Ao post Declaração de Amor, comentários variados questionam a relação conflituosa do prefeito de Parauapebas, Darci Lermen (PT) com a Vale.

Uma pergunta feita por um dos comentaristas (Será que se a diretoria da VALE visse nesse gestor uma competência e boa vontade mínima que fosse, os investimentos dela na cidade não seriam maiores?), empurra o blogger a rejeitar essa tendência -, espalhada, inteligentemente, por dirigentes da própria mineradora, com objetivo claro de amainar espíritos e cooptar prefeitos verdadeiramente comprometidos com a vontade de suas comunidades.

Tanto é verdade, tornou-se moda, em pouco tempo, a expressão “bater de frente com a Vale, ninguém ganha nada”

Mas isso não é verdade. Só ganhou um pouco mais, quem bateu duro na poderosa empresa.

Relembrando.

1- O ex-prefeito de Marabá, Sebastião Miranda, é tido e havido como um dos que mais souberam aplicar corretamente recursos públicos e foi aliado de primeira ordem da Vale, tendo recebido, inclusive, número do celular pessoal do presidente Roger Agnelli para acioná-lo quando bem entendesse – o que ele fez algumas vezes diante de fatos inadiáveis.

Tendo um prefeito com fama de bom gestor e amigo do Rei, o que Marabá ganhou ao longo de quase oito anos de mandato de Miranda? Merreca! Merreca de primeira grandeza.

Levantamento mostra que durante o período do “Amigo Tião”, a Vale repassou a Marabá média de R$ 4,7 milhões, por ano, em convênios. Ou seja, R$ 32,9 milhões em quase uma década. Partindo do orçamento de 2009 do município da ordem de R$ 300 milhões, a mineradora revestiu para o município, do extraordinário lucro que registra anualmente explorando as riquezas do Pará, a vergonhosa parcela de apenas 1,56% do orçamento municipal em sete anos.

2- Uma semana atrás, o poster decidiu encarar a Estrada do Rio Preto, único corredor agrícola do município de Marabá, chegando até Vila União, de onde optou por embrenhar-se na estrada que leva ao rio Itacaiúnas, dali até a Vila Palmares, em Parauapebas. Era preciso percorrer a velha estrada em pleno inverno para sentir o problema de motoristas e pequenos proprietários. Foi uma aventura, sofrida, mas ideal para medir o tamanho de nossas demandas provocadas pela Vale (sobre isto, estou preparando três post).

O “Amigo-Tião” , exemplo de gestor sério, exatamente por fazer o discurso preferido da mineradora, perdeu a oportunidade de exigir de Roger Agnelli que a rodovia necessária ao transporte do cobre do Salobo, numa extensão de 140 km, tivesse seu trajeto dentro do território onde se encontra a mina, até Marabá. É verdade que o ex-prefeito ainda tentou convencer a companhia a fazer o fluxo rodoviário da produção do Salobo no sentido leste, mas perdeu a batalha.

Em seu front, Darci Lermen decidiu apoiar o movimento liderado pelo MST pela interdição da ferrovia, aproveitando, inteligentemente, o conflito para incluir a rodovia a ser construída, totalmente asfaltada, saindo por Parauapebas, numa extensão de 94 Km. Bateu duro e venceu uma disputa que terá desdobramentos futuros na melhoria da qualidade de vida de milhares de famílias domiciliadas em 27 assentamentos – e por onde os quais o poster passou na recente viagem à zona rural.

Está na hora de inversão dos papeis.

Ao contrário do que apregoam alguns de que “o município só perde ao brigar com a Vale”, não seria interessante perguntar o que seria da Vale sem as jazidas minerais que a transformaram na segunda mineradora do mundo? E se todos os prefeitos se unirem numa cruzada para exigir da mineradora a recomposição de todo o quadro de miséria que ela espalha pelos municípios paraenses, ela não abrirá com mais sinceridade seus cofres bilionários?

Nunca é bom esquecer: a Vale, desde quando foi privatizada, só aumenta seu faturamento. Ano passado, o lucro da mineradora atingiu R$ 21,279 bilhões, superando em 6,36% o apresentado em 2007, de R$ 20,006 bilhões.

Sem falar na evasão fiscal que a mineradora provoca aos cofres de quase todas as prefeituras, cujos detalhes, o blog começará a divulgar.

Além de distribuir migalhas, calando a boca dos amigos-prefeitos, a Vale não paga o que deve.

Sonega criminosamente.

Maior prova disso são os acertos que ela está sendo obrigada a fazer, na Justiça, de recuperação de tributos com algumas prefeituras.