Gosto de chegar à casa de meus pais e ver o sempre bem humorado  João Bogéa com seu radinho de pilha. A cena reporta ao tempo em que ouvir rádio, para mim, era necessária função vital à sobrevivência

Assim como o ar que respiramos.

O rádio como fonte de informação e entretenimento.

Instrumento de  geração de prazer íntimo.

O gesto do pai rodando  sua casa com um  radinho à mão, perpetua o que ele sempre fazia,  nos cafundós dos castanhais: o rádio como companheiro inseparável.

Dele e dos demais castanheiros, deitados  em suas redes, à noite,  sob a luz de lamparinas, trocando prosa, tendo o  rádio em ondas tropicais como trilha de sustentação, reproduzindo músicas e notícias de todo o mundo.

Herdei de meu pai o amor pelo rádio. O fascínio que o transmissor transmite, literalmente.

Ao vê-lo, hoje, preservando a velha mania, choro    um pouco também por nostalgia. De um tempo ao qual  pertenci.

Choro, e permaneço na torcida por dias de mais poesia.