Com a idade entrando na carne, todos os dias são para viver com a sensação de ser o último. Por isso, cada vez valorizando ensinamentos de Chico Xavier de estímulo a viver o hoje intensamente, “porque o ontem já foi, e o amanhã talvez não venha”.
Cada dia da semana tem a sua importância em grau maior do que o outro.
O sábado, nesse jogo de vivencia, é especial. É diferente dos demais.
Tão diferente que um dia o poeta, aquele a enxergar primeiro, mais artista que um cronista semanal, o elegeu tempo sublime do prazer.
E, ultimamente, o sábado ganha significados e adereços bem mais especiais, não sei por que.
Tenho a nítida sensação de que, no sábado, meus direitos são irremovíveis, porque, anterior ao domingo, o dia é totalmente isento.
Parece que nele tudo é permitido: acordar tarde sem imaginar estar à véspera da segunda-feira; imune aos remorsos das manhãs de domingo por não ter ido à missa matinal; exercer suas vontades distanciado de risco de achar estar fazendo algo errado.
Em outras palavras, o sábado nos permite usufruí-lo sem as culpas do dia seguinte, já que temos ainda o domingo para a recuperação da alma e do corpo.
Se quiser dar uma fugidinha à noite dizendo que vai jogar baralho na casa de amigos, até isso é aceitável. Agora, tente fazer esse movimento de lazer numa quarta-feira, tente!
É briga certa com a patroa.
Tudo pode, no sábado.
Até desejar a mulher alheia, mesmo que ela não esteja tão próxima.
Domingo é mais formal, e com a inconsequência dele anunciar a segunda, dia do bode.
No domingo, até a cerveja perde sua homogeneidade, desce travando – num prenúncio de que logo mais a semana começa e o dia, apenas como complemento, está disponibilizado para vivê-lo no seio da família.
Tenho um amigo, Leonizar (já falei dele Aqui. Aqui. Aqui. Aqui), poeta noturno dos anos dourados, que costumava saudar o sábado como o dia também propício a tudo: – “Até brochar, no sábado, é permitido”, dizia, com a sensibilidade de quem entendia das mulheres mesmo não sendo compreendido por elas.
Filosofava a lógica à moda dele de que brochar num meio de semana, imperdoável, sob aspectos moral e biológico, o desespero no limite da decepção.
E sábado gostoso é aquele no qual você enche a cara e esvazia a cabeça. .
Pense ir a um teatro aos domingos… Nostálgico demais, não tem pegada, falta alguma coisa. Parece que depois da peça nada mais acontece, a não ser ir dormir, esperando segunda.
No sábado, a peça, no palco, é degustada em toda sua plenitude.
O sábado democratiza até o tempo inacabado da sexta-feira. Ele começa quando você deixa o trabalho, esticando as horas deste dia como se fosse o inicio de uma prova maratonista, sem pressa, passadas preguiçosas.
Italo Ipojucan
21 de fevereiro de 2012 - 12:44Comentário preciso, irretocável.
Depois a Zélia em movimento singular, nos remete ao grande Vinicius, bela e saudável lembrança.
Há, a foto carnavalesca, dez.
Zelia Marques
18 de fevereiro de 2012 - 23:03só depois vi o link… já contemplada!
Valeu.. bom sábado!
Zelia Marques
18 de fevereiro de 2012 - 22:56Olá Hiroshi.
Há um poema de Vinícios de Moraes.. Chamado: Dia da Criação.
Quando li o texto… só lembrei disso… (como no sábado tudo pode … No sábado pode Vinícios de Moraes).
Dia da criação:
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Maria Oliveira
18 de fevereiro de 2012 - 20:03Saudações geográficas aos leitores e meus cumprimentos ao jornalista Bogéa. Aproveito a ocasião para parabenizá-lo pelo blog.
Lendo a postagem “No sábado, tudo pode”, não conseguir me conter a deixar meu comentário para este texto, que cai muito bem ao momento.
Após o desenvolvimento intelecto e racional do homem, este se deu conta que não lhes bastam a existência, pois as mesmas não o preenchem interiormente.
No vazio existencial de nossas vidas, que muitas vezes nos aturde, precisamos nos reinventar a cada dia. Como para muitas pessoas isso é difícil, para mulheres como eu, é quase impossível, rsrsrs…Mas, é claro, que no sábado, isso (não chega a ser uma obrigação e sim) é essencial para que alcançamos a plenificação íntima. Por isso, só por hoje irei me reinventar, me amar, me perfumar, me cuidar e só por hoje aceitarei o fenômeno incondicional da culpa, culpa pelo meus amores, meus desejos, meus cheiros, meus segredos, entendendo que a maioria dos seres humanos estão clamando por um sentindo, que quase nunca, se permitem viver.
Olhar Feminino
18 de fevereiro de 2012 - 18:16Se tivesse a opção curtir, eu ia curtir o comentário da Abigail, concordo com ela, principalmentee na parte que ela fala que muitas vezes não saimos com o homem que queriamos, mas como é sábado tudo vale. E hj eu irei arrasar!!!
Abigail
18 de fevereiro de 2012 - 14:49Nós, mulheres, também podemos tudo no sábado. Do nosso jeito…
Acordamos tarde também, o almoço pode sair depois das 2 da tarde que ninguém reclama. À tarde passamos no salão: cabelo novo, unhas feitas, depilação em dia, às vezes até uma massagem relaxante rola.
A noite nos arrumamos toda, colacamos aquele salto poderoso (podemos estar com o coração em frangalhos, mas o salto levanta tudo), caprichamos na maquiagem e saimos com as amigas, ou com a familia, nem sempre com o homem que queremos, pois às vezes o homem que queremos não nos quer…
O importante é se sentir gostosa, atraindo olhares desejosos, deixando nosso perfume passear pela imaginação dos homens, dando olhadelas safadas, insinuando no balançar dos quadris orgias enlouquecedoras… Só insinuando…
Também sabemos aproveitar o sábado quando queremos…