Bandeiras de todos os países hasteadas.

 

 

Ao ser aberta na sexta-feira, 15, a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio + 20, transformou-se num grande fórum de debates,  pontuados com atividades culturais sobre o futuro da humanidade.  A ideia é gerar soluções sustentáveis e apresentá-las aos chefes de estados que estarão desembarcando nas próximas horas na Cidade Maravilhosa.

No Aterro do Flamengo, as tendas dão voz a ONGs, minorias e estudantes. Tudo aqui é uma multicolorida concentração de línguas e costumes difícil não contaminar quem  vive cada momento dos acampados.

O evento é uma torre de babel, não só pela mistura de línguas e cultura do mundo, mas também pela desorganização.

Maravilhoso mundo desorganizado.

Carros circulando pela ciclovia, falta de informações sobre os eventos e caminhões ainda descarregando equipamentos para a montagem de estandes.

Em alguns trechos do Aterro é quase impossível passar, circular a pé. Há muito carro, na maioria dos casos, é preciso andar sobre a grama – o que de certa forma constrange quem assim  procede, por ser o ato algo ecologicamente condenável.

O barato total da desorganização  é a forma como, também, as pessoas tentam passar suas mensagens de busca por um mundo menos poluído.

 

Depois do fogo

 

Um senhor, aparentando 75 anos – depois,  soube seu nome, Zenildo Barreto, do Espírito Santo (foto) -, protestava contra as queimadas na Amazônia. De que forma? Ele simplesmente expôs, na beirada da ciclovia, pedaços de árvores destruídas pelo fogo.

Virou atração.

 

 

 

Tribos de verdade

O encontro dos povos indígenas mereceu maior público, na abertura da Cúpula dos Povos.

Nações índias de todo o mundo.

O  índio Otoniel Guarani, do Mato Grosso, transformou-se no tititi da abertura da Cúpula, na área reservada às manifestações dos silvícolas. Tudo porque ele colocou o dedo na cara do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, cobrando, do governo, a demarcação de terras indígenas no Brasil.

O lendário cacique Raoni também marca presença na CP (foto)

 

 

 

Presença de Lula

No final da tarde, quando a assessoria de  Lula  confirmou a presença dele na Rio + 20, coordenadores de ONGs alimentavam a possibilidade de levar o ex-presidente até o Aterro do Flamengo.

 

Real e irreal

Ouvindo declarações de participantes da CP, dá para perceber que parte da descrença e do desconforto de muitos que acompanham as discussões em torno da Rio + 20 está na distancia que separa dois mundos: o imaginário ou desejável  e o real.

Como tudo depende da boa vontade dos chefes de Estado, não há esperança de que seja possível sair do Rio de Janeiro com uma pauta positiva aprovada. No mundo real, mais de 1,7 bilhão de pessoas vivem com menos de U$ 1,25 por dia, cerca de R$ 75 por mês.

No texto da ONU, a frase “erradicar a pobreza é o maior desafio mundial” ainda não foi aprovado – e ninguém tem esperança de que seja. Os Estados Unidos só aceitam se puderem incluir a palavra “extrema” antes de pobreza.

O tão esperado desenvolvimento sustentável não será possível sem um aporte pesado de recursos.

 

Buscando a felicidade, sobre duas rodas

Ela já percorreu seis mil quilômetros, saindo de Bruxelas, na Bélgica, montada em sua bicicleta. A aventura começou há exatos doze meses e vinte e oito dias, quando Maud Bailly (foto), 27 anos, imaginou chegar a Rio + 20 percorrendo sete países.

Na rabeira de sua “magrela”, Maud colocou uma pequena placa com a mensagem “a caminho da felicidade”.

No Aterro do Flamengo, onde todas as tribos de reúnem em torno da Cúpula dos Povos, a belga é a mais nova atração – entre centenas e centenas de outras a merecerem a atenção do público.

 

 

Insustentável preço  dos alimentos

Percorrendo as áreas onde se concentram debates da Rio + 20, dá para perceber que o evento organizado pela ONU tem contrariado a política de sustentabilidade quando o assunto é refeição.

Fast-food, salgadinhos fritos e refrigerantes são os itens que se misturam às poucas opções de comidas orgânicas e naturais oferecidas nas praças de alimentação da conferencia. Os preços dos produtos fogem ao discurso do evento e segregam.

Muitas pessoas têm levado comida de casa, porque, no local, uma fatia de pizza custa R$ 12, o quilo da comida, R$ 52 e um cafezinho, R$ 5.

A Rio + 20, sob esse ângulo, poderia, sim, perfeitamente, ser chamada de hipocrisia verde.

Por que  parte da alimentação, por exemplo, da Cúpula dos Povos, não é originária da agricultura familiar, dos assentamentos da reforma agrária?  Certamente, assim fosse, o país venderia imagem da prática de uma economia ecológica.

O tema não foi colocado à discussão, na CP, apenas surge aqui como algo provocativo.