, mesmo distante da produtora, em Curionópolis, também integrou a equipe, gravando textos.

Logo no início de produção dos programas, tivemos a participação de Edson Coelho e Daian, obrigados a deixarem a equipe por problemas particulares e de saúde.

Wilson Rebelo, aliás, excelente profissional que eu ainda não tinha tido o prazer de conhecer pessoalmente, apenas como leitor de seu blog qualificado. Posso considerá-lo, agora, incluído em meu rol de amigos. Grande figura humana e de extremo valor intelectual.

Fiel escudeiro de Salame, na campanha, foi seu irmão Beto Salame, advogada que liderava a Coordenação Jurídica.

Beto não descansou um minuto, acionando toda hora a produtora na solicitação de cópias de programas dos adversários e VTs de inserções.

Foi graças a atuação jurídica de Beto e sua equipe que não recebemos notificação para a cessão de Direito de Resposta aos nossos adversários. Fato inédito numa campanha acirrada como foi a de Marabá.

 

Carajás na pauta

 

Numa campanha, qualquer deslize do candidato ou de quem trabalha o marketing, pode ser fatal.

A campanha do João, desde o início, transcorreu sem sustos, havia um eixo,  roteiro predefinido . Nem a dinâmica do processo eleitoral mudou a rota.

Jamais fomos pautados pelo programa do adversário.

Ao contrário, a pauta quem fazia éramos nós, deixando o outro lado na defensiva, obrigando-o a se explicar, apelando a recursos  desgastantes.

A questão do Estado de Carajás, tão bem simbolizada pelo nosso candidato, graças a seu desempenho competente durante a batalha do plebiscito,  foi colocada em algumas reuniões iniciais para se discutir o formato do programa de TV.

Todas as pesquisas indicavam simpatia do eleitorado por quem havia lutado pela causa.

De minha parte, havia preocupação com o risco do tema “contaminar”  a campanha de forma extemporânea.

Cláudio Feitosa pensava da mesma forma, com a ressalva de que o assunto não poderia  ficar fora de pauta – tanto que ele sugeriu o slogan “Candidato do Sim” para universalizar propostas.

Sim para mais saúde. Sim para mais educação. Sim para transformações gerais. E, sim como forma de memorizar a participação de João na luta pelo novo Estado.

Um recall propositivo, forte.

Já havia nas redes sociais  campanha ostensiva contra aqueles que não trabalharam pelo Sim.

Foi aí que entrou fortemente massacrante a frase “Tião do Não”, que viria pautar a campanha, inclusive criando embaraços seguidos ao adversário, que procurava se justificar diariamente dizendo-se, também, do “Sim”.

Cláudio Feitosa sugeriu doses estratégicas do tema Carajás nos três programas iniciais de TV. E assim foi feito, com resultados  imediatos.

Em 28 de agosto, a segunda pesquisa Doxa encomendada pelo blog apontava João e Tião empatados, tecnicamente. Até aquela data, havíamos exibidos apenas três programas de TV e Rádio.

Enquanto a Doxa indicava empate técnico, adversários espalhavam pesquisas manipuladas ou, no melhor das intenções, iludidos com números totalmente distantes da realidade.

Sabíamos, não demoraria a pintar baixarias no pedaço.

Se uma próxima pesquisa apontasse João descolado à frente do principal adversário, o mundo cairia sobre a cabeça da concorrência.

 

 

Carajás na pauta (2)

 

Desde o inicio da campanha,  já sabíamos que o marketing de Tião Miranda tentaria reverter o estrago que o tema Estado de Carajás faria em sua campanha exibindo vídeos dele fazendo discurso na Assembleia e em cima do palanque, na Folha 16, ao lado de Salame, como se fora um defensor intransigente da causa.

Não demorou.

Bastaram  as pesquisas mostrarem queda do candidato até então imbatível,  segundo o próprio assegurava aos quartos cantos, logo os vídeos apareceram num programa totalmente elaborado para tentar justificar  o injustificável.

Tião tentava dizer que não tinha sido contra a criação do Estado de Carajás.

Só que João nunca afirmara isso. Nosso candidato lembrava sempre em seus discursos a posição omissa do adversário, que se limitou, durante o plebiscito, a subir uma única vez num palanque, e a discurso no plenário da Assembleia.

A luta de campo, de busca de votos, ele nunca participara.

Nas redes sociais, Tião estava crucificado.

O programa do adversário dedicado ao tema Carajás causou preocupação à militância de Salame, jamais ao candidato.

João dizia sempre: – Esse assunto estigmatizou o Tião como a pessoa do Não.  Vamos às propostas.

Nosso candidato estava certo. As pesquisas mostravam isso: queda sistemática de Miranda.

A dosagem do tema Carajás prescrita por Feitosa atingia seus objetivos.

 

 

 Âncoras dos programas

 

Sem recursos para contratar um apresentador ou apresentadora para os programas de TV, o próprio Salame sugeriu a escalação da jornalista Bia Cardoso, apegando-se a experiência de Bia como repórter  durante anos da TV Liberal.

Eu e Cláudio colocamos nossa preocupação com o fato de que, sendo esposa do candidato, a presença da jornalista como apresentadora dos programas poderia  sinalizar  movimento antiético diante da  visão do eleitorado.  A própria Bia, consultada, também considerou esse risco.

Abro parênteses.

João sempre consultava Bia. Até em alguns textos que ele produzia, o candidato trocava  ideia com a mulher, perguntando o que ela achava disso ou daquilo.  Normalmente, a mulher ponderava, sugerindo a retirada de algumas palavras – essas coisas.

Fecha parênteses.

Diante das ponderações sobre colocar ou não Bia no vídeo, Salame foi curto e grosso:

Dinheiro para contratar  profissional de fora, eu não tenho. A solução caseira é a Bia. Se ela não serve, então procurem solucionar o problema sabendo que somos uma candidatura pobre. Particularmente, não vejo embaraços em escalar a Bia.

Dia seguinte, Bia abria o primeiro vídeo da campanha, levado ao ar  em 22 de agosto.

Antes, Feitosa levantou questão preocupante: quem escalar para dar porradas e os recados malcriados, inevitáveis nos programas eleitorais.

Bia, como esposa de Salame, não poderia jamais ser a “preposta da maldade”.

Foi quando sugeri o nome do próprio Cláudio Feitosa, que refugou a ideia. “Não terei tempo, já que estarei em Parauapebas, também,  fazendo campanha”.

Eu já tinha visto o desempenho excelente de Feitosa no vídeo, por ocasião da campanha de reeleição de Darci Lermer, em Parauapebas, na eleição de 2008.

Melhor nome não teríamos, isso eu tinha certeza.

Cláudio e Bia, cada qual em seu terreno, deram show de bola no vídeo, pontos altos da campanha na TV.

 

Propostas de Salame

 

Os pilares da campanha de João foram  construídos, principalmente, sobre três temas: implantação de  500 km de asfalto, construção de três Upas (Unidade de Saúde de Pronto-Atendimento) e Escolas de Tempo Integral. Os adversários, assustados com a ousadia das propostas, tentavam de todas as formas desqualificá-las, sem saber que Salame, antes de torná-las públicas, já as havia estudado e discutido suas viabilidades junto a órgãos federais.

No caso dos 500 km de asfalto, anunciou a proposta pela primeira vez numa reunião que fez na periferia, depois de ter recebido de técnicos da prefeitura levantamento da quantidade de ruas existentes na cidade e zona rural.

Cuidadoso, consultou informalmente a superintendência da Caixa Econômica, no Pará, sobre a possibilidade de financiar parte das obras. Não teve nada de atitude irresponsável, promesseira, como tentaram vender essa imagem, seus adversários.

Mesma situação em relação à construção de 3 UPAS.

Antes de anunciá-las, João conversou com o ministro Padilha,  pessoa muito ligada a Marabá e a Santarém.

O ministro da Saúde lhe dissera que Marabá poderia receber 3 UPAS, caso o futuro prefeito lhe reivindicasse  estes benefícios.

Quando o programa de Maurino Magalhães fez piadinhas com a proposta das 3 UPAS, dizendo que Marabá não podia receber aquelas  unidades por não se enquadrar nas normas técnicas do Ministério da Saúde, e logo depois, no mesmo dia,  foi veiculado no nosso programa depoimento do Ministro Padilha garantindo as UPAS prometidas por Salame, a gente se divertiu bastante, na produtora.

Sentimento de satisfação por estar fazendo uma campanha no rumo certo.

Todos os programas dos adversários atacando as propostas de Salame,  eram repelidos pela fala de um ministro de Dilma.

Desfilaram por lá,  Gilberto Carvalho garantindo recursos para os 500 km de asfalto; Aloísio Mercadante, ratificando a construção das Escolas de Tempo Integral; Alexandre Padilha, Mirian Belchior, etc.

 

Alma feminina

 

Bia Cardoso marcou três momentos de forte apelo emocional, durante a campanha.

O primeiro foi o discurso que ela fez, de improviso, liderando a marcha das mulheres pela avenida Antonio Maia,  centro comercial da Velha Marabá.

Depois, a fala que ela produziu ao revelar indignação com as baixarias que atingiam o marido e a sua própria vida pessoal. Por ultimo,  o texto de despedida da campanha.

Alta hora da noite, dia 2 de agosto, em sua residência, Bia gravaria mensagem redigida por ela, pedindo voto ao eleitorado.

Ali não estava mais a âncora do programa.

No vídeo, serena e distribuindo carisma, via-se a mulher do candidato, a futura primeira  dama, levando  recado de esperança e de muita confiança no taco do marido.

No momento da gravação, passava da meia-noite,  a casa de Salame  repleta de pessoas, reuniões de última hora.

Ao  mesmo tempo em que dirigíamos a gravação de Bia, cuidávamos em pedir silencio às pessoas para não atrapalhar a filmagem.

Todo mundo cansado de muita correria, e, naquela hora, Bia ainda tinha compromissos da agenda eleitoral;

Ela fez duas tentativas de gravação. Apenas duas, na leitura do maravilhoso texto.

Fez duas tentativas, por segurança. Se quiséssemos usar a primeira gravação, seria de bom tom.

No momento em que ela terminou a segunda gravação do texto, não me contive: soltei um grito de satisfação. Ela tinha sido esplendorosa, a fala transmitia emoção, segurança e, melhor, sentimento de que a vitória estava próxima.

Naquele momento, não tinha mais dúvidas: João Salame ganharia a eleição,  cinco dias depois, com larga vantagem.

 

 Dor e serenidade

 

Em 13 de setembro, finalmente Salame descolava de Tião, assumindo a liderança da campanha.

A partir daí, a baixaria marcou a  disputa.

Um panfleto apócrifo postado no Facebook atacando a honra de Salame e a sua vida pessoal,  atingia  a mulher do candidato em estado de luto.

Dia antes da  publicação do material marginal, o pai de Bia falecera.

Afastada temporariamente da campanha, a jornalista ainda encontrou forças para gravar depoimento.

O texto da fala foi feito a quatro mãos: Bia e João, sem a participação de ninguém do marketing.

João me telefonou comunicando que Bia iria gravar para o programa da noite, compartilhando o teor da fala da nossa ancora.

Trabalhando também a campanha em Parauapebas, Cláudio Feitosa, pelo telefone, demonstrava a mim preocupação com o conteúdo da gravação. Ele se opôs, corretamente, durante toda a campanha, de  expor Bia e Salame nas falas duras.

Esse papel  era dele, Feitosa. Tanto que quando foi preciso, ele entrou nos programas “vacinando”  (recurso que se usa no marketing político para se prevenir de alguma crítica ou denúncia contra o candidato),  ou batendo  sutilmente  no adversário.

Passei a ele, pelo celular, a  fala de Bia, serena, equilibrada e com o toque feminino que o momento requeria. Feitosa gostou do que ouviu.

A fala foi ao ar à noite, emocionando a população, e engrossando os  índices de rejeição do adversário.

 

 

 

Musa do Sim

 

Paralelo aos programas de TV e Rádio, João contava com o apoio de guerreiras e guerreiros instalados no Face e no Twitter.

Maciçamente, era bem superior o número de militantes do “Sim”  apoiadores de nosso candidato.

A cada apelação que tentavam compartilhar  nuns murais reacionários, o  coice vinha na hora.

Coice de cavalos selvagens.

Entre tantos aliados fieis e corajosos, não posso deixar de qualificar o trabalho de Girlene Araújo (foto)  jovem feicista que defendia João, dia e noite, em seu mural,  esperneando a molecagem e os ataques virulentos à honra e a moral do candidato do Sim.

 

As mulheres, nessas horas de beligerância, costumam mostrar sua garra, muito mais que a maioria dos homens.

Assumem funções estratégicas, sem medo das consequências.

Assim como tivemos a Musa do Sim, no plebiscito – descobrimos outra  inspiração feminina no front da batalha, espraiando esperança, sonhos e ousada carga de mensagens de apoio ao candidato vencedor.

Claro, milhares de outros aguerridos feicistas trabalhavam suas histórias de admiração ao 23, só que Girlene superou-se.

Ela foi, portanto, na eleição municipal de Marabá, a Musa do Sim, espalhando mensagens de estimulo  à mudança.

A homenagem do blog.

 

 

Cochilo imperdoável

 

Momento mais tenso da campanha, pelo menos pra mim, foi quando descobri, numa das inserções (vídeos de 30 segundos veiculados durante a programação normal das TVs)  que havíamos enviado às emissoras de rádio e TV, uma fala de Salame na qual ele garantia os 500 Km de asfalto. Quando ouvi a frase “500 km de asfalto e saneamento”, peguei um susto.

Nosso candidato sempre falava de 500 Km de asfalto com drenagem – jamais citara “saneamento”, já que os custos de uma proposta dessa envergadura dobram.

O que havia acontecido?

Um dia antes, em sua residência, gravamos quatro falas de Salame para serem veiculadas nas inserções.  Quase sempre, nosso candidato desprezava os textos que a equipe de marketing sugeria, preferindo improvisar suas falas – gravadas de bate pronto.  Quem assistia depois aos vídeos, imaginava terem sido feitos com teleprompter -, equipamento acoplado à  câmara de filmar que exibe o texto a ser lido pelo apresentador.

Com essa atitude de gravar de improviso, João ganhava tempo para cumprir a extensa agenda de campanha.

Nesse dia, ele trocou as bolas e soltou  “saneamento” no lugar de  drenagem. Foi uma falha mesmo no improviso.

Normalmente, na hora da edição, procuramos assistir  atentamente as gravações para evitar problemas como esse ocorrido. Encontrando falhas, suspendemos o material e providenciamos nova gravação do candidato.

Só que nesse dia, eu passei batido.

Dirigi a gravação, e não saquei  a palavra “saneamento”  no lugar e hora erradas.

E, depois na ilha de edição, também.

Quando o VT estava no ar, na hora do almoço, em casa,  descobri a gravidade da situação.

Sinal de alarme.

Determinei a retirada imediata do ar da inserção.

Minutos depois dessa providência, Salame me telefona perguntando se havia VT no ar no qual ele falava de saneamento. Confirmei a existência do problema e ele se preocupou, mas  assumi a culpa pela “tragédia”.

Eles vão usar isso contra mim, já que eu disse no debate  que sempre falei em drenagem, e é isso mesmo que venho fazendo já que não posso assumir compromisso de colocar saneamento em toda a cidade -, reagiu preocupado.

Não deu outra. Dois dias depois, lá estava o VT de Tião tentando desqualificar a  proposta dos 500 km de Salame, exibindo trecho da fala que cita “saneamento”.

Fiquei mal comigo, considerando-me culpado pelo deslize.

Esse erro, a campanha deve creditar a mim.

 

 

Xô, poaca!

 

Atônitos  diante do furor que a proposta de 500 Km de asfalto fazia na campanha, adversários não paravam de tentar impingir o carimbo de “mentiroso”  no compromisso assumido por João diante do eleitorado.

As pancadas vinham de todo lado, usaram até programas de candidatos a vereador para tentar desconstruir a proposta.

Só quem sabe o sofrimento da população residente em ruas cobertas de poeira, no verão, e de lama, no inverno, compreende a importância da proposta tão bem assimilada pela comunidade.

Os adversários sabiam dessa fortaleza propositiva, e partiam para tentar desmascará-la – ao invés de se contrapor a ela  apresentando proposta melhor da que João assumia.

Para fechar de vez o assunto que tanta repercussão teve na campanha, Cláudio Feitosa  sugeriu a edição de  um clip usando  jingle por ele encomendado, realçando  o sofrimento de quem vive debaixo da poaca, sem tornar o tema enfadonho.

Estava na hora de jogar pá de cal sobre o desespero do adversário usando pitadinhas de humor.

O clip foi um sucesso, apesar de exibição num único dia.

Na cidade, pedia-se a sua reexibição, mas nunca conseguimos brecha nos programas subsequentes por excesso de conteúdo que não podiam deixar de ser editados.

 


 

 

“Vacinação”

 

No debate da RBA, Salame aproveitou a tréplica de uma pergunta de Tião Miranda para anunciar  a entrega do projeto  executivo da derrocagem do rio Tocantins,  garantido a ele,  no dia anterior, pelo  deputado federal Beto Faro.

Assistia ao debate na casa de meus pais, ao lado da família, inclusive minha filha Sílvia, que veio de Belém fazer  a campanha com a gente, cuidando da área de produção.

Debate foi dia 21.

Quando João terminou de anunciar o evento de entrega do projeto executivo da derrocagem para o dia 28 de setembro, sexta-feira seguinte ao debate da RBA, Sílvia demonstrou preocupação.

Pai, e se der alguma zebra na entrega desse projeto? Estamos em período eleitoral, todos os ministros do governo Dilma envolvidos em campanhas em seus Estados, sei lá, dá algo  errado, e o projeto não é entregue?  Acho que o João não deveria ter dito isso baseado na informação do deputado.

Sílvia preocupava-se com nova investida do adversário. Afinal, ainda teríamos dois programas de TV após o 28 de setembro. Seria desgastante esclarecer que João anunciara a data, reforçado pela informação do deputado federal que acabava de chegar de Brasília com a boa nova.

O feeling de Sílvia se confirmaria.

Terça-feira,  25, o governo recebia informação de que o projeto executivo teria que ser redesenhado em função do reduzido calado do rio encontrado nos estudos. Ou seja, para a navegação de navios de grande calado, o desenho sugerido no projeto não atenderia aos interesses da hidrovia, exigia-se maior aprofundamento do canal, estudos que atrasariam a entrega do documento pelo menos até novembro.

Caímos imediatamente em campo para conseguir uma “vacina”, precisávamos de uma nova declaração da ministra Miriam Bechior, do Planejamento, responsável pela gestão dos trabalhos da hidrovia. Ela deveria falar do projeto executivo e da data da entrega.

Sorte nossa, a presença de Paulo Rocha em Marabá naquela semana, e que assistira  ao programa de Tião Miranda, na segunda-feira, 24, ao lado do candidato a vice-prefeito Luiz Carlos, onde o adversário tratava da Alpa e responsabilizava a bancada de deputados federais da base de Dilma como responsáveis pela “paralisação” da siderúrgica.

Paulo prometeu que levaria o problema a Mirian Belchior com pedido para ela gravar novo depoimento, já que a ministra do Planejamento mandara uma fala para o programa de João, ainda no inicio da campanha, entrevistada por Luiz Carlos.

Na sexta-feira, 28, ao meio-dia, recebíamos a fala de Belchior.

Paulo Rocha conseguiu a gravação às oito da noite de quinta-feira, quando a ministra encerrara seu expediente no Ministério do Planejamento.

À noite da mesma sexta-feira, 28, raivosos, adversários veiculavam  programa insinuando Lula de mentiroso, usando imagens dele por ocasião de sua vinda a Marabá para anunciar o projeto da Alpa.

Nosso programa veio depois, cheio de propostas e com a fala  de Mirian Belchior no encerramento, garantindo a construção da Alpa -,  e a entrega,  até o final deste ano,  do projeto executivo da derrocagem.

O  programa de Tião, na tentativa de frear o crescimento vertiginoso da candidatura de João, transmitia clima de pessimismo, era uma espécie de  antimarketing   alimentando a sangria de perda de votos;

Na produtora, a cada programa do adversário, a gente se deliciava de risos e satisfação.

Wilson Rebelo, parceiro de campanha na área de Redação dos programas  do 23, soltava risos ensurdecedores, sempre que o programa de Tião terminava.

Ele  pressentia o afundamento da campanha adversária a cada nova edição do horário eleitoral

 

Estratégia do debate

 

Na tarde do dia do debate da RBA, João Salame solicitou a presença da equipe de marketing, juntamente com alguns técnicos da área fiscal e tributária. Em seu escritório num mezanino de sua residência, o candidato queria colher informações sobre o que seus adversários poderiam atacá-lo.

A reunião demorou pouco mais de duas horas, tempo suficiente para Salame absorver algumas sugestões e, ele mesmo, definir sua estratégia.

Não farei nenhuma pergunta ao Tião. Quem pergunta, engessado por esse regulamento estabelecido pela RBA, fica sem a réplica e sem a tréplica – momentos cruciais para o candidato pontificar seu preparo. Vou deixa-lo nervoso, nos minutos a que tenho direito para replicar e treplicar.

Outra estratégia adotada pessoalmente por João: faria as duas perguntas a que tinha direito, conforme o regulamento do debate, apenas ao prefeito Maurino Magalhães, questionando-o sobre o que ele fez nas áreas de regularização fundiária e zona rural.

Usaria as duas perguntas para reafirmar, quando  comentasse a resposta de Maurino,  seus compromissos de levar 500 Km de asfalto ás áreas de invasão e para toda a cidade, além de suas propostas para o setor rural.

Acostumado aos grandes debates, João sabia que não havia necessidade de endereçar perguntas a Tião, mas preservar sua condição, já naquele dia, de líder absoluta da corrida para a prefeitura.

Quem estava atrás, era quem deveria correr do prejuízo.

Deu no que deu.

Tião teve desempenho decepcionante e Salame saiu como o grande vencedor do debate, apesar do programa adversário propagar que o 23 teria “amarelado”, por não ter feito nenhuma pergunta a Miranda.

Naquele momento, a onça já estava amarrada, esperando apenas o dia do sacrifício.

 

Multiplicadores de discurso

 

Tão logo teve seu nome oficializado como candidato da chamada terceira via, ainda em junho, João Salame colocou, literalmente, o pé na estrada. Caiu nas ruas, percorrendo bairros, escolas, sindicatos, associações, residenciais, distritos e vilas.

Iniciou  cruzada para universalizar  seu discurso.

Em média, falava cerca de oito vezes ao dia, levando sua mensagem de esperança e proposta de mudança total à política de Marabá.

Por baixo, é provável que o candidato tenha discursado, diariamente, para cerca de mil pessoas, nas reuniões que agendava.

Em toda a campanha, espraiou o discurso para um universo de 60 mil pessoas, apenas em reuniões com a comunidade.

João só aprovou a realização de caminhadas, a partir do inicio de setembro.

Ele tinha nítida convicção de que o crescimento de sua candidatura devia-se aos discursos que fazia nas reuniões. E ele estava certo.

Foi grande a   pressão de candidatos a vereador, do marketing,  e de alguns assessores para que reduzisse as reuniões em favor de caminhadas. “Não, vai continuar assim, com as reuniões priorizadas. São essas reuniões que estão fazendo a diferença”, respondia.

Havia outro complicador para o candidato  trocar as reuniões pelas caminhadas.

Caminhadas exigem logística para transportar “formiguinhas”, compra de foguetes, visualização da candidatura com a confecção de bandeiras e afixação de cartazes. Salame não tinha  grana.

Tinha que levar a encrenca no gogó.

Nos últimos três dias de campanha, conversando com o candidato em sua casa, antes da gravação para o programa de TV, Salame revelou, prostrado numa poltrona: – “Não aguento mais fazer tantos discursos, estou cansado.”

 

Momentos de tensão

 

Em toda a campanha,  presenciei apenas três momentos de extrema tensão do candidato do Sim.

O primeiro, foi no período pré-convenção, inicio de junho, quando Salame articulava com extrema competência para fechar apoio do PMDB, PT, PDT, PV e outras legendas menores.

Se um daqueles  grandes partidos não estivesse  ao seu lado, certamente Salame não seria candidato.

Ele tinha consciência disso, portanto, o cuidado de preservar a condução do processo de convencimento sem ferir suscetibilidades.

Faltando poucas horas para fechar definitivamente o apoio de todas as sete legendas, rodava de mão em mão  pesquisa encomendada pelo empresário Moisés Carvalho Pereira, de Redenção, que mostrava Tião Miranda bem à frente dele, números bastante diferentes do que a Doxa mostrava, de dezesseis  pontos.

Nesse período, Tião Miranda tentava de todas as formas obter apoio do PMDB, chegando a oferecer a Jader Barbalho a vaga de vice em sua chapa.

Quando tomou conhecimento da pesquisa, João ficou estressado, temia pelo pior.

Os rumores nos bastidores davam conta de que Jader estaria fechando com Tião, mesmo depois de ter assegurado a Salame que o PMDB  caminharia junto com a chamada terceira via, da qual o candidato do PPS surgira como alternativa.

Foram horas de preocupação e muita conversa.

Um telefonema, dois dias depois, para Jader, acabaria o sufoco, com o senador peemedebista batendo martelo:

 Salame, as pedras já foram jogadas. Não se preocupe. Você é o nosso candidato, respondeu Jader,

 

No início de setembro, tocando a campanha no osso, sem recursos para abastecer veículos de candidatos a vereador que lhe pressionavam, flagrei Salame  pensativo, em sua mesa de trabalho na própria residência, no mais completo silencio.

Postado numa cadeira à sua frente, do outro lado da mesa, Ademir Martins, um dos coordenadores da campanha, lhe fazia companhia.

Ambos completavam um quadro da mais extrema solidão, silenciosamente contritos.

Ao adentrar seu escritório, por volta de dez da manhã, tentei quebrar  o clima saudando um “bom dia”. A  resposta de João veio apenas num aceno de cabeça, Ademir chegou a compartilhar a saudação, respondendo baixinho.

Salame permaneceu com as duas mãos segurando a cabeça, apoiando cotovelos sobre a mesa, de olhos fechados.

Somente depois de uns dois minutos, ele perguntou como estavam as coisas, e eu retruquei querendo saber o que se passava com ele

–  Estamos sem dinheiro para tocar a campanha, precisamos  ajudar os  candidatos a vereador. Está muito difícil…

A coligação “Mudança Pra Valer”, que sustentava a candidatura de João, possuía 152 candidatos a vereador. Até aquela data, Salame não conseguira doações de recursos para tocar a campanha e acalmar a ansiedade justa dos seus candidatos proporcionais, que permaneceram fieis a ele até a vitória, sem abandonar o barco.

A segunda situação estressante do candidato ocorreu na VídeoV, nossa produtora. Ele acabara de chegar pela parte da manhã para fazer gravações de rua com a equipe de TV.

Nem bem colocou os pés na sala de redação, alguém lhe telefonou dizendo que haviam postado no Facebook o print screen  de um panfleto  no qual a honra e sua vida pessoal estavam sendo  atacados de forma  criminosamente bárbara. Imediatamente o candidato pediu que alguém abrisse o Facebook e localizassem o perfil da pessoa que havia compartilhado o ato vergonhoso.

Quando Salame foi chamado para acessar o mural da pessoa que tentava fazer um viral do panfleto apócrifo, seu semblante se transformou. Havia indignação e revolta no rosto do candidato.

–  Na vida, as vezes eu engulo sapos e cobras, só não admito traição e ingratidão. Essas pessoas que estão soltando essa patifaria jamais poderiam fazer isso comigo…

Foi  quando soubemos que um dos parentes  da pessoa que cedia seu mural do Face para caluniar o candidato recebera especial atenção de João quando se encontrava desempregada.

Minha família é sagrada, minha mulher, meus filhos, ninguém tem o direito de fazer isso com a gente.

Imediatamente, Salame acionou os advogados da campanha e determinou que o ato criminoso fosse registrado na delegacia com pedido urgente de procedimento policial, abertura de ação por calúnia e injúria.

Esse foi, certamente, o pior dia da campanha para João,  não pela consequência  do conteúdo da safadeza no curso da sua candidatura, mas pela exposição de seus familiares,

 

Encontro com  Lula

 

Tão logo iniciou o  horário eleitoral no rádio e Tv, João Salame e seu vice Luiz Carlos receberam confirmação da audiência que o ex-presidente Lula lhes concederia no Instituto Lula, em São Paulo.

Num encontro de meia hora, os dois candidatos tiveram acolhida calorosa de Lula, que  relembrou dos tempos em que  percorria o Estado do Pará, durante a chamada Caravana da Cidadania, antes dele se tornar presidente do Brasil. Disse de sua empolgação em ver um dia o Norte do Brasil produzindo aço e seus derivados a partir da siderúrgica da Alpa em Marabá, e a hidrovia Araguaia-Tocantins em pleno funcionamento.

Deu força aos dois candidatos garantindo que gravaria uma fala para o programa de TV tão logo ele fosse liberado pelos médicos para trabalhar em estúdio.

Até aquele  dia, Lula havia gravado apenas pronunciamento para o programa de  Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo.

Fotografias e imagens do encontro, no entanto, foram feitas.

Precisávamos da presença de Lula nos programas de Salame/Luiz para empolgar a militância, comprovar à população que Salame era, efetivamente, candidato do Palácio do Planalto.

Nos discursos que faziam na cidade, os adversários  de João propagavam que Lula nem o conhecia, que ele estava mentindo quando dizia que era do time de Lula e Dilma.

Reação natural de quem sabe a força que o apoio político de ambos imprime a qualquer candidatura no país.

Quando nós recebemos na produtora as imagens de Lula abraçando João, tratamos de editar uma inserção de 30 segundos. O efeito das imagens foi imediato: os adversários deixaram de espalhar que Lula não conhecia João.

Mas  mudaram de tática.

O Lula recebeu ele como faz com qualquer candidato que se diz parceiro dele e  da Dilma, só que o João é do PPS, partido que faz oposição ao governo federal, e não terá apoio nenhum do governo se ganhar. Isso é conversa fiada dele. Por que eles não mostram o Lula pedindo voto pra ele? É porque o Lula não quer se envolver com quem não confia.

Essa versão acima foi espalhada imediatamente na cidade, como forma de contrapor às imagens de Lula abraçando João.

Precisávamos da fala de Lula, era importante naquele momento.

Um mês após João e Luiz Carlos terem sido recebidos por Lula, começamos a pressionar a coordenação da campanha, principalmente o candidato a  vice, Luiz Carlos, pedindo interferências no sentido da gravação de Lula.

Numa noite, João Salame conversou, pelo telefone, com a ex-governadora Ana Julia, acionando-a para que entrasse em campo à busca da fala de Lula.

Dois dias depois, Ana deu retorno: – Lula vai gravar amanhã!

Realmente, ele gravou.

Gravou no exato momento em que o adversário  intensificava inserções do presidente do PPS, Roberto Freire, insinuando a versão dele da total impossibilidade do candidato Salame ter qualquer tipo de aproximação com o governo federal.

Gravou no exato momento em que o marketing de Tião preparava um programa no qual tentaria mostrar que Salame estaria exagerando quando afirmava ter o apoio do governo federal e de dez deputados federais da base aliada, para promover mobilização em favor da Alpa.

A espionagem funcionou na campanha.

Do lado de lá, eu tinha informantes seguros de como o adversário atacaria nosso candidato.

Dia seguinte, ao saber da conclusão da  gravação do ex-presidente, a corrida era para receber o vídeo.

Foi um dia tenso, de muita correria, precisávamos rapidamente da fala de Lula.

Por volta de 22 horas, Salame repassou a mim, por SMS, o link e a senha para baixar o  vídeo.

Quando acessamos o link, informações adicionais pediam o uso de banda larga de pelo menos 5 mega.

Naquela hora, em Marabá, onde encontrar provedor com disponibilidade de rápida conexão?

A uma dificuldade, sempre aparecia em seguida a luz. Os ventos sopravam favoravelmente ao candidato do Sim.

Pela primeira vez, meu irmão Paulo André aparecia na produtora, exatamente quando tentávamos descobrir um ponto de Internet, naquela hora, com banda larga realmente larga. Ele nunca havia aparecido por ali.

Ouvindo a conversa, Paulo disse que tinha um amigo dono de provedor com 6 mega, mas não tinha o telefone dele.

Sem perder tempo, saiu para localizar o amigo.

Em vinte minutos, meu irmão  telefona dizendo que estava com o rapaz ao seu lado, naquele momento fechando  a lan house. Passamos as informações, e o dono do cyber disse que poderia entregar o vídeo por volta de 4 horas da manhã.

Mas enquanto falava  com o dono do provedor, nosso editor Wanderly fez alerta sobre  os cuidados que deveríamos ter no acesso ao link do Instituto Lula. Ele sugeria escalar alguém da equipe de TV para acompanhar o download, lembrando que os arquivos de vídeos do instituto seriam acessados. “Se alguém mal intencionado quiser destruir os arquivos, basta um simples clique”, disse.

Pedi a Paulo André que retornasse a produtora, lhe explicando em seguida nossa preocupação – e como todo mundo da equipe estava ocupada trabalhando o programa do dia seguinte, lhe pedi garantias de que o dono do provedor era pessoa confiável (em campanha política, a gente sempre imagina que o próximo é aliado do adversário!).

Paulo não tinha essa garantia, mas ele mesmo disse que ficaria no provedor até a hora em que terminasse o download do vídeo de Lula.

E assim ele fez, entregando o DVD com a fala do ex-presidente às  8 da manhã.

Ficou no cyber ate amanhecer, e pagou, de seu próprio bolso,  uma boa nota pela parada, apenas R$ 200,00, conforme pedira o rapaz do cyber.

Ficamos devendo esse gesto generoso ao querido irmão.

Quando a fala de Lula chegou à ilha de edição da produtora, Wanderly e Joel Camargo, nossos dois editores,  me chamaram para esclarecer por que o vídeo demorou tanto a ser baixado: altíssima resolução, imagem de cinema, razão maior pela exigência de pelo menos  5 mega de conexão.

 

Emoção de  João

Às 14 horas desse mesmo dia, chamamos João Salame para assistir ao programa que iria rodar à noite. Quando ele viu Lula no vídeo falando da importância do candidato do Sim ganhar a eleição para a prefeitura de Marabá, citando a luta pela Alpa e seu contentamento em de ter participado da pedra fundamental das obras de terraplenagem da obras, seus olhos  lacrimejaram.

Ali, na ilha de edição, deu para medir o quanto a participação de Lula no programa do 23 representava para João. Não pelo poder  eleitoral que a figura do ex-presidente agrega a qualquer campanha -, mas pelo transcendentalismo.

A fala de Lula resgatou uma identidade que João sempre teve com a esquerda do país, nos últimos anos afastada da vida do candidato pela sua decisão de apoiar candidaturas mais ligadas ao PSDB.

Deu para decifrar, perfeitamente, esse sentimento de “reencontro”, quando os olhos de João se encheram de lágrimas.

Em outro momento da campanha, Salame viria a chorar copiosamente.

Ocorreu por  ocasião do lançamento das propostas de governo do 23, para a Velha Marabá, durante solenidade ocorrida na Maçonaria,

Cercado da chamada “Velha Guarda de Marabá”,  familiares antigos ligados aos seus pais e à sua infância, João não se conteve quando, em discurso, relembrou o passado, a chegada do avô a Marabá em 1912, e sua vida de menino pelas ruas dos bairros  Cabelo Seco e da Santa Rosa.

Travou algumas vezes a fala, chorando, ao lado do pai, Roberto Salame.

 

Pesquisas  & Pesquisas

 

Nunca, em toda a história política de Marabá, fez-se barulho em torno de tantas pesquisas manipuladas.

A coordenação de marketing da campanha do 23 se baseava em dois institutos, porque seus números eram idênticos. Desde junho, ambos serviram de Norte.

Um deles era a Doxa, contratada por este blog para levar aos nossos leitores a tendência do eleitorado.

Durante toda a campanha, este blog publicou cinco pesquisas da Doxa, pagas por nossa empresa – CIC, Conjunto Integrado de Comunicação.

Quando o adversário iniciou a divulgação de seus números totalmente distanciados da realidade, João Salame gravou uma fala na qual ele dizia que havia pesquisas para todos os gostos na cidade, acrescentando uma frase que ficaria famosa: “mas faça você mesmo a sua pesquisa: converse com seu vizinho, seus amigos, seus colegas de trabalho…”

João teve essa sacada diante da realidade das ruas. Por onde se andava, dava para medir a preferência favorável a Salame em qualquer rodada de bate-papo que se formasse.

Quando a coordenação jurídica nos avisou de que o Ibope havia sido contratado por gente ligada ao adversário para divulgar pesquisa em Marabá, ficamos de antenas ligadas.

As ações nada republicanas do Ibope em períodos estratégicos  de campanhas, são conhecidas.

Precisávamos buscar uma “vacina” para o caso, já que o Ibope, por mais trabalhe  “os cinco pontos pra baixo ou pra cima”, dependendo de como se “conversa”  com seus prepostos  -,  os números do  instituto tem o poder de impressionar eleitores incautos.

Tivemos uma reunião na produtora para discutir o caso, e Sílvia disse que iria fazer uma pesquisa na Internet buscando casos do Ibope que se transformaram em escândalo nacional pelos seus  erros históricos.

Dia seguinte, tomando café da manhã com minha filha, ela disse que havia enviado pra meu  emeio o resultado do que havia encontrado sobre os erros do Ibope.

Imediatamente, publiquei neste blog o excelente material produzido pela filhota.

Dia seguinte, expandimos a “vacina” para o programa de TV, quando publicamos nova pesquisa da Doxa mostrando Salame à frente de Tião, pela primeira vez.

Só que a pesquisa do Ibope encomendada pelo adversário nunca foi publicada.

Os números do instituto mostravam Salame à frente de Tião, fator preponderante para que a chamada “puxada” não funcionasse. Ou seja, daria na cara demais alterar números adversos ao contratante.

Já  na fase final da campanha, quando o Diário do Pará publicou pesquisa do Ibope mostrando Salame doze pontos à frente de Tião, travou-se discussão dentro da coordenação.

Publicaríamos ou não os números do instituto que tanto batemos?

Eu e Cláudio Feitosa achávamos desnecessário  levar o Ibope para o programa de TV.

Salame argumentou que os números do instituto acabariam de vez com o ânimo da militância de Tião, além de influir o voto indeciso.

Publiquem o Ibope, e concluam com aquele famoso pedido para que a população faça a sua própria pesquisa, como temos feito em todas as pesquisas.

Sem nenhum alarde, com sugestão de texto enviado pelo Cláudio Feitosa, fizemos a publicação da pesquisa Ibope, que já era do conhecimento público graças a propagação feita pelos veículos RBA, rádio e televisão.

 

O valor da vitória

 

Fazendo análise dos méritos da estrondosa vitória do 23, não tenho dúvida em creditar 50%  do sucesso da campanha ao desempenho de Salame, seu discurso coerente do inicio ao fim e, principalmente, ao poder de convencimento que ele impôs em sua cruzada -, antes e durante a campanha.

Méritos restantes compõem um conjunto de  fatores: a poderosa coligação que ele construiu ao longo dos meses, unindo todas as tendências do PT, PMDB, PDT, PV e outros partidos menores; o trabalho dos candidatos a vereador e o marketing na TV e rádio.

Deputado Giovanni Queiroz, antes da campanha, cunhou uma frase que ficou marcada na memória de Salame, repetida sempre que o candidato tinha oportunidade de registrá-la: – “Quem tem discurso, ganha eleição”.

João tem discurso e sabe exercitá-lo, como poucos políticos atualmente no Pará.

Particularmente, eu já havia alertado, em dezembro de 2006, para que anotassem o nome de Salame, um mês após ele ter sido eleito, pela primeira vez, deputado estadual.

Agora, eleito prefeito de Marabá, terá as ferramentas necessárias à construção de uma imagem de político realizador.

Na segunda-feira, 8,  antes de começar a carreata da vitória, Salame virou-se pra mim, dentro de seu carro, olhando para a multidão que se concentrava em frente ao ginásio da Folha 16 (Nova Marabá), e disse:

– “Meu líder” (expressão como ele gosta de tratar amigos), mais do que saber perder, temos que ter humildade para saber ganhar. Quando ganhamos, precisamos ter muita capacidade política. E eu preciso levar essa compreensão   à exaustão, não posso errar. Não posso errar. A esperança em mim depositada pelo povo de Marabá é muito grande, e eu não posso errar.